Quando era adolescente, lá pelos anos oitenta do século passado, toda a gurizada da minha geração, eu inclusive, sonhava em um dia poder comprar um sobretudo para sair à noite nas quebradas. Desejávamos muito ter um trambolho desse por causa do filme “Highlander – O Guerreiro Imortal (1986)”, onde o protagonista, Connor MacLeod, interpretado por Christopher Lambert, aparecia em inúmeras cenas com seu sobretudo – ou seria uma capa de chuva [?] – pronto para fazer aquilo que ele deveria fazer com sua katana, porque, ao final, poderia haver apenas um.

E o filme teve continuação, virou série de televisão e, inclusive, desenho animado; e esse que vos escreve, dentro do possível, tentava acompanhar a saga de Connor MacLeod através dos séculos. Digo, através das telas.

Esse produto da produção cinematográfica e televisiva do século passado nos apresenta inúmeras possibilidades de reflexão; reflexões essas que, se Deus permitir, e minha preguiça não me amarrar, pretendo com o tempo compartilhar com o riscado de meu sabre escrevinhante. Vamos ver quem sobrevive no final: se a boa vontade, da qual me esquivo; ou a preguiça, à qual me entrego.

Mas hoje gostaria de partilhar um ponto de vista sobre essa aventura cinematográfica. Refiro-me, especificamente, ao prémio que era prometido ao vencedor deste festival cabeças decepadas. Àquele que vencesse era concedido, pelas entidades que controlavam a disputa secular, a capacidade de ler os pensamentos das pessoas e, com isso, influenciar os líderes mundiais. Ou seja: algo próximo de uma onisciência e da onipotência divina.

Connor vence a peleja, decepa a cabeça de Kurgan, o malvadão da história, ganha esse dom e, junto com isso, perde sua imortalidade e se torna capaz de gerar filhos (sim, os imortais eram estéreis).

Bem, como todos nós sabemos, todo herói que se preze acaba sempre se ferrando três por quatro. A amada de Connor faleceu e ele não pode realizar o senho de ter filhos. Junto com essa sua tragédia pessoal, temos a possibilidade de destruição da terra devido ao fato de a camada de ozônio da Terra ter sido destruída. Aí, MacLeod usa seu dom conquistado para salvar a terra construindo um escudo protetor que acabou dando poderes descomunais a uma mega corporação, gerando inúmeros outros problemas para a humanidade; e é justamente aí que o vento faz a curva.

MacLeod não apenas era um cara com uma inteligência fora dos parâmetros; ele era praticamente onisciente, e relativamente onipotente; e, mesmo assim, ele acaba colocando os pés pelas mãos porque nós, meros mortais, mesmo que sejamos abençoados – ou amaldiçoados – com um trem desse, ainda somos o que somos: seres imperfeitos, crentes de que somos o bicho da goiaba cósmica.

Tal mistura, de limitação demasiadamente nossa com presunção fundamentalmente humana, sempre termina em desastre. Alguns desastres são pequenos e afetam apenas as cercanias da nossa parva existência; já outros são  descomunais, desgraçando a vida de incontáveis viventes, dessa e das próximas gerações.

A história, a mestra da vida – tão pouco ouvida – nos brinda com inúmeros exemplos dessa mistura fatal. Mistura essa que, devido a nossa natureza decaída, leva-nos uma vez ou outra a cair naquela que foi a primeira tentação da humanidade: “…e sereis como deuses”.

Não somos deuses, apesar de acreditarmos que sabemos como corrigir o mundo. E mesmo que tivéssemos a onisciência, a onipotência e a onipresença divina, não seríamos capazes de gerar algo minimamente bom, pois, como nos ensina o velho Friedrich Hayek, a sociedade e a criação, em seu conjunto, tem uma gama tão complexa de informações que nem mesmo os mais sábios dos sábios seriam capazes de abarcá-la e decodificá-la.

Mesmo uma única regra moral, um tabu que seja, com todas as suas idiossincrasias, tem uma sabedoria acumulada mais profunda que a soma de todas as maquinações de todos os intelectuais, com suas ideologias revolucionárias e reformistas, como bem nos lembra Theodore Dalrymple.

Aliás, a personagem interpretada por Christopher Lambert é um exemplo perfeito disso. Connor MacLeod era um homem bom, com as melhores intenções e com um poder descomunal. Ele queria apenas o bem de todos e, como admoesta-nos São Paulo, acabou gerando um mal que ele jamais quis.

Nós, de nossa parte, graças a Deus, não temos o dom que a personagem do filme tinha, porém, infelizmente, todos nós, cedo ou tarde, acabamos, com nossas boas intenções, metendo os pés pelas mãos e terminamos por nos cancelar uns aos outros, com ou sem sobretudo.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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