Mauro e Vilma integrantes do Conselho dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Pinhão | Foto: Naor Coelho/Fatos do Iguaçu
Por Nara Coelho
Mudanças de atitudes farão a queda das barreiras físicas
No Brasil, segundo o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 6,2% da população tem algum tipo de deficiência, a região Sul é a que abriga a maior população de portadores de deficiência, 5,4%. Contudo, uma grande parte que tem deficiência física, é ativa, produtiva, inclusive sendo consumidoras, prontas e com vontade de aproveitar o que o mercado tem a oferecer. Mas, as barreiras arquitetônicas impossibilitam que o deficiente físico ou pessoas com redução de mobilidade cheguem até os estabelecimentos comerciais e ou de ofertas de serviços e até mesmo em órgãos públicos.
CAMPANHA DE SENSIBILIZAÇÃO
O Conselho dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Pinhão, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente Urbanismo e Habitação e Assistência Social, realizou junto ao comércio local e aos órgãos públicos uma campanha de conscientização e principalmente sensibilização sobre a dificuldade e até mesmo da impossibilidade das pessoas com deficiência física ou redução de mobilidade tem para irem a diversos estabelecimentos comerciais e órgãos públicos.
Segundo o advogado Mauro André Krupp, membro do Conselho, a luta pela acessibilidade é a questão de maior importância dentro do Conselho, pois a ela está atrelada a garantia de vários outros direitos, “O Conselho nasce por causa da necessidade de lutar pela acessibilidade. As pessoas com deficiência estão no Conselho para lutar pelo direito de acessar a cidade, ou seja, os serviços, o comércio, a diversão. Como a cidade é cheia de barreiras, essas precisam ser quebradas, e a proposta foi mostrar às pessoas essas barreiras, pois às vezes as pessoas que tem facilidade de mobilidade não se dá conta das barreiras”, explicou o advogado, que tem a visão reduzida de um olho e a perda total de outro.
GUERREIROS
Mauro lembrou que essa luta do Conselho é antiga e começou com algumas pessoas que não se entregaram à sua deficiência e decidiram enfrentar a cidade.
“Precisamos lembrar que hoje o Conselho esta aí, lutando pelos direitos, mas essa luta na verdade começou quando o Carlos e o Jovael, o Nivaldo, (falecido recentemente) e o Américo, que hoje está cursando a universidade, não se entregaram à sua deficiência,e saíram e enfrentaram a cidade e se depararam com a falta de acessibilidade, mas continuaram lutando, inclusive foi o que me deu força para enfrentar a minha situação quando a fatalidade me atingiu.
Eles tiveram a coragem de quebrar o tabu, pois era comum as famílias esconderem as pessoas portadoras de deficiência, a sociedade só passa a se modificar quando o problema é exposto, destacou.
BARREIRA ATITUDINAL
As maiores barreiras não são as físicas, as das escadas e calçadas inexistentes ou precariamente feitas, é a atitudinal, ou seja, a mudança de olhar das pessoas em geral, é a percepção do outro sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações.
“A principal barreira que percebemos nas cidades é a barreira atitudinal, é a atitude das pessoas que impedem que as pessoas que tem deficiência física possam acessar a cidade, pois quando a barreira atitudinal for transposta, as pessoas vão lá com as marretas e makitas e transformam o local derrubando as barreiras físicas”, destacou Mauro
PARTICIPAÇÃO DE MUITOS
A chefe de gabinete, Vilma Ferreira kitcky, que também é membro do Conselho, contou que “foram feitas várias ações, a cidade está crescendo e a gente não tem visto mudanças, ou seja, mesmo tendo a lei que ampara, exige que as novas construções sejam feitas dentro do padrão da acessibilidade, os profissionais da área como os engenheiros e arquitetos ainda não se preocupam com isso”.
O Conselho com a ajuda das instituições que atuam na área e junto as pessoas com deficiência, foram às ruas, aos comércios e repartições públicas e colocamos as pessoas diante do problema para que elas visualizassem, sentissem a dificuldade dos portadores de deficiências”.
Em alguns comércios as pessoas até fizeram as rampas, mas foi um fazer por fazer. ”Inclusive fomos a comércios que fizeram rampa de acesso ou calçadas rebaixadas, mas que foram feitas sem o menor critério e solicitamos às pessoas por exemplo que conduzissem o cadeirante pela rampa e ela percebeu o quanto era difícil, pois é preciso ter critério, é preciso que todos empresários e engenheiros, pedreiros, sintam, se conscientizem que é um direito das pessoas poderem ir e vir e com segurança e em boas condições” destacou Vilma.
A ideia foi sensibilizar, fazer as pessoas se colocarem no lugar do outro e ver que é necessário que aconteçam mudanças atitudinais e que elas levem à queda das barreiras físicas. Mostrar aos empresários que eles estão deixando de atender e perdendo um público que consome e gasta tanto quanto as demais pessoas. São pessoas que tem algumas dificuldades, porém estão inseridas na sociedade e tem o direito a ir e a vir como as demais e que seu acesso a todas as repartições públicas e espaços urbanos está garantido inclusive na lei.
Eles lembram que todas as pessoas têm direito de ser independentes, se locomover, se precisarem, ser tuteladas e que a cidade tem que garantir o acesso a tudo, a todos.
PREFEITURA
Vilma contou que eles foram até a prefeitura e que ela mesmo sempre fica constrangida quando o Carlos vai à prefeitura, pois ele não consegue chegar até o gabinete, o prefeito tem que vir até ele. Constrangida porque não há acesso ao gabinete, o prefeito tem que vir até ele, que as instituições foram à prefeitura e fizeram o prefeito inclusive vivenciar a dificuldade de ter que transportar um cadeirante ao segundo piso.
“O prefeito Odir já vem discutindo com a equipe uma forma de mudar essa situação, e na ocasião ele expressou que se sente constrangido quando um portador de deficiência chega lá e tem dificuldades estruturais ou mesmo se sente impedido de chegar a ele ou a qualquer outro setor e que precisa mudar essa situação”.
NÃO É SÓ UM IDEAL, É UMA LEI
O trabalho de sensibilização foi feito durante todo o mês de novembro e junto com as visitas aos estabelecimentos, além da conversa e das pessoas terem sido colocadas para vivenciar as dificuldades de acessibilidade, foi entregue um folder que cita alguns pontos sobre a acessibilidade e que deixa claro que promover a acessibilidade não só uma ideia é uma lei.
A lei da acessibilidade 1.098/2000 é clara no seu primeiro artigo que ela garante que todos têm direito à acessibilidade, que devem ser supridas as barreiras e obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reformas de edifícios e nos meios de transportes e de comunicação.
Mauro ressaltou: ”Se existir no município uma só pessoa que tenha dificuldade, a cidade tem que se mobilizar e garantir a essa pessoa o direito de ir e vir”.