
por Dartagnan da Silva Zanela (*)
Prudência e canja de galinha, como nos ensina o velho ditado, nunca fizeram mal a ninguém. Agora, a falta da primeira tem feito um estrago danado na vida de muita gente.
Os antigos nos ensinam que a prudência é a mãe de todas as virtudes, porque ela nos convida a arrancar nossas ações do guiamento das sombras da ignorância para que possam ser alumiadas e orientadas pelas labaredas da sabedoria.
E sabedoria não é, de maneira nenhuma, aquela coleção de colóquios aguados que encantam e iludem muitos, sem incomodar ninguém.
Sabedoria, antes de qualquer coisa, é o cultivo amoroso pela procura da verdade, onde quer que ela esteja, para que possamos conhecê-la e, conhecendo-a, permitir que ela redima nossos equívocos passados através das nossas decisões no momento presente, projetando, desse modo, uma nova orientação para as nossas escolhas futuras.
Por essa razão, ela jamais será um conjunto de frases insossas, reverberadas por pessoas ocas, cheias de presunção e ornadas com títulos toscos e diplomas sem substância.
Digo isso não por maledicência ou por ojeriza frente aos papéis pintados que abundam em nossa sociedade, nada disso. O que digo é o seguinte: o valor dos diplomas e títulos não está neles em si; quem lhes atribui valor são os seus portadores, e “c’est fini”.
São nossos feitos e realizações como pessoa que dizem quem nós somos, não os diplomas que ostentamos, muito menos os cargos e sinecuras que ocupamos.
Nesse sentido, podemos dizer que não é à toa nem por acaso que o Brasil seja a “terra do carnaval”, tendo em vista que o ano todo, todo o santo dia, nos fantasiamos com plumas e paetês para parecermos pessoas que não somos – e que, no fundo, nem nos esforçamos para ser – para aparecer bem na fita dos nossos círculos de convivência social.
Se fôssemos pessoas que, de fato, cultivassem a virtude da prudência, não nos permitiríamos ser engambelados pelas pompas das superficialidades que nos rodeiam.
Se, realmente, meditássemos com a devida e indispensável serenidade sobre o que significa a expressão “pelos frutos conhecereis”, seríamos muito mais céticos diante das fanfarronices da classe política e menos crédulos diante daqueles que dizem ter uma resposta cabal e final para tudo.
Claro, nós não somos assim, não é mesmo? Algum conhecido, com certeza, mas nós, jamais…
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(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO”, entre outros livros.