Francisco Carlos Caldas

“O ideal é que as pessoas cumprissem o seu dever, e suprissem  necessidades, de forma  livre e sem dever.” (Abelardo Maranhão).

Bem resumido as pessoas poderiam ser divididas em duas categorias, os que têm medo e não gostam de dívidas, e os que não têm medo e até gostam ou não estão nem aí com o  ficar devendo.

No campo do humor há até piadas de gente rezando em frente de instituições financeiras, e diante de indagação do por que daquilo, o orante diz, “é que meus pais estão aí enterrados”, como em cemitérios.  E também de gente contando vantagem de ter vários cartões de crédito, prestações a pagar e honrar, e onde até o ter crédito na praça atuar como um elevador de autoestima e faceirice de ter crédito e nome limpo. E há ainda o contexto e tristeza dos que devem uma vela para cada Santo e um maço pro capeta.

Este escriba foi criado, com muitas privações e limitações e teve formação educacional de que dívidas, o comprar e vender fiado não ser um bom negócio. Neste último aspecto, tem lembrança das figuras que foi comum ter em comércios, de um cidadão na praia, óculos de sol e bem acompanhado de mulher bonita, com o dizer este não vendia fiado; e um outro, feio, seco, arreganhado, meio que nem o Jeca Tatu, com o dizer que ele vendia fiado.

Da minha infância e juventude para cá muitas coisas mudaram, mas os ditos pelo estadista norte-americano Abraham Lincoln (1809-1865), de que “Não poderás criar estabilidade permanente baseado em dinheiro emprestado”, “Não evitarás dificuldades se gastares mais do que ganhas”; “Não criarás a prosperidade se desestimulares a poupança”, continuam válidos e atuais, e ainda que a realidade contemporânea, seja, da farra, festa e altas lucratividades e enriquecimentos do Capital Financeiro, na linha de que nesses aspectos “os rios e riozinhos, sempre correm para o mar”.

É claro que algumas atividades, com lavouras, indústrias, empreendimentos de vulto, sem financiamentos na prática é difícil de se operar, mas em qualquer coisa, há que se fazer muitas contas, para se avaliar e ter consciência, de que está indo bem, de que não está no time do “Se bobeando Futebol Clube”, do meio que trabalhando só para os outros, ou na linha do servilismo, feudalismo e do até a volta de uma quase escravidão. Já ouvi falas de juros baixo de 5 a 7% ao ano, de contratação de seguros  de 4 a 5% como um bom negócio, mas só aí, já dá 9 a 12% ao ano. E isso em cima de um milhão de reais, tem um custo de R$90.000,00 a R$120.000,00 por ano, o que representa R$7.500,00 a  R$10.000,00 por mês que se tem que pagar.

Aposentados, pensionistas e empregados, são muito assediados para empréstimos, compras em prestações a perder de vista, e empréstimos consignados se não tivessem um limite que gira em torno de 35%, um montão de gente, quando chegasse o final do mês, ficava com quase nada por receber, como se isso fosse um bom negócio, ou que o daqui a três meses ou ano que vem as coisas vão melhorar.

Este escriba desde criança e com mais de 40 anos de advocacia, tem muitas histórias tristes de dificuldades, quebradeiras, empobrecimentos de pessoas, por não terem feito  reflexões  como esta e o  “Faça as contas” como dizia um tal de Nho Diolindo Pereira, que um meu falecido irmão citava. E já fez várias enfoques sobre dívidas, entre outras, “ABC das prevenções e cartilha do bem viver”,  “Dívida, Dívidas… Quem são e onde estão os credores?”, “Calça de Veludo e Bunda de Fora”, “Sarna para se coçar”, “Se bobeando Futebol Clube”, nas edições de junho/1998, fevereiro/1999, julho/2017, 12/04/2021, 12/07/2021, respectivamente no Jornal “Fatos do Iguaçu”.

E lamentavelmente ainda a gente se depara, com muitas ostentações, vida de aparências, padrões de vidas incompatíveis com receitas, molezas, ócios destrutivos  e situações muito tristes, constrangedoras e evitáveis.

Por essa e outras, que somos adeptos da simplicidade, de que certas privações e sofrimentos são muito úteis  a formação da personalidade, caráter de uma pessoa; da Educação Financeira, nas Famílias, nas Escolas, das mesadas para crianças e que façam algumas atividades de pequenos trabalhos, da formação educacional em cima das premissas “do grão em grão a galinha enche o papo”, do “devagar e sempre”, para não serem açodados, não adquirirem a doença da ansiedade e sim aprenderem ganhar e dar valor a dinheiro e coisas como bens, e como muitos grandes empresários começaram a vida, engraxando sapatos, vendendo picolés, ou  de pequenos negócios, entre outros, Silvio Santos, José Alencar,  Daniel Keith Ludwig, este último, norte-americano (1897-1992), aquele do mal sucedido Projeto Jari,  que quando criança, aos 9 anos de idade vendia pipoca, engraxava sapatos e que comprou um pequeno barco naufragado por 75 dólares, que consertou e alugava por cerca de 150 dólares, aí começou a sua fortuna.

E  para encerrar a reflexão, o registro de que a maioria dos empresários e lideres de sucesso, não vêm de material  Berço Esplêndido, mas de muitas dificuldades, peleias, na linha da cana que só vira açúcar depois de passar por muitos apertos, e da estação primavera (das flores), que vem depois do tempo atravessar os rigores do inverno, e que não pode ser os rigores do inferno que é a vida dos endividados inadimplentes e quem quer que sejam os credores e executores.

(Francisco Carlos Caldas, advogado,  municipalista e CIDADÃO)

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