Uma das grandes pragas do mundo contemporâneo é essa fissura que temos de estarmos a par de todos os burburinhos noticiosos que circulam pelo mundo digital a respeito de questões que são apresentadas a nós como sendo [supostamente] de suma importância para a nação e, em alguns casos, para todo o planeta.
Esse vício não é de hoje, mas ele acabou sofrendo algumas transformações que o potencializaram. Podemos dizer que, de certa forma, essa enfermidade da alma, que agrilhoa-nos às efemeridades midiáticas, foi se adaptando ao novo ambiente digital para melhor cumprir a sua função pérfida de corromper, um cadinho a mais, a nossa decaída natureza.
Até o início do século XXI, de um modo geral, as pessoas tinham hora marcada para consumir seu psicotrópico informativo. Todo santo dia os lares brasileiros reuniam-se em torno da fogueira televisiva para ouvir os bardos e xamãs oficiosos que, por meio dos telejornais, muniam os reles mortais, como eu e você, com as pautas devidamente recortadas que deveríamos consumir, para podermos ter o que “assuntar”, de forma “crítica”, com nossos amigos e colegas. E, por discutirmos tais assuntos, acabávamos cultivando uma sensação tosca de onipotência ao mesmo tempo em que a nossa impotência era significativamente ampliada, mas, mesmo assim, todos, praticamente todos, entregavam-se garbosamente às delícias dessa obscena masturbação mental sem ejaculação cerebrina, como se estivéssemos realizando um sacrossanto ato cívico.
Hoje, ainda há aqueles que pautam suas prosas com base naquilo que aparece nos principais telejornais deste triste país, porém, há muitos outros que procuram, através das redes sociais, ou por meio de alguns canais [no youtube] de sua predileção, catar aqui e acolá uma e outra frase feita, alguma expressão de efeito, juntamente com um e outro cacoete mental, para, também, sentir-se imerso numa atmosfera coletiva alienante que lhes dê a sensação de que estão com os dois pés na realidade, apesar de estarem com a cabeça nas nuvens, só porque um punhado de pessoas repetem as mesmas pautas, os mesmos termos e cacoetes, que acabam formando uma câmara de eco que cala e anula a anêmica consciência de todo aquele que se entrega a esse tipo vil de desfrute informacional.
Uns repetiam e repetem, ponto por ponto, aquilo que assistiram, embasbacados, no telejornal de sua predileção, entre um e outro entretenimento vazio; outros, por sua deixa, não ficam pra trás e reverberam, sem a menor cerimônia, as expressões de efeito retórico que lhe foram atiradas nas ventas pelas mídias digitais enquanto, sorumbaticamente, e de maneira incauta, circulam pelas redes sociais, ou mergulham num vídeo qualquer, sucinto e nervoso, que lhe foi sugerido pelo seu mefistofélico algoritmo.
Tanto os primeiros como os segundos, sem se darem conta, todo santo dia, comungam do mesmo abjeto banquete noticioso desse profano santuário de Babel, empanturrando-se de informações sem substância alguma e, ao mesmo tempo, crendo, candidamente, que estão ampliando o seu horizonte de compreensão.
Por isso penso que é preciso que procuremos lembrar e, se possível for, jamais esquecer, que da mesma forma que uma ideologia não é, de jeito maneira, um critério de veracidade, aquilo que é destacado histrionicamente pela mídia, seja ela grande ou pequena, não é de modo algum sinônimo de que isso seja relevante e atual.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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