Reconhecemos o quão superficial é a alma dum indivíduo, o quão rasa é nossa personalidade, quanto mais facilmente nos escandalizamos com pequenas ninharias da vida, ao mesmo tempo em que nos mantemos serenos diante de mudanças substanciais que estão sendo desencadeadas diante de nossas ventas.

Sim, eu sei que há inúmeras sutilezas na vida e que, muitas vezes, acabamos por ficar com aquela cara de tacho, não é mesmo? Aliás, quem nunca? Pois é, isso faz parte da vida e, negar isso, ficando feito bobo diante desses tropeços, pode muito bem ser um sinal dessa indômita superficialidade nossa de cada dia.

Superficialidade essa que nada mais seria que o fruto de uma avaria do nosso senso das proporções e, com o extravio desse trem, vão-se juntos, também, o nosso senso moral e bem como nossa capacidade de compreensão da realidade.

Se não mais conseguimos distinguir as grandezas das miudezas, nós acabamos por ter uma percepção deformada e deformante da realidade, inclusive de nós mesmos; e, quando isso acontece, com muita facilidade acabamos colocando no lugar das virtudes toda ordem de vícios tacanhos.

E o pior é que, com o tempo, acabamos por achar esse tipo de feiura uma lindeza só.

Por exemplo, quando passamos a confundir covardia com prudência, ou a não saber diferenciar a inconstância desordenada e histriônica da coragem. Quando fazemos esse tipo de inversão, mais do que depressa acabamos recorrendo a toda ordem de justificações que vão desde o “veja bem”, chegando ao “não tem outro jeito” pra tentar disfarçar o nosso fiasco tremendamente humano.

Reconhecer que nos borramos no eito, nem pensar. Seria necessária uma boa dose de maturidade pra fazer isso.

E digo outra: uma das razões dessa atitude tão humana, tão nossa, é que frequentemente nos preocupamos demasiadamente com o que os outros vão falar a nosso respeito, ao mesmo tempo em que damos pouquíssima importância para o que somos; para o que deveríamos ser efetivamente.

E nessa tentativa de acharmos um “veja bem” para justificar os nossos desatinos, erros e malfeitos na vida, acabamos por dar uma ênfase muito grande a algo que, se fosse devidamente pesado e medido, não digo que não teria valor algum, mas, com certeza, teria pouca valia.

Um bom exemplo disso, ao que me parece, é o uso excessivo que alguns fazem, na atualidade, do termo “ataques à impressa”. A expressão é forte, não é mesmo? Tem um efeito bagual nas almas desavisadas, pois dá a impressão de que estão batendo três por quatro em jornalistas, arrancando suas unhas com alicate e dando-lhes uns safanões na orelha. E tem outra: o uso de tal expressão dá para aqueles que se utilizam desse expediente a sensação de que eles estão agindo de modo audaz contra forças titânicas que ameaçam toda a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que seguem tranquilamente com suas vidas.

Agora, quando esfriamos a cabeça e acalmamos o palpitar do nosso coração e resolvemos olhar mais de perto os tais “ataques à impressa”, o que encontramos são apenas algumas respostas destemperadas a matérias maliciosas em alguns casos, insultos ditos na lata contra críticas maldosas noutros e, claro, atitudes descabidas frente a matérias e críticas razoáveis. Mas não “ataques”.

Ou então, consideremos doutra forma: da mesma maneira que uma resposta destemperada não é um “ataque contra a liberdade de expressão”, um jornalismo malicioso não é um sustentáculo confiável para a democracia.

Fazer torcida cega a favor de um governo não é sinônimo de comprometimento sincero, da mesma forma que engajar-se numa militância insana contra um governante não é indicativo de esclarecimento.

Enfim, tudo se torna uma grande confusão quando o efeito que as palavras têm sobre a superfície de nossa alma acaba ganhando uma importância maior do que a substancial relação que essas têm com a realidade. Aí a perversão do senso das proporções, a inversão dos valores e a corrupção do senso de orientação tornam-se a regra mais do que certa para se destruir a nossa alma e colocar no chão a nossa capacidade de discernir.

E o pior é que quanto mais desorientados ficamos, mais queremos ter razão, da mesma forma que o covarde quer parecer, para si e para os outros, um poço de prudência e o inconsequente fanfarão quer aparentar ser o suprassumo da coragem.

Enfim, todos nós temos lá nossas razões e essas podem nos servir muito bem para esconder de nós mesmos os nossos desatinos, justificando-os; ou podemos procurar com sinceridade o conhecimento da verdade para desarmar as arapucas que, de certo modo, armamos para nós mesmos.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 19 de maio de 2020, dia de São Celestino V e Santo Ivo.

Sim, eu sei que há inúmeras sutilezas na vida e que, muitas vezes, acabamos por ficar com aquela cara de tacho, não é mesmo? Aliás, quem nunca? Pois é, isso faz parte da vida e, negar isso, ficando feito bobo diante desses tropeços, pode muito bem ser um sinal dessa indômita superficialidade nossa de cada dia.

Superficialidade essa que nada mais seria que o fruto de uma avaria do nosso senso das proporções e, com o extravio desse trem, vão-se juntos, também, o nosso senso moral e bem como nossa capacidade de compreensão da realidade.

Se não mais conseguimos distinguir as grandezas das miudezas, nós acabamos por ter uma percepção deformada e deformante da realidade, inclusive de nós mesmos; e, quando isso acontece, com muita facilidade acabamos colocando no lugar das virtudes toda ordem de vícios tacanhos.

E o pior é que, com o tempo, acabamos por achar esse tipo de feiura uma lindeza só.

Por exemplo, quando passamos a confundir covardia com prudência, ou a não saber diferenciar a inconstância desordenada e histriônica da coragem. Quando fazemos esse tipo de inversão, mais do que depressa acabamos recorrendo a toda ordem de justificações que vão desde o “veja bem”, chegando ao “não tem outro jeito” pra tentar disfarçar o nosso fiasco tremendamente humano.

Reconhecer que nos borramos no eito, nem pensar. Seria necessária uma boa dose de maturidade pra fazer isso.

E digo outra: uma das razões dessa atitude tão humana, tão nossa, é que frequentemente nos preocupamos demasiadamente com o que os outros vão falar a nosso respeito, ao mesmo tempo em que damos pouquíssima importância para o que somos; para o que deveríamos ser efetivamente.

E nessa tentativa de acharmos um “veja bem” para justificar os nossos desatinos, erros e malfeitos na vida, acabamos por dar uma ênfase muito grande a algo que, se fosse devidamente pesado e medido, não digo que não teria valor algum, mas, com certeza, teria pouca valia.

Um bom exemplo disso, ao que me parece, é o uso excessivo que alguns fazem, na atualidade, do termo “ataques à impressa”. A expressão é forte, não é mesmo? Tem um efeito bagual nas almas desavisadas, pois dá a impressão de que estão batendo três por quatro em jornalistas, arrancando suas unhas com alicate e dando-lhes uns safanões na orelha. E tem outra: o uso de tal expressão dá para aqueles que se utilizam desse expediente a sensação de que eles estão agindo de modo audaz contra forças titânicas que ameaçam toda a sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que seguem tranquilamente com suas vidas.

Agora, quando esfriamos a cabeça e acalmamos o palpitar do nosso coração e resolvemos olhar mais de perto os tais “ataques à impressa”, o que encontramos são apenas algumas respostas destemperadas a matérias maliciosas em alguns casos, insultos ditos na lata contra críticas maldosas noutros e, claro, atitudes descabidas frente a matérias e críticas razoáveis. Mas não “ataques”.

Ou então, consideremos doutra forma: da mesma maneira que uma resposta destemperada não é um “ataque contra a liberdade de expressão”, um jornalismo malicioso não é um sustentáculo confiável para a democracia.

Fazer torcida cega a favor de um governo não é sinônimo de comprometimento sincero, da mesma forma que engajar-se numa militância insana contra um governante não é indicativo de esclarecimento.

Enfim, tudo se torna uma grande confusão quando o efeito que as palavras têm sobre a superfície de nossa alma acaba ganhando uma importância maior do que a substancial relação que essas têm com a realidade. Aí a perversão do senso das proporções, a inversão dos valores e a corrupção do senso de orientação tornam-se a regra mais do que certa para se destruir a nossa alma e colocar no chão a nossa capacidade de discernir.

E o pior é que quanto mais desorientados ficamos, mais queremos ter razão, da mesma forma que o covarde quer parecer, para si e para os outros, um poço de prudência e o inconsequente fanfarão quer aparentar ser o suprassumo da coragem.

Enfim, todos nós temos lá nossas razões e essas podem nos servir muito bem para esconder de nós mesmos os nossos desatinos, justificando-os; ou podemos procurar com sinceridade o conhecimento da verdade para desarmar as arapucas que, de certo modo, armamos para nós mesmos.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 19 de maio de 2020, dia de São Celestino V e Santo Ivo.

  

 

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