Construir qualquer coisa que valha, dum modo geral, exige sempre um montão de trabalho. E trabalho, como todos nós muito bem sabemos, exige tempo. Tempo  que, por sua deixa, desde eras imemoriais, é um dos ativos mais preciosos que existe – se não for, de certa forma, o de maior valor.

Lembro-me disso, nesse momento, porque, um dos elementos mais quistos entre nós é o desperdício do dito cujo e o estímulo à destruição de tudo que foi estabelecido com o vagar dos século sem nome do que, na atualidade, é tido como sendo a mais refinada expressão do tal do progresso humano. E fazemos tudo isso pouco nos importando com as consequências desta nossa escolha imediatista e atabalhoada.

Permitam-me um exemplo muito simples disso que estou apontando: o filósofo francês Émile-Auguste Chartier(vulgo Alain), diz-nos que seria um grande erro toda essa inquietação que muitos nutrem em desejar que as instituições de ensino se foquem naquilo que é essencialmente atual. Tal ênfase seria, sem nada pôr, sem nada tirar, uma grande bobagem.

Segundo ele, isso seria, ao mesmo tempo, um desperdício de tempo e a destruição da herança cultural que necessitou de séculos para ser edificada; que recebemos de mãos beijadas e que, por sua deixa, serve de base para a sustentação da sociedade contemporânea.

Sim, bem provavelmente muitos de nós já devem ter ouvido ou lido, aqui e acolá, sentenças que afirmam que devido a grande evolução dos sistemas de informação e diante de todos os progressos técnicos e científicos recentemente conquistados, as instituições de ensino deveriam procurar focar suas energias e atenção no ensino das novidades do momento para que as crianças não fiquem para trás.

Bem, de cara, temos aí uma encrenca que avacalha formidavelmente a formação dum indivíduo. Se o que nos apoquenta é a velocidade das mudanças técnicas e das descobertas científicas, quem disse que o que hoje é tido como sendo o suprassumo do desenvolvimento não será, em curtíssimo prazo, superado, refutado e, por isso, descartado?

Aliás, meu caro Watson, como é sabido por todos, muito do que hoje se apresenta como sendo uma grandessíssima novidade não passa dum amontoado de patacoadas sem grande valor ou serventia. Basta parar para matutar para constatar essa obviedade ululante.

Por isso, lembra-nos Alain que, as instituições de ensino deveriam focar-se em transmitir para as tenras gerações o conhecimento que foi consolidado através do tempo, que sobreviveu com o passar das centúrias.

Diante dessa observação, penso que podemos, cada qual com seus alfarrábios, matutar sobre o desperdício de tempo que tão alegremente realizamos na formação das tenras gerações e, inclusive, frente a edificação da nossa personalidade.

Sim, as novidades do momento têm sua importância, no aqui e agora, mas, com o passar do tempo, perdem sua relevância rapidamente, partindo-se com o vento dos séculos, restando apenas o vazio duma alma desordenada, inquieta e ansiosa para consumir a última moda e, dessa forma, encontrar algum alento, mas nunca conhecimento e, muito menos, a tal da sabedoria e do esclarecimento.

Resumindo: desperdiçou-se tempo matando tempo perdendo-se conhecimento devido à vaidade do momento.

Agora, vejamos doutro ponto. Tudo o que aprendemos, por exemplo, com Homero, Platão e Aristóteles; Sêneca, Marco Aurélio e Plotino; Shakespeare, Cervantes e Santo Agostinho; Padre Vieira, Gregório de Matos e Machado de Assis, não passará e nos formará solidamente.

Pouco importa as novidades, inventos ou descobertas que sejam apresentadas na última hora, as obras desses senhores, e doutros mais, não perderão o poder de nos educar, de nos edificar em espírito e verdade.

Dito doutro modo: haverá um tempo em que celulares poderão não mais ter valor, mas as obras desses gigantes permanecerão; e é naquilo que é durável que a educação deveria fundar-se, como nos ensina Johann Goethe, não no que, por definição, é passageiro.

Resumindo e terminando: aprender a manusear uma quinquilharia tecnológica não carece de muito tempo. Graças a Deus. A ferver o “ki suko” criticamente nas ruas também não. Agora, se apropriar dessa herança cultural, meu amigo, são outros quinhentos e, por isso, leva tempo.

Fim. Hora dum bom café.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 02 de maio de 2019.

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