Humberto Silva Pinho

(Continuação)

Por Humberto Pinho da Silva

Também Manuel Tavares Vieira, na: ” Tribuna Pacense”, de 27/X/2023, ao comentar a trasladação, afirma: ” Não se percebe muito bem esta súbita vontade política de sepultar mais uma vez quem já estava sepultado, no ” frigorífico da glória”, como apropriadamente Eduardo Lourenço apodou o Panteão. Concedo que Eça nunca esteve verdadeiramente entre os seus, nem na vida nem na morte, mas se o Alto de S. João e o jazigo de Santa Cruz do Douro eram “exílios”, o Panteão passará a ser desterro. Eça não vai ser trasladado, vai ser desterrado. (…) Assim a questão resvalou para o campo político – mediático colocando-nos perante o triste espectáculo de ver Eça de Queiroz no centro de uma querela que ele seria o primeiro a farpear. 

E há muito que criticar, para lá da aparente falta de cuidado da FEQ. Em primeiro lugar a atitude arrogante do poder politico instalado em Lisboa que julga saber interpretar a vontade de quem já não pode ter vontade. As ” honras de Panteão” como pomposamente se lê na resolução da Assembleia da Republica, duvido que alguma vez Eça as quisesse.”

E conclui, e bem: ” Se queremos homenagear Eça façamo-lo lendo as suas obras, estudando-as, degustando a fina ironia com que observava a sociedade portuguesa do séc. XIX, não muito diferente da actual. Essa é a forma de o mantermos vivo. Engavetando-o no Panteão Nacional estamos finalmente, a sepultá-lo.” Manuel Tavares Vieira – ” Tribuna Pacense”.”, 27/10/2023

Entretanto foi criado o Movimento de Cidadãos Baionenses, que pretende lutar contra a trasladação do escritor para o Panteão. Já se realizou uma manifestação popular, junto da estrada de Tornes, no dia 5 de Janeiro. Pretende-se, também, interpor, uma providência cautelar.

Não me compete tecer comentários, se é ou não justo retirá-lo do seu jazigo, para Lisboa, o leitor tirará, certamente, as conclusões. Que é inteira justiça, o escritor – como outros, de igual valor, mas esquecidos, como Camilo – permanecerem no Panteão, não tenho dúvida; mas haverá o direito de o fazer, como foi feito? Não sei.

Termino com uma curiosa declaração de Dona Maria das Dores, neta de Eça, e Marquesa de Ficalho, publicado a 18 de setembro de 2003, no: ” Jornal de Gaia”, referente à situação moral, em que se encontrava o Pais, nessa época:

Acho que está tudo maluco. As raparigas estão completamente malucas, despem-se até aos pés. Acho uma coisa horrorosa. Acho que há muito menos valores, há muita corrupção, pelo menos é o que dizem. As pessoas não têm palavra. Honra? O que é isso hoje? Haverá? Acho que não há muita, e tenho pena que seja assim. 

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