Numa das aventuras do Batman – me refiro a uma animação de 2010 – o homem morcego lutou contra um replicante de um criminoso que respondia pelo nome de “Capuz Vermelho”. Detalhe: essa foi a primeira identidade do Coringa. Mas, naquele momento não era o palhaço que estava tocando a amarela. Não tinha como. Ele estava preso no manicômio Arkham.

A história segue e, lá pelas tantas, Bruce Wayne descobre que o replicante do Capuz Vermelho era Jason Told, um dos Robins, que havia sido assassinado pelo Coringa e que, pasmem, teria sido ressuscitado por Ra’s al Ghul.

Ra’s havia colocado o corpo do garoto no Poço de Lázaro. Aí deu no que deu.

A trama segue e, quase perto dos finalmente, o detetive saca que o que o replicante do Capuz Vermelho quer é matar o coringa. E ele o captura. E Batman se encontra com os dois num lugar incerto. Aí rola algo mais ou menos assim: acompanhe o restante de nossa aventura nos próximos bat parágrafos.

Jason Told está com o Coringa subjugado no chão sob seus pés. O lugar era aparentemente um depósito abandonado. O palhaço, com seu sorriso diabólico de sempre, e com um tanto de sangue viscoso escorrendo pelo canto da boca, faz algumas piadinhas cáusticas em meio aquele clima pesado do caramba. Afinal, ele é quem ele é.

Batman chega, do nada, no local. Coloca-se lentamente diante dos dois e, frente a frente, começam uma conversa. Uma longa conversa e, numa certa altura, Told diz que ele irá parar com tudo o que ele estava fazendo quando Bruce matasse o Coringa. E seria naquele momento, ali mesmo. Era o que Jason queria.

O silêncio cai sobre todos, arregaça nossos tímpanos e, com uma arma em mãos, jogada por Jason Told, o detetive diz, laconicamente: não. Que não pode. Não porque seja algo difícil de fazer. Muito pelo contrário. Ele não poderia porque seria fácil demais e, depois de tomada uma decisão como essa, ele não mais seria o mesmo e, dificilmente, haveria volta.

É. O cão imundo faz isso. Ele adora nos colocar diante de dilemas morais e éticos espinhosos só para nos danarmos. E nós, devido a ditadura do relativismo em misto com nossa leviandade, abandonamos facilmente o princípio da sabedoria, que é o temor de Deus, e colocamos em seu lugar o fundamento do servilismo, que é o medo da voz cavernosa dos círculos de escarnecedores, que são movidos pelo ardor do momento e intensificados pelos rodopios midiáticos e digitais.

Se fizermos esse brique há uma grande probabilidade de, levianamente, tomarmos o partido da decisão mais fácil e aí, sem corar de vergonha, e com ares de superioridade e indignação, seremos capazes de dizer quem deve ou não viver, principalmente se esse alguém for inocente de tudo e tenha sido despido de sua dignidade simplesmente porque não vimos o seu rosto.

Não careceria dizer, mas o farei: num ambiente assim é impossível tentar explicar o que seria o certo e o que é tremendamente errado para alguém. Não tem como. Provavelmente não seríamos capazes de fazer isso para nós mesmos, tendo em vista que fazemos parte desse cenário caótico e não temos como negar que parte desse caos sombrio também está presente em nossa alma movendo mundos e fundos em prol de nossa danação.

Por isso, penso que o mais recomendado quando estamos diante dum dilema moral, midiaticamente armado com emoções pré-fabricadas para gerar em nossos corações determinadas reações condicionadas, seria perguntarmos o que pessoas, que foram sumamente boas e sumariamente más, fariam diante da mesmíssima situação.

Isso mesmo! Ao invés de, afobadamente, com base no bom mocismo politicamente correto, ou num moralismo oco, dizermos se algo é bom ou ruim, certo ou errado, desejável ou não, podemos nos perguntar o seguinte: o que Joseph Meneghelli, o médico nazista, faria? O que o anjo da morte consideraria certo? Ou então, o que Adolf Eichmann, um dos principais responsáveis pela organização da solução final, diria? Conhecendo um pouco do que esses biltres fizeram podemos imaginar o que eles diriam.

Bem, depois disso, podemos fazer a mesma pergunta para outras pessoas. Podemos indagar o que Santa Madre Teresa de Calcutá, o que Santa Irmã Dulce dos Pobres, Santa Terezinha do Menino Jesus e o que o Santo Padre Pio de Pietrelcina diriam.

Pois é. Se fizéssemos isso com o peito aberto, sem afobação, descobriríamos que muitas das respostas “boazinhas” que são saudadas pela grande mídia e pelos diplomados como sendo a coisa mais linda do mundo, seriam respostas literalmente idênticas às que Meneghelli, Eichmann e tutti quanti dariam. Descobriríamos, também, que muitas das respostas que as pessoas limpinhas e “tolerantes” condenam como sendo coisa de obscurantistas seriam, justamente, as respostas apresentadas por qualquer uma das almas piedosas apontadas anteriormente nessas linhas por nós.

Por essas e outras que São João Paulo II sabia muito bem o que ele estava dizendo que nos chamou a atenção para aquilo que ele denominou como sendo a cultura da morte e, o Papa Emérito Bento XVI, sabia claramente quais seriam os pútridos frutos daquilo que ele denunciou como sendo a ditadura do relativismo.

As pessoas, sem se darem conta, acabam se colocando, com sua subjetividade deformada por um punhado de clichês, como se fossem o critério moral supremo de todas as coisas, por não mais serem capazes de conceber que existiram inúmeras pessoas que foram sumamente boas e que outras foram terminantemente más. Por isso, caem nesse engodo e acabam por inverter as bolas com tanta facilidade e isso é um dos grandes males fomentado pela ditadura do relativismo que fundamenta a cultura da morte.

Por isso é muito fácil, como disse o Batman, é muito fácil ultrapassarmos a linha que nos separa das bestas sombrias e defendermos o indefensável acreditando cega e tolamente que estamos fazendo o que é certo.

Enfim, que cada um de nós volte os olhos para as sombras que vicejam a nossa alma e, se servir, que vistamos o capuz até os pés, pouco importando qual seja a cor dele.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela. Quaresma de São Miguel Arcanjo.

e-mail: [email protected] site: http://professorzanela.k6.com.br/

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