Humberto Silva Pinho

Por Humberto Pinho da Silva

 

Quando estive em Roma, conheci sacerdote, que estava hospedado no Convento anexo à Basílica de Santo António, na via Mariana.

Conversei demoradamente, vários dias, com ele, durante as refeições, que tomamos em comum. Era frade, e origem germânica, mas vivia no Brasil – exprimia-se em português, correctíssimo, – e encontrava-se a passar, em serviço, alguns dias, em Roma.

Entre as longas e instrutivas conversas, que tivemos, veio à baila, a razão da rápida expansão, das Igrejas Evangélicas, mormente seitas, que nessa época, proliferavam, assustadoramente, por todo o território brasileiro.

Admirei-me da difusão, tanto mais, que em Portugal, havia, apenas as Igrejas Evangélicas tradicionais, saídas da Reforma ou reformadas anos depois.

Respondeu-me, que a seu parecer, a divulgação, foi em parte, facilitada pelo clero católico, porque fecharam-se com Cristo, no templo, e na sacristia. Pregavam mal, quando pregavam.

Como mostrasse interesse no tema, explicou:

“Nós, sacerdotes católicos, temos formação superior. Exprimimo-nos com termos inacessíveis para grande franja de fiéis. Depois estamos imbuídos de tradições… Raramente “damos” (ou dávamos,): Cristo. O Cristo do Novo Testamento tal qual Ele ensinou.

_” Os evangélicos, na maior parte, são pastores sem formação académica. Exprimem-se com vocabulário popular, ilustrando com imagens acessíveis e de fácil compreensão.”

Fiquei a pensar no que ouvi, tanto mais, que Frei António, dissera-me, ao apresentá-lo, que era religioso experiente e sabedor.

Ao ler Frei Luís de Sousa, a:“Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires” ( vol. I -pag. 87/88- Ed. Sá da Costa –  1946,) deparei com a opinião do Santo Arcebispo sobre formas  de pregar:

“ O estilo de pregar era mui diferente do que usava na corte ( o intento sempre nele foi o mesmo) deixou flores de retórica explicações agudas e conceitos  elevados que servem lá para orelhas delicadas e entendimentos mimosos para as penetrar e fazer efeito a doutrina medicinal a modo de bom guisado, e entregou-se a todos termos chãos e doutrina clara que servisse para todos; porque esta cumpria à maior parte dos ouvintes”

Como se vê, o clero brasileiro, não soube, nessa ocasião, “descer” ao nível do povo simples, como fez o nosso Bartolomeu dos Mártires, quando saiu da Corte.

Bem disse, Vieira, no Sermão da Sexagésima, pregado em 1655: “É possível que somos portugueses e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?”

No parecer desse franciscano, que encontrei em Roma – já passaram algumas décadas, – um dos motivos da expansão das seitas, no Brasil, foi porque o estilo – dos católicos, – empregado, nas homilias, não era apenas “escuro”, era “negro”, com o Padre António Vieira, dizia dos pregadores, que usavam, no seu tempo, o estilo “culto”.

Será que o franciscano tinha razão?

 

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