O tal do tempo é um safado mesmo. Digo, não o tempo. Não. O pai das rugas está de boas. Ele não tem culpa alguma nesse cartório. O grande safado da história, que pretendemos assuntar, é esse nosso jeito atravancado de perceber os fatos que preenchem o vazio da nossa existência socialmente insonsa, politicamente torta e moralmente turva.

O negócio é meio doido, sim, pero no mucho. As vezes damos uma importância do caramba para determinados acontecimentos que tem uma relevância ridiculamente ridícula; noutras tantas, desdenhamos fatos que são duma importância imensurável; as vezes, achamos que algo incomum seria uma reles banalidade e, e vez por outra, tratamos banalidades como se essas fossem o suprassumo do suprassumo do multiverso extraordinário.

Sim, com toda certeza podemos encontrar e apresentar uma penca de explicações, razoáveis ou não, para esse tido de situação e, a relevância que atribuímos a este ou aquele esclarecimento possivelmente acabará caindo na mesma arapuca.

Ciente disso, tentarei nessas linhas tortas identificar um fio dessa cama de gato, um pedacinho de farpa dessa encrenca para – quem sabe – apontar um caminho que possa nos ajudar a sair desse labirinto que construímos em nossa cumbuca.

Dito isso, que siga o baile. Há muitas e muitas primaveras passadas, um sujeitinho chamado Sidarta Gautama havia ensinado para os seus que a grande maioria dos problema que nos atormentam estariam tão só e simplesmente em nossa cuca e que, mesmo problemas reais, que se apresentam a nós com dimensões colossais, teriam apenas uma extensão bem diminuta e que, apenas acabam se aparentando com monstros porque nós acabamos por pintá-los dessa maneira em nossa moringa presunçosa e pretensamente pensante.

E como é fácil cairmos nesse tipo de cilada. E, é claro, quando mais temores imaginários vão tomando conta de nossa alma, mais fragilizada vai se tornando nossa personalidade, mais e mais limitada torna-se nossa capacidade de agir de modo realmente eficiente, eficaz e efetivo em nossa vida e no mundo.

Na verdade, sem nos darmos conta, acabamos perdendo toda e qualquer possibilidade de controle que poderíamos ter sobre nossos caminhos, e perdemos o nosso domínio para esses medos imaginários, para os temores imaginativamente exagerados que permitimos que deitassem profundas raízes no íntimo de nosso ser.

    

E não há nada nesse mundo que os donos do poder mais adoram que uma multidão desprovida de meios e ação, moral e espiritualmente desarmada para, assim, facilmente manobrar em prol de seus sórdidos propósitos.

Uma multidão de pessoas assim, desfibrada, por certo e por óbvio, são facilmente manipuláveis e, assim o são, por ansiarem puerilmente que alguém as proteja de seus medos, pouco importando quais sejam as reais dimensões desses temores.

Pior! Os Senhores das moscas azuis, que a tudo querem controlar, podem sugestionar toda ordem de temores para as fragilizadas almas e, desse modo, torna-las mais dóceis à realização de seus projetos.

Não estou dizendo que não devemos ter medo de nada. Não. Isso também seria uma grande bobagem. O que digo é que devemos nos questionar sobre os nosso medos, que temos o dever de nos perguntar sobre o que tememos e sobre o tamanho real dos males que temos de enfrentar e procurarmos ter coragem para tal, pois, se não ousamos fazer isso é porque, bem provavelmente, não apenas somos escravos, mas gostamos de o sê-lo e não conseguimos viver sem ter um sinhozinho pra chamar de nosso.

É isso. Não temamos inquirir nossos medos. Façamos isso para deixarmos de ser tão facilmente manipulados por aqueles que não medem esforços para nos infundir outros pavores para apequenar nosso espirito e avacalhar com nossa vida.

Façamos isso. Ainda há tempo. Ainda há.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 21 de abril de 2020, dia da fundação da cidade de Roma e de Santo Anselmo.

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