Quando nos vemos imersos nas tramas da história presente, acaba sendo mais do que natural que procuremos realizar, na confusão interior da nossa cumbuca, algumas analogias entre os acontecimentos imediatos com uma miríade de acontecimentos passados que, de certa forma, ocupam um lugar de destaque na história, na memória dos povos e, inclusive, é claro, no borrão das nossas apagadas lembranças.
Tal prática, diga-se de passagem, é muito alvissareira. Podemos dizer, sem medo de errar, que procedendo desse jeitinho, estamos agindo de modo similar a ave de minerva, procurando nas luzes dos dias passados, alguma orientação para nossa claudicante caminhada na noite presente.
Porém, porque sempre há um punhado deles, muitas vezes quando fazemos isso, ao invés de procurarmos contemplar os acontecimentos passados enquanto capítulos da desventura humana sobre a terra, nós os vemos como se eles tivessem sido o capítulo final, definitivo, de algum enredo trágico e, desse modo, passamos a ver o momento atual como se esse fosse a antessala do Apocalipse, ou algo similar a isso.
Quando fazemos um trem desse naipe, ao invés de edificarmos uma compreensão mais sólida sobre os acontecimentos que ocupam um lugarzinho de destaque nas páginas da Mestra da Vida, passamos a ter tão somente uma visão fatalista de tudo, passando a encarar qualquer entrevero mais severo como se esse fosse a derrocada final e, qualquer um que tenha um cadinho mais que doze anos de idade, sabe muito bem que não é bem desse jeito que a banda da vida toca e, muito menos ainda, não é desse modo que o baile da história segue.
É isso que acontece quando a galera lê muitos panfletos políticos e manifestos ideológicos, travestidos com andrajos filosóficos. É isso que ocorre quando se faz pouco caso da leitura atenta e desinteressada das grandes obras da literatura universal.
Todo caboclo que faz isso crê, sinceramente, que seus rompantes criticamente críticos seriam a expressão clarividente da verdade presente, das luzes do passado e bem como de tudo que nos aguarda nas alvoradas futuras.
Quando deitamos nossas vistas cansadas nas páginas amareladas da história, ou nas laudas surradas dos noticiários, esquecemos que o tecido da realidade historicamente construída é uma densa trama composta por uma nada sutil mistura de causas materiais, formais, finais e eficientes e, todas elas, são demasiadamente humanas e cientificamente corretas.
Aliás, tanto o historiador Paul Veyne como o filósofo José Ortega y Gasset, nos lembram que da mesma forma que no teatro, na história não temos como mostrar tudo que está presente na realidade porque ela, a tal da realidade, é muito mais complexa que nossa capacidade de compreendê-la, porém, muito mais simples que nossa ignorância voluntária é capaz de admitir.
Por essa, e por inumeráveis outras razões, que a literatura é tão importante. Nesse caso, não tanto pelo conteúdo particular dessa ou daquela obra da autoria deste ou daquele autor, mas sim, porque elas nos ensinam a olhar para as tramas da vida, que compõem a tessitura da história, com um olhar mais amplo e profícuo.
Por esse motivo, o professor Olavo de Carvalho ensina-nos que a dedicação à leitura das grandes obras da literatura universal e nacional, seria um trem fundamental para nossa formação.
Abre parêntese: Eita! Acabei de citar o nome do homem que não pode ser nomeado. Já já aparecerá um e outro caboclo passando mal com dor de barriga. Fecha parêntese.
Enfim, por essas e outras que é importante sempre lembrarmos que tudo aquilo que está debaixo das luzes que emanam da silhueta do astro rei é o que é; vaidade. Vaidade das vaidades, puríssima vaidade destilada três vezes e batizada com funcho. Principalmente essa nossa barda tremendamente feia de acharmos que nossas convicções políticas escandalosamente precárias seriam a explicação definitiva para praticamente tudo aquilo que dá forma a tessitura histórica da realidade.
Fim.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
PARA LER OUTROS ARTIGOS – CLIQUE AQUI