Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

PARA HISTORIAR SEM LAMENTOS – parte I

É atribuído a todo “bom” professor de história o adjetivo de crítico, como se tal palavra apontasse para a mais elevada das qualidades humanas.

Bem, critico é uma daquelas palavras que, no vocabulário atual das pessoinhas com aguda consciência [crítica], não quer dizer muita coisa que vá além dum azedume rancoroso. Ou seja: dizer que uma pessoa é crítica é praticamente afirmar que ela é uma espécie de Che Guevara de jaleco, um revolucionário de meia pataca, um militante atordoado ou, simplesmente, a mistura de todas essas tranqueiras numa mesma carcaça humana. Só isso e nada mais.

Seja como for, é mais do que patente para qualquer pessoa minimamente razoável que essa tal de criticidade não é e nem deve ser a marcar de distinção duma pessoa que dedica os melhores dias de sua vida à Mestra da Vida, a tal da História. Na verdade, tal adjetivação, é, em si mesma, a mutilação de tão nobre ofício e a total deturpação do magistério da referida disciplina.

Por isso, penso no rastro de Humberto de Campos para quem, a mais importante virtude que deve ser cultivada por um historiador não a dita cuja supracitada, mas sim, a paciência.

Goste-se ou não, sem ela, não se tem como colher bons frutos das frondosas árvores do bosque da memória e da cultura, pois, somente o tempo os regala para aqueles que delas se aproximam com prudência.

Enfim, como todos sabem, a última virtude das almas que se reconhecem e que são reconhecidas como críticas é a paciência, haja vista a suas desastradas conclusões apresadas e bem como as suas disparatadas e imprudentes ações.

PARA HISTORIAR SEM LAMENTOS – parte II

É impressionante como a dita cuja da História frequentemente tem seu nome invocado por aqueles que desejam justificar suas patacoadas políticas.

Mais curioso que isso é o fato de que essas almas sebosas que tanto a invocam em suas conjurações ideológicas são invariavelmente pessoas que alimentam em seu coração um profundo desdém pela impudica dama tida como a Mestra da vida.

E é claro que os carniças alienados dessa estirpe, que se dizem profundamente politizados, dirão que não e, inclusive, baterão os pesinhos no chão, nervosinhos feito uma cutia no cio se alguém ousar dizer o óbvio: que eles definitivamente não entendem patavina alguma do babado histórico.

Detalhe: vê-los assim, nesse estado de mimimi crítico, é uma cena tão dantesca quando hilária e, pois isso, imperdível.

Bem, são coisas da vida e, seja como for, os ranhentos ranhetas que assim procedem, o fazem com sinceridade. Isso mesmo! Pasmem! Alienadamente fazem pirraça crendo candidamente que estão montados na égua da razão. Mas como isso é possível? Como?

Assim: essa gente nada varonil imagina que a repetição mecânica de meia dúzia de cacoetes mentais juntamente com um punhado de lugares comuns fortemente ideologizados seja um troço equivalente ao dito cujo do conhecimento histórico. Tadinhos.

Tadinhos porque eles aprenderam que isso é assim mesmo e, tal aprendizado, versado na aquisição de palavras-chaves ideologicamente formatadas, além de deturpar a percepção de si e da realidade, dá também, e principalmente, a vaidosa sensação de que se obteve uma espécie de revelação que os coloca acima de todos os demais mortais e, do alto de sua estultice adquirida e devidamente diplomada, olhar para todos e defecar regras e conselhos mil, justificando toda essa birosca na conta da tal da História que, quanto mais citada, mais distante ela se torna das palavras regurgitadas levianamente por esse tipo de gente que inconfessadamente a ignora para melhor instrumentalizá-la em seu favor.

(*) professor, cronista e bebedor de café.

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