Apresentação Colégio Julio Moreira e Escola Cipriano | Foto: João Camargo

Peça de teatro ensina crianças a se defenderem dos abusadores

Por Nara Coelho

O Ministério da Saúde considera violência sexual os casos de assédio, estupro, pornografia infantil e exploração sexual. Dentre as violências sofridas por crianças e adolescentes, o tipo mais notificado são o estupro, 62,0% em crianças e 70,4% em adolescentes.

Entre janeiro a junho de 2018, o Ministério dos Direitos Humanos registrou 8,5 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em todo o país por meio do Disque 100 . Em 2017, em todo o ano, foram mais de 20 mil ocorrências.

OS NÚMEROS

Entre os 8.581 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes registrados na primeira metade do ano passado, 47,99% foram praticados contra meninas e 40,70% contra meninos, em 11,31%, o gênero não foi informado. A maior quantidade de agressões foi registrada contra crianças de 4 a 7 anos, que correspondem a 21,47% das vítimas. Em 17,76% dos crimes as crianças tinham até 3 anos.

Os casos diminuem à medida que as crianças crescem: 20,01% das vítimas têm de 8 a 11 anos; 17,43% de 12 a 14 anos; 11,69% de 15 a 17 anos. A exploração sexual, quando se paga para ter sexo com a pessoa com menos de 18 anos, é responsável por 16,08% dos casos.

Como nem todos os crimes sexuais contra a população de 0 a 17 anos chegam a ser denunciados, o número total de casos deve ser muito maior. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea estima que apenas 10% dos casos são notificados no país .

O AGRESSOR

Em 71% dos casos o agressor é um familiar ou alguma pessoa próxima da vítima.

Segundo o Ministério da Saúde,a maioria das ocorrências, tanto com crianças quanto com adolescentes, ocorreu dentro de casa e os agressores são pessoas do convívio das vítimas, geralmente familiares. O estudo também mostra que a maioria das violências é praticada mais de uma vez.

Para Itamar Gonçalves, da ONG Childhood Brasil, faltam no país ações de prevenção que trabalhem com temas como o conhecimento do corpo, questões culturais de gênero e em especial as que dizem respeito aos padrões adotados de feminilidade e masculinidade.

“Para mudar este cenário é importante criar ambientes que sejam acolhedores e inclusivos nos espaços frequentados pelas crianças e adolescentes, nas famílias, escola, igrejas… Um trabalho de prevenção se faz com informação, especialmente sobre o funcionamento do corpo, a construção da sexualidade, visando empoderar nossas crianças”.

TRABALHANDO O TEMA

A secretária municipal de Assistência Social de Pinhão, Madalena Zanardi, explicou que a questão é trabalhada o ano todos pelos diversos setores da Secretaria Municipal de Assistência Social, que no mês de maio é dada uma ênfase maior ao tema, pois em Pinhão os números de casos de abusos sexuais são grandes.

PROJETO BRINCADEIRA NA COMUNIDADE

Madalena explicou que desde 2018 eles realizam nas comunidades do interior o projeto Brincadeira Na Comunidade que visa levar atividades lúdicas diferenciadas às crianças e aproveitam o dia para também trabalhar temas com as crianças, pais e educadores.

No mês de maio, para trabalhar o tema do abuso e violência sexual com crianças e adolescentes, a secretaria contratou a companhia de teatro Circo Sem Lona,de Maringá, que apresentou para as crianças e adolescentes a peça de teatro, O Medo de Terezinha, “A peça abordou o tema de uma forma lúdica, delicada, pedagógica, esse tema é mais sensível, é difícil de ser tratado e as pessoas tem resistência em reconhecer e denunciar quando percebem algo.As crianças e adolescentes têm muita dificuldade em se defender, contar que estão passando pela violência, de procurar ajuda, e a peça mostra às crianças em quem elas podem confiar,a quem podem procurar ajuda, passa várias orientações de forma bem tranquila”, ressaltou a secretária.

O MEDO DE TEREZINHA

Cerca de 1.500 crianças e adolescentes das escolas municipais e estaduais, além dos serviços de Convivência e Fortalecimento foram atendidas pelo projeto.

Entre as escolas que receberam a peça de teatro estão as escolas municipais Frei Francisco, Santa Terezinha, Nova Divineia e Cipriano, as estaduais foram os colégios Bento Munhoz da Rocha Neto e Júlio Moreira.

 Madalena avaliou que, “A forma como as crianças assistiram a peça, concentradas, se divertindo mas aprendendo avaliamos que foi muito boa a iniciativa da secretaria”.

Os professores do Colégio Júlio Moreira declararam que a peça abordou o tema de forma muito delicada e ao mesmo tempo passou muitas informações aos alunos, “Esse tema é bem delicado para abordarmos em sala de aula e, infelizmente, essa situação faz parte da nossa realidade, inclusive em alguns aspectos tem até uns traços culturais, e a única maneira de transformara realidade é a informação”, apontou o professor João Camargo.

A CARTINHA

Ao final da peça, os atores solicitavam aos alunos que escrevessem uma cartinha falando o que acharam da peça e entregassem aos professores, às crianças que ainda não estão alfabetizadas foi solicitado um desenho.

 

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