Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

  1. A covardia literalmente paralisa a inteligência humana. O medo, quando toma conta da alma, afasta a pessoa da verdade, distancia-a da realidade, movendo-a em uma procura desesperada por algo que lhe dê segurança.
  1. Quando somos dominados por este vil sentimento, acabamos por trocar a realidade por qualquer simulacro que nos transmita a doce sensação se conforto e comodidade.
  1. No fundo, o que os indivíduos na sociedade moderna procuram é isso: o conforto espiritual artificioso. Querem se sentir seguras de que elas poderão continuar crendo em suas superstições modernas e, desse modo, poderem, com tranquilidade, continuar a praticar as suas idolatrias.
  1. Quando estamos nos referindo às superstições modernas, em princípio, estamos apontando para a crença de que a sociedade atual é, em seu conjunto, o que de melhor já ocupou a face do planeta azul onde, tolamente, cultuamos a nossa própria autoimagem como se essa fosse similar a uma imagem disforme de uma deidade.
  1. De tanto procurarmos obter uma vida “plenamente” segura fomos, gradativamente, perdendo a capacidade de captar a Verdade. A verdade sobre a vida e sobre nós mesmos e perdemos essa capacidade porque não é a verdade que, no final das contas, estamos procurando.
  1. Poderíamos ilustrar a nossa missiva com uma penca de exemplos, mas as linhas seriam parcas para tal empreendimento. Entretanto, isso não nos impede de apontar para um. Vejamos: alegremente festeja-se em nossa sociedade que a educação é o caminho para se realizar tudo o que há de bom, que a bendita é a senda para podermos edificar o tal do “mundo melhor”. E o pior é que a maioria ululante das almas repete esse mantra de modo incansável em todos os rincões do país.
  1. Tudo muito bonitinho, mas totalmente ordinário. E olha que não estou a me referir apenas ao teatrinho de feição burlesca que são as intenções estatais. Não mesmo.
  1. Penso que está na hora de pararmos de ficar olhando apenas para a dimensão exterior da existência e começarmos a voltar as nossas vistas para a perspectiva interior de nossa vida para vermos o ridículo original de nossas superstições e a futilidade de nossos ídolos moderninhos.
  1. Ora, se a educação é o caminho para solução de todos os nossos problemas devemos então nos perguntar se ela é ou não um dever moral. Se o é, então seria de basilar importância que cada um chamasse para si a responsabilidade de fiar os passos da sua educação, não é mesmo? Porém, essa trilha deve nos levar pra onde? À procura pela verdade ou ao encontro da segurança? Devemos estudar para compreendermos algo ou simplesmente para nos sentirmos bem com um diploma na mão? Aliás, se é um dever pessoal, em que medida nós primamos pelo cumprimento desse dever? Bem, é aí que a porca torce o rabo.
  1. Todo mundo fala de boca cheia que a educação é o único meio para se resolver todo e qualquer problema de uma nação, entretanto, para infelicidade geral da mesma, podemos contar nos dedos de uma única mão as pessoas que realmente tem amor pela dita cuja, pela tal da sua educação.
  1. Ora, está mais do que na hora de pararmos com esse trololó de ficarmos mentindo para nós mesmo; urge que sejamos francos da mesma forma que Machado de Assis o foi com toda brasilidade quando nos ensinou o quão ridículo é esse nosso fingimento endêmico que toma conta de nossa vida. Fingimento esse que é tão ridículo quanto nossa disposição auto hipnótica de acreditar que ele não existe.
  1. Idolatramos essa ideia de educação como uma via de salvação ao mesmo tempo em que não aderimos a ela. Usamos essas palavras como uma espécie de patuá, como um amuleto que garanta magicamente a solução de todos os problemas que estão a nossa volta.
  1. Estou exagerando? Poxa vida, vivemos em uma sociedade onde os alunos se gabam de serem aprovados sem nunca terem estudado. Não queremos esforço. Não queremos a verdade. Desejamos apenas nos sentir seguros e confortáveis. Só isso.
  1. Você consegue imaginar uma superstição mais boba? Consegue imaginar uma idolatria mais bocó? Não? Provavelmente porque nos orgulhemos por demais dos diplomas que adornam nosso currículo e nos protegem do hálito do fosso sombrio de nossa existência.

(*) Professor e bebedor de café.

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