Todos nós estamos carecas de saber – alguns metaforicamente; outros, literalmente – que toda vez que procuramos nos dedicar à compreensão de um determinado assunto ou, ao menos, nos inteirar a respeito de algo que nos é apresentado [maliciosamente] pela grande mídia, ou por um sujeito qualquer, faz-se necessário que procuremos nos informar com mais de uma fonte. Ao menos duas, para que possamos ter, pelo menos, um ponto de comparação. É assim que manda o figurino dialeticamente costurado.

Porém, todavia e, entretanto, como que frequentemente nós procedemos? Na pior das hipóteses, adotamos, de cara, o ponto de vista que seja compartilhado majoritariamente por todos os membros da nossa trupe, onde a mútua confirmação acaba nos dado a impressão de que estamos certos e, por isso, sentimos em nosso íntimo alguma segurança psicológica para contrabalancear com nossa total falta de segurança cognitiva.

Já num cenário mais refinado, chique e elegante, podemos até nos informar sobre o que é dito por um e outro ponto de vista, para fazer a pose de caboclo ilustrado, porém, fazemos isso já tendo diante de nossas ventas que a versão certa, muito mais do que certe, totalmente certa, seria aquela que é comungada por nós e pelos nossos pares, independente da veracidade ou não do dito cujo do ponto de vista.

Seja no primeiro caso, ou no cenário apontado, o que temos é um rito de autopersuasão coletiva que arvora apresentar-se à sociedade como sendo o fruto dum esforça sério para compreensão da realidade quando, na verdade, não passa de um fingimento histriônico que se oculta por trás de palavras bonitas como “criticidade” e “alta cultura”.

Para sabermos se estamos juntos nesse balaio, basta que indaguemos, para nós mesmos, no silêncio de nossa consciência, bem longe dos olhos curiosos do mundo contemporâneo, quantas vezes nós procuramos, mesmo que por mera hipótese, dar razão para as ideias e pontos de vista contrários aos nossos para podermos melhor compreender as razões e ideias que contrariam nossos pontos de vista, quantas?

Se formos minimamente sinceros chegaremos a uma resposta que não teríamos coragem de dizer em público. Se não formos, iremos fingir que chegamos a ela mesmo assim, porque, nessas terras de tupinambás, fingir modéstia sempre pega bem, principalmente em determinados círculos.

Independente da forma como nós iremos responder a essa indagação marota no salão de nossa alma, penso que seria importante confessarmos para nós mesmos a verdade porque, ao confessarmos, estaremos reconhecendo que estamos [sempre] diante do olhar onisciente de Deus, que ilumina nossa consciência e que, por isso, pode vir a alumiar nossa vontade. Se estivermos dispostos a fazer isso, iremos reconhecer o quão obtusa é, muitas vezes, a nossa forma de encarar a vida e bem como a realidade onde nós estamos instalados.

Para nos auxiliar na correção desse desvio de nossa alma, se assim for de nossa vontade, não precisamos, de cara, mergulhar nas mais refinadas obras filosóficas, nem nos entregar ao divã de um psicanalista. Não que isso não teria alguma valia. Nada disso. Apenas penso que podemos começar por um caminho mais modesto e, quem sabe, relativamente mais eficaz.

Ao invés de adotarmos prontamente o mesmo ponto de vista que é partilhado pelos nossos iguais, podemos agir, perante as opiniões que nos chegam da mesma forma que Sherlock Holmes, esse fascinante personagem de Sir Arthur Conan Doyle, e realmente investigar o assunto como se realmente fôssemos um detetive entregue aos caminhos da aventura.

Tal atitude, com toda certeza, não iria salvar o mundo de vilões megalomaníacos como o arqui-inimigo de Holmes, o professor James Moriarty, mas provavelmente irá nos auxiliar, e muito, para nos libertar desse leviano círculo vicioso de opinar sobre tudo, sobre os mais variados assuntos sem, ao menos, conhecermos algo com um mínimo de razoabilidade.

Enfim, é elementar, meu caro Watson, que o caminho é simples, agora, ter boa vontade para segui-lo são outros quinhentos.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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