Toda discussão sobre um fato histórico que começa indagando, de forma ameaçadora, se somos a favor ou contra isso ou aquilo, já começa tremendamente viciada.

Pra ser sincero, essa seria a questão que menos deveria interessar para alguém que, realmente, queira aprofundar os seus conhecimentos sobre algo, seja em matéria de história ou em qualquer outra seara do saber.

O que, de fato, interessa é procurarmos construir uma visão mais ampla possível sobre o que de fato aconteceu e, para tanto, devemos, necessariamente, procurar integrar todos os pontos de vista, convergentes e divergentes, que compuseram o cenário que estaria sendo estudado.

Não me refiro aqui às opiniões que os sujeitos, que vivem no momento presente, têm sobre esse ou aquele acontecimento. Refiro-me aos pontos de vista, aos projetos, planos e interpretações que eram apresentados pelos indivíduos que atuaram no cenário que esteja sendo investigado por nós.

Por certo que as visões que estes tinham dos acontecimentos eram conflitantes e parciais, mas eram discordantes e parciais em relação a algo que estava em curso e que eles, enquanto sujeitos históricos, estavam participando e, por isso mesmo, a verdade histórica não estará, de modo algum, numa das visões, mas sim, na trama construída por todas as perspectivas que compuseram os acontecimentos vivenciados por esse caiporedo todo.

É claro que, para fazer um estudo dessa envergadura, dá trabalho. Dá trabalho e exige que estejamos dispostos a nos surpreender, a conhecer inúmeras coisas que, bem provavelmente, irão colidir com nossa visão pré-concebida a respeito do que está sendo estudado por nós.

E tem outra: conhecer não é confirmar o que presumimos saber, mas sim, ampliar nossa visão e compreensão sobre o que deve ser sabido por todo aquele que se aventura pela pedregosa estada do conhecimento.

Por certo que fazer torcida em favor duma das visões, que fora construída a posteriori, é muito mais cômodo. Não há dúvida alguma sobre isso. Porém, tal atitude não irá nos trazer esclarecimento histórico algum. Irá apenas nos posicionar como uma peça oca e cega num tabuleiro sujo duma ignóbil partida de xadrez.

Enfim, é mais ou menos assim que nos encontramos no momento presente frente aos acontecimentos que foram encenados em nosso país em meados da década de 60 do século passado. Mais especificamente no ano de 1964.

Não há dúvida alguma que a torcida é muito grande, seja à esquerda ou à direita. Porém, como havia dito logo no início dessa breve missiva, o que realmente importa para quem tenha um mínimo de bom senso é procurar construir uma visão mais ampla e límpidasobre os acontecimentos complexos que ocuparam os dias dessa quadra de antanho.

Detalhe importantíssimo: sem uma boa bibliografia e acesso a fontes primárias não temos como sair da torcida politicamente esvaziada de profundidade histórica e, por isso, desprovida do senso das proporções.

De mais a mais, como nos ensina Francisco Varnhagen, o “Heródoto brasileiro”, a verdade seria a alma da história e, se não estamos amorosa e abnegadamente a procura dela, da distante e fugidia verdade histórica, nós estamos a procura do que então? Melhor nem dizer.

Mas, e quanto a verdade? O que seria isso? Bem, como nos ensina o poeta espanhol Antonio Machado, ela, a verdade, é o que é, e sempre seguirá sendo, mesmo que todos digam o contrário. Mesmo que todos digam o contrário.

Por isso, se nossa alma não for apequenada, procuremos amorosamente a verdade feito um Dom Quixote que não se cansa de procurar a sua amada Dulcineia de Toboso. Procuremos por ela com amor e sinceridade.

Fim. Hora do café.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 01 de abril de 2019. Natalício de Joseph de Maistre e de Roger Bastide. Falecimento do historiador Jacques Le Goff.

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