Certa feita seu Tibúrcio resolveu sair de sua tapera à beira do Iguaçu velho de guerra pra ficar de varagem pelas ruas e ruelas da nossa amada cidade que, diga-se de passagem, não é muito grande não, mas, para ele, homem simples, de vida pacata e pensamento acurado, está de bom tamanho. Está “mir de bão”.

Diz ele que cidade muito grande é bestagem. As pessoas deixam de agir como gente; não mais se conhecem; deixam de se reconhecerem como tal e, pra piorar, ficam em qualquer canto só cutucando aqueles tais de celulares, como se aquilo fosse doce de abóbora com leite. Mas não é. É dose para matar burro mesmo.

Enfim, noves fora zero, nessa última volteada dada por seu Tibúrcio, tive a grata satisfação de me encontrar com ele e ter um dedinho de prosa com o velho.

Aliás, um dedinho de prosa com ele sempre é uma alegria, porque sei que acabarei sendo brindado com uma porção do tesouro da imorredoura sabedoria popular.

Comentei com ele sobre o despeite com que muitos jovens, hoje, tratam os mais velhos, em especial os seus pais e professores. Não entrarei, aqui, nas minúcias do que descrevi ao meu bom amigo, porque apenas contei-lhe o que, de certa forma, todos nós sabemos e contamos uns aos outros com diferentes tintas e adornos.

Bem, após ouvir-me atentamente o velhinho me disse que isso seria sinal de que a nossa sociedade estaria cansada de si mesma; e está cansada porque não sabe mais o que deve ser feito. Nós desaprendemos a viver de modo decente. Inventou-se tanta moda, quis-se mudar tanto que hoje, ao que parece, ninguém mais se reconhece com semelhante; e isso é grave. Muito grave.

Uma sociedade, segundo ele, que não mais ensina aos jovens que render o devido respeito aos pais é um mandamento divino é uma sociedade que se embruteceu, de cabo a rabo, com a sua soberba. E não mais ensina porque isso é um ensinamento divino. Tudo em nome do tal Estado laico (laicismo).

E tem outra, disse-me o velhinho: um jovem que não sabe honrar os seus mestres acaba, inevitavelmente, desonrando a si mesmo.

E o mais gozado nisso tudo, disse o velho Tibúrcio, é que, pelo que entendi, quem ensinou esse tipo de atitude desonrada foram os adultos; particularmente aqueles mestres, autoridades e pais que insistentemente cevaram as tenras gerações para que elas cultivassem a tal atitude crítica revolucionária.

É triste, mas é isso o que me parece, disse seu Tiba. Por essas e outras, meu filho, que eu prefiro ficar lá no meu canto, à beira do rio, bem longe dessas doideiras modernosas que vocês tanto amam.

Pois é. O velho disse-me isso e partiu, pé por pé, com um alforje nas costas e um palheiro no canto da boca, rumo ao seu pedacinho de sanidade, bem longuinho deste manicômio que se tornou nossa sociedade.

Putz! E o pior que não deu tempo de convidá-lo para um café. Fica pra próxima.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 15 de abril de 2019. Natalício de Leonardo Da Vinvi e de Émile Durkheim.

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