Por Bruno Zampier

Os pés que um dia caminharam sobre as águas, cravados sobre o madeiro. As mãos que curaram o cego e se ergueram aos céus em súplicas pelos homens, transpassadas pelos pregos, a golpes de martelo. A cabeça, com que imaginou e criou as mais belas parábolas para ensinar os caminhos da virtude, agora coroada de agudos espinhos. Sua boca sedenta, com que outrora proferiu o Sermão da Montanha e anunciou o amor de Deus pela humanidade, agora degustava o vinagre.

Quando esteve no deserto, em jejum e oração, nem mesmo o demônio ousou tocar-lhe o corpo. Limitou-se a tentar convencê-lo a pecar, inutilmente. Mas os homens, ignorantes e maus, lhe cobriram de chutes, tapas e socos. Com que direito?

Neste mundo, os maiores assassinos e estupradores, quando comparecem diante dos tribunais, estão acompanhados de defensores. Os políticos mais corruptos, que roubam nações inteiras, contratam uma banca dos mais gabaritados e caros advogados. Mas Cristo não teve ninguém que levantasse a voz para defende-lo, conquanto a lei romana já estabelecesse que todo acusado tinha direito a defesa. Foi preso à noite, o que configura outra ilegalidade segundo a lei da época.

Vítima de um julgamento ilegal, humilhado injustamente, açoitado cruelmente, assassinado sem piedade, diante do riso e do escárnio dos carrascos e da satisfação de seus inimigos.

Eis a verdade do mundo, destroçada.

Será que se viesse hoje, tudo se repetiria? A pergunta não é nova e Dostoiévski já tratou dela em Os Irmãos Karamazóv. Nela, Cristo novamente é condenado.

Dostoiévski tinha razão. Pois a verdade não muda com o tempo, nem o seu veredito e nem seu destino. A verdade de ontem não mudou porque um novo dia amanheceu e nem passou a ser mais amada do que era outrora. Ela continua dizendo as mesmas coisas e continua sendo condenada e ignorada. Toda vez que uma nova religião é criada a toque de caixa, sob o gosto da freguesia, ou quando negligenciamos a verdade que conhecemos, estamos nos juntando à plateia dos escarnecedores e indiferentes. Jesus prometeu a vida eterna aos mansos, aos humildes, aos pobres de espírito, aos puros de coração. Mas no mundo, tudo que vemos é vingança, ambição, ostentação, vaidade e pornografia. Quem se encoraja a sacrificar seus pecados e sofrer a dor de sua perda? “Amamos muito tudo isso” diz o slogan.

Mas, cá entre nós, é uma vida depressiva, angustiante, suicida. Se nunca estamos satisfeitos é porque no fundo não temos paz. Só há uma saída: sacrificar nosso velho eu, junto com o Cristo. Se as mãos pecam, que sejam pregadas na cruz. Se a cabeça peca, que seja ferida com os espinhos. Se os pés nos levam por caminhos ruins, que sejam transpassados. Se com Ele morrermos, com Ele ressuscitaremos [Romanos 6:8]. Feliz Páscoa!

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