Por Bruno Zampier

Muitas pessoas torcem o nariz e lançam um sorrisinho irônico quando ouvem falar sobre o advento de um governo mundial autoritário. Nesses momentos, costumam matar logo a conversa e sepultá-la sob uma velha epígrafe: “teoria da conspiração”. São pessoas que sentem-se mais seguras caso o passaporte sanitário seja implementado em sua cidade, em seu país e no mundo todo; algumas delas chegam a chorar de alegria quando finalmente conseguem tomar a vacina aprovada pela ONU; aguardam ansiosas o advento da tecnologia do 5G fornecida por grandes empresas multinacionais ou pela ditadura chinesa; ficam horrorizadas quando o princípio do estado laico parece ser violado e confiam que uma classe política que não se curva à autoridade religiosa é uma garantia maior de um governo útil e bom; consideram que o ativismo judicial é uma boa estratégia para corrigir eventuais negligências do poder legislativo, sempre que um movimento social financiado por um bilionário estrangeiro exige uma alteração legislativa; acreditam que o radicalismo islâmico é um problema distante e consideram que pastores e padres constituem um problema muito maior; muitas dessas pessoas consideram que o modelo tradicional de família é uma opressão autoritária e que partidos políticos, ONGs, artistas e a própria polícia devem adotar as medidas necessárias para limitar cada vez mais a autonomia familiar; por essas e outras, essas pessoas não veem com bons olhos, por exemplo, o homeschooling (ensino domiciliar).

Na verdade, essas pessoas já vivem sob o comando ou o conselho de autoridades internacionais, embora ainda não tenham se dado conta.  Às vezes trata-se da opinião de um artista aclamado pelo showbusiness, às vezes é o posicionamento de uma grande empresa ou um bilionário proprietário de uma rede social; às vezes é a ONU. De qualquer forma, essas pessoas nunca percebem que, quando alguém lhes diz que um governo mundial autoritário já se delineia no horizonte, na verdade ela não está divagando sobre uma conspiração oculta, planejada em um lugar incerto e não sabido.

Na verdade ela apenas está tentando fazer essa pessoa entender que ela própria já é um cidadão preparado para aceitar como “novo normal” um mundo em que toda e qualquer autonomia local para tomada de decisões, desde a família até uma câmara de vereadores, é destituída de toda autoridade e substituída pelas diretrizes de uma grande organização internacional ou empresa multinacional, sem se dar conta de que a impessoalidade dessas entidades, a burocracia e o próprio desconhecimento de quem são exatamente as pessoas que decidem, constituem um enredo perfeito para o exercício de uma forma de autoritarismo nunca antes possível.

Não se trata de divagar sobre uma conspiração oculta, mas de dizer, de forma educada, que a pessoa já se comporta de forma submissa a autoridades estrangeiras. Às vezes, polidez parece burrice, e é preciso inteligência para compreender.

Não deixarei de ser polido, na medida do possível, mas permitam-me dizer de forma mais direta.

É preciso, no mínimo, reconhecer que a tecnologia e os instrumentos jurídicos e políticos necessários para coordenar o mundo inteiro em busca de um objetivo comum, como uma medida sanitária, ou a preservação do meio ambiente ou o combate ao terrorismo, são, além de inéditos e impressionantes, também perigosos ao extremo, pois são alienantes e garantem àqueles que tomam as decisões, um anonimato e uma intocabilidade. Contra eles, o povo nada pode fazer, pois sequer temos acesso a seus gabinetes. Alguém aí quer protestar contra desvios de verba na ONU, por exemplo?

E que não se diga que o desejo de governar o mundo e moldá-lo à sua própria imagem e semelhança é um conto de fadas. Ela está nos livros de história de todas as épocas. Não consigo deixar de pensar – e aqui talvez não seja muito polido dizer, já peço desculpas – que muito provavelmente, a idéia de que governar o mundo é besteira ou fruto de teorias estúpidas, é apenas fruto de ignorância histórica. Essa ambição na verdade é a regra geral entre os governantes de todas as épocas. Seria uma grande exceção se isso não existisse atualmente.

Nietzsche certa vez afirmou que “quem alcança seu ideal vai além dele”. Embora ele tenha sido um niilista que morreu louco, disse algumas boas verdades sobre o Estado moderno. Quem consegue um emprego, logo sonha em subir no cargo, quem consegue entrar para o futebol profissional logo sonha com a seleção, quem se torna senador, logo sonha com a presidência, quem se torna presidente, logo sonha em ser uma figura de expressão mundial. Sempre foi assim, vejam o trajeto da humanidade nos livros de história e liguem os fatos.

Os antigos egípcios conquistaram o que puderam; Alexandre o Grande levou seus exércitos da Grécia até os confins da Índia, conquistou a Babilônia e dominou tudo o que conseguiu; os Romanos construíram o maior império do mundo antigo; Genghis Khan saiu das estepes da Mongólia e dominou metade da Europa; os islâmicos dominaram o Oriente e quase conquistaram a Europa; Napoleão Bonaparte coroou a si próprio Imperador da França e foi até o Egito. Já na nossa era, Hitler e Stálin quase conseguiram dominar o globo e exterminar metade da população mundial.

Nada mudou, e nisso aquele velho louco tinha razão: “quem alcança seu ideal vai além dele”. Se você estiver em uma posição tal em que apenas um passo te separa de uma posição ou influência maior, não tenha dúvidas de que, a menos que uma grande humildade freie tuas ambições, a tentação te levará a dar este passo. Quem estiver a um passo de governar o mundo, tentará fazê-lo.

As bolas da vez são os radicais islâmicos, os governos das grandes potências (EUA, Rússia, China, Israel, França, Alemanha), as grandes empresas de tecnologia: 5G, inteligência artificial, internet das coisas, dinheiro digital (em trâmite no nosso Congresso), fim do dinheiro em papel, supercontrole das transações financeiras, das vacinas, etc. Às vezes, essas entidades estão em conflito entre si, até travam guerras. Outras vezes parecem estar amasiados, fazem acordos, cooperam entre si. De qualquer forma, é visível que eles possuem uma estratégia diferente dos ambiciosos do passado: já não se trata de conquistar espaço territorial, mas de conquistar o coração das pessoas e fazê-las aderir ao sonho e às diretrizes de uma organização global e distante, que garanta mais paz, mais prosperidade, mais saúde, mais ecologia, mais ecumenismo religioso.

Será que eles já hastearam uma bandeira em seu coração? Lembre-se que quando alguém lhe sugerir sobre o advento de um governo mundial, talvez ele não esteja divagando sobre algo distante. Talvez ele esteja falando de você mesmo, de forma polida.

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