Por Dominique Acirema S. de Oliveira
Certa feita ouvi uma história que gostaria de compartilhar. Uma história que me levou a pensar sobre questões de lugar e tempo, importância de se estar pronto para servir.
A muito tempo atrás um casal discutia de maneira calorosa, na verdade, a esposa enfurecida apontava de dedo na cara de seu já velho esposo esbravejando palavras duras que gravavam no fundo do seu coração já cansado e batendo pesadamente.
Sim, havia uma concordância da maioria das pessoas da comunidade que esse senhor nunca foi dado ao esforço físico nem ao crescimento financeiro, até porque era isso que dele se esperava: ele vinha de uma sucessão familiar de grande estima e salutar conduta!
Seu bisavó, avó e pai possuíam, cada um a seu tempo, grande estima e ilibada conduta, diferentemente desse, agora velho, homem que perambulava nas estradas, vivendo de bicos e pequenos serviços, porém honestos.
Em uma dessas caminhadas despretensiosa se deparou com um amontoado de pessoas que berravam e esbravejavam contra um homem seminu, visivelmente surrado e maltratado que carregava um pesado pedaço de madeira.
Seu corpo estava molhado de sangue, pingava a cada pisada no chão empoeirado. Ele era cuspido e insultado. Chicoteado. Ali não havia um que demonstrasse qualquer sentimento de empatia.
– Deve ser um criminoso terrível esse homem. Pensou o velho homem que acabava de se juntar a multidão que ria e escarnecia desse desfigurado homem do madeiro.
Esse desgraçado homem, a passos lentos, se direcionava a gólgota uma colina que figurava uma caveira, ali eram descartados todos os criminosos e malfeitores da época.
A Providência quis, e não sabemos dizer os profundos motivos dos próximos acontecimentos, o velho homem tomou aquele madeiro, não se importou com as farpas que começam a rasgar sua túnica e a umedecê-la com o suor e sangue que manchavam aquele madeiro e ajudou aquele moribundo que seguia ao destino de todo homem.
Depois de passado todo aquele martírio, chicote e coroa de espinho a multidão satisfeita com o espetáculo volta a suas vidas, cada um toma seu caminho, pesados e indiferentes.
O velho homem também chega em sua casa, se assenta em uma cadeira e toma um copo com água. E é nessa cena que a história aqui se iniciou.
Sua esposa o lembrava da grande fama que seus antepassados tiveram do prestígio social e do alcance que seus nomes teriam na posteridade. Sua comparação era justificada, porém inútil.
O velho homem não conseguia tirar da mente a expressão de amor que o moribundo tinha nos olhos marejados de lágrima e sangue, não entendia.
Sua zangada mulher lhe dizia: – Não se envergonha? Seus antepassados serão lembrados por séculos por suas profissões e grandes atos nobres! E você vagabundeando por aí, ajudando criminosos a carregarem seus fardos! Quanto a você, velho tonto, quando partires, distante de todos seus parentes quem lembrará neste mundo de Simão, o Cireneu?
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