Humberto Silva Pinho

Por Humberto Pinho da Silva

É sabido que o povo não tem parecer. Não passa de mero repetidor do que ouve.

Acredita sem investigar. Crê na mass-media, e pensa consoante ela quer que pense.

Era assim no passado, e é ainda no presente.

Com bom grado aceita qualquer parecer ou ideia, desde que seja repetida com frequência e venha ao encontro de seus desejos e instintos.

Basta que lhe digam: lá fora, as elites pensam assim, para as massas acéfalas, acreditem piamente.

Em geral não vêem o que observam, mas somente o que querem que veja; pensam o que as figuras públicas querem que pensem. Pensam que pensam, mas não pensam.

Em: ” Notas Contemporâneas”, Eça refere-se a conhecido pintor parisiense, que lhe disse: – “A multidão vê falso” e continuou: – “Vê: em Portugal sobretudo pela aceitação passiva das opiniões impostas, pelo apagamento das faculdades criticas, por preguiça de exame – o publico vê como lhe dizem que é. Se amanhã o Diário de Noticias ou outro órgão estimado, declara que o Hotel Aliança, ao Chiado, é uma maravilhosa catedral gótica, e insiste isto, na local e no folhetim – e numa semana, o publico virá fazer no Largo do Loreto semicírculos estáticos, e verá, positivamente verá as ogivas, as rosáceas, as torres, as maravilhosas esculturas do Hotel Aliança. “

O parecer do vulgo é inconstante: pensa, vê e ouve, o que os fazedores de opinião, querem que pensem, vejam e ouçam.

As elites levam o povo, que é favorável a certa causa, ser amanhã – levado por demagogos, ter opinião contrária.

Não foi Cristo condenado, apesar do povo ser-lhe favorável, a ponto de O proclamarem Messias, e a autoridade romana dizer: que não encontrou motivo para O condenar?!

Bastou sacerdotes hipócritas falarem ao povo, para este mudar de opinião.

Disseram: o povo quer… e quis mesmo…

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