Imagem/reprodução

José Carlos Correia Filho*

Ser professor(a) é amar o saber, ser apaixonado pelo conhecimento, e principalmente adorar vê-lo se espalhando, se multiplicando, despertando curiosidades, deixando boquinhas abertas, olhinhos brilhando, cabecinhas coçando e linguinhas mordidas enquanto sai uma continha, uma frase, enquanto uma página é lida, uma novidade abre novos horizontes.

Ser professor(a) é, antes de explicar, entender. Entender aquela preguicinha, aquela sonolência, aquela desculpinha esfarrapada da tarefa comida pelo cachorro. É entender que indisciplina e rebeldia, muitas vezes, são apenas e tão somente um grito pedindo por um pouquinho de atenção. É entender que nem sempre as coisas saem como o planejado, que tudo muda numa simples perguntinha.

Entender que mesmo tentando fazer o melhor, erramos, somos criticados, e às vezes até agredidos. Difícil entender certas coisas mas, fazer o quê? Voltar na próxima aula e seguir…

Ser professor(a) é, antes de ensinar, aprender. Aprender a se reinventar, aprender a mudar suas práticas, a se adaptar, pois são tantos problemas, tantas diferenças, tantas dificuldades, tantos medos. E não apenas deles, dos estudantes, mas nossos.

Nossos medos, nossos erros, nossas imperfeições, nossas falhas, nossa incompetência às vezes em lidar com as coisas, nossa falta de paciência, nossa excessiva mania de querer tudo do jeito que a gente planejou. Aprender que por mais que se deseja salvar o mundo, muitas vezes não conseguimos sequer salvar a nós mesmos da frustração.

Ser professor(a) é doar-se a quem sequer conhecemos, é atender como médico(a), psicólogo(a), conselheiro(a), amigo(a), ouvinte, advogado(a) e tentar resolver questões que não estavam nos livros e textos lidos nas Faculdades, nos manuais do professor dos livros didáticos, nas formações oferecidas.

Mas é também, muitas e muitas vezes, precisar de um colega, de um aluno, de um pai ou mãe, de uma sociedade que nos atenda assim, pois muitas vezes também estamos cansados, aflitos, oprimidos, desesperados. E quem lembra de nos ouvir? Um abraço, uma palavra de consolo e força, um incentivo, um “bom dia” fazem tanta falta às vezes…

Ser professor é trabalhar muito, na escola, em casa, no carro, no almoço de família aos domingos. Sempre é tempo de ter uma nova ideia, de lembrar daquele que não tirou 6,0 ainda, de preparar uma nova atividade, de corrigir, de anotar, de marcar mais uma página, baixar mais um vídeo. Não temos assessores, nem carro oficial, nem gabinete chique, nem sequer um computador que nos tenha sido dado.

Nosso salário, na maioria dos casos, não chega a dez por cento de um Senador, Deputado. Não temos prestígio de político ou de superstar da moda. Não temos “foro privilegiado”, não temos auxílio moradia, paletó, nem passagem de graça para viajar. Não temos nem mesmo o respeito que as autoridades recebem. Mas muitas vezes a sociedade nos culpa, nos chama de “vagabundos”, se protestamos”, de privilegiados, se há carro novo no estacionamento da escola, de marajás, se pegamos 15 dias de recesso em julho.

Ser professor(a) é ser, acima de tudo, um(a) resignado(a), um(a) lutador(a), um corajoso(a). E hoje em dia é encarar ataques, de estudantes que descarregam em nós suas frustrações e ausências, de famílias que nos tratam como monstros ao contrariar seus filhos, da sociedade que vê em nossos direitos os privilégios que não enxergam nos que mais ganham do que oferecem, de governos que nos usam como bodes expiatórios para suas ingerências e incompetências administrativas.

E, finalmente, ser professor(a) é, com tudo isso, a melhor missão que Deus poderia ter me dado. Parabéns a todos e todas, colegas professores e professoras, Deus abençoe a cada um, que todos(as) tenham muita saúde, muita força, muita coragem, e muita fé. Podemos não ter toda a valorização que merecemos, mas nunca duvide, temos muito mais importância do que imaginamos.

Viva todos os professores!

*Professor de História

Compartilhe

Veja mais