POR BRUNO ZAMPIER

  De acordo com o discurso feminista oficial – pelo menos na sua versão mais moderada -, o machismo é a crença de que o homem é superior à mulher enquanto que o feminismo é a crença – perfeitamente razoável – de que homens e mulheres são iguais. Dito assim, nenhuma boa pessoa poderia recusar a adesão à luta feminista.O problema é que se olharmos bem de perto, rastreando o DNA do pensamento feminista, encontramos uma genética não tão pura quanto se imagina.

Apresento aqui cinco evidências de que a filosofia de vida, a visão de mundo e a crítica social de machistas e feministas é perfeitamente harmônica entre si e que os motivos para alguém não ser feminista são exatamente os mesmos pelos quais alguém não deveria ser machista.

1 – ABORTO: a feminista é favorável ao aborto porque segundo ela, trata-se do direito da mulher ao seu próprio corpo, algo básico. Trata-se da sua liberdade física e qualquer intromissão masculina nesse debate é violação do “lugar de fala”. Ocorre que o homem machista não discorda nem um pouco das vantagens do aborto. Pois ele considera a mulher como um objeto para sua satisfação sexual e usar camisinha reduz seu prazer.

O ideal, para o machista, é satisfazer sua libido sem os inconvenientes que a natureza pode gerar. Por isso ele também é a favor do aborto: ele quer transar, se possível com muitas mulheres, e não assumir compromisso algum. O machista pouco se importa se o aborto e o anticoncepcional aumentam a probabilidade da mulher ter câncer de mama, de útero ou depressão. Machistas e feministas não se opõem à idéia de que uma gravidez indesejada deve ser interrompida. É por isso que nas passeatas, feministas vociferam contra machistas, mas na trincheira da luta pelo aborto, encontramos lado a lado, machistas e feministas num estranho enlace, disparando contra a moral tradicional e o Cristianismo.

2 – TRABALHO E INDEPENDENCIA FINANCEIRA: A feminista não quer depender de homem, ela não quer se dedicar exclusivamente ao lar ou aos filhos, pois esta é uma atividade de mulher conformista e fraca. Ter um emprego e subir na carreira é algo mais nobre; trabalhar em casa é atividade de segunda classe. Mais uma vez, o machista nada tem contra este ponto de vista: ter uma carreira profissional de sucesso e dinheiro no bolso é uma atividade superior a educar e cuidar dos filhos. Ele também é da opinião que a atividade doméstica é de segunda classe e, uma vez que ele considera a mulher como inferior e incapaz para uma atividade profissional, ele defende que a mulher deve mesmo ficar em casa, fazendo suas tarefinhas de segunda classe. Isto significa que machistas e feministas não consideram que o trabalho no lar é tão ou mais complexo do que gerir uma empresa.

Ambos comungam da idéia de que educar filhos, em suma, se resume a uma atividade braçal leve como lavar louça, passar roupa e trocar fraldas. Família, para eles, é atividade de segunda, na qual você só deve se dedicar quando sobrar um tempinho. No fim, eles criam aquelas famílias que são verdadeiras bombas-relógio. Observe que hoje a quantidade de famílias que não se acabam em brigas insanas entre marido e mulher ou entre pais e filhos é muito pequena. E são bem mais raros do que os profissionais de sucesso ou os aprovados em concurso público…

3 –CASAMENTO: para feministas, casamento é a escravidão da mulher, instituto criado para oprimi-las. Para machistas, casamento é o cercadinho para conter o macho reprodutor. Daí que não é preciso escrever mais: veremos machistas e feministas cantando louvores à solteirice, ao divórcio, à vida “livre e sem raízes”. Está nas músicas, nos filmes e nos livros que eles gostam. Machistas e feministas tem a mesma opinião desfavorável ao casamento, e juntos, “conquistaram” muitas mudanças.

4 –IGREJA: para as feministas, o Cristianismo, em especial a Igreja Católica, é responsável por disseminar valores misóginos, sexistas. Elas pensam que a Bíblia é machista e até citam versículos para tentar provar esse argumento. Por isso elas querem mitigar tanto quanto possível o papel da religião na sociedade. Engraçado é que quando o machista vai para a Igreja e ouve o ensinamento cristão sobre qual é o seu papel como “homem da casa”, diante de uma esposa e dos filhos, ele volta de lá meio desolado e não conta nada para a amiga ou namorada feminista.

Já pensou se a feminista entendesse o que é que a Igreja ensina aos machos que ela tanto odeia? Então ele apenas se junta a ela nesse coro contra o “radicalismo cristão”. Para os amigos ele diz: “é… a Igreja é meio radical, não precisa seguir tudo a risca, divórcio é necessário, aborto é direito, não preciso ser tão fiel a ela assim também, nem servi-la desse jeito que a Igreja manda, não precisa se sacrificar feito Cristo, basta ter fé”.

Assim o machista até cria uma fé mais à sua imagem e semelhança. Se o machista se curvasse diante da Igreja, não levantaria nem a voz, muito menos a mão para sua mulher: ele rezaria por ela. Mas nem machistas nem feministas querem encarar essa…

5 – O ESTADO COMO CENTRO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL: vendo que os homens machistas que a cercam constituem um inimigo difícil, acreditando que a Igreja não é sua aliada, que o casamento é sempre um fardo, só resta à feminista juntar-se a movimentos sociais alinhados com partidos políticos. Ela então adere à ideologia de que o Estado, mais do que a sociedade civil organizada, é que deve educar e organizar toda a vida social desde a base. Seja pela modificação dos currículos escolares, seja pela mão da polícia, cabe ao Estado resolver o problema do machismo. O machista não é contra a concentração de poder no Estado. Como ele é fraco e covarde, inconsciente do seu papel como homem, decidido a usar a mulher para se satisfazer, ele não quer assumir a primeira responsabilidade de proteger sua mulher e filhos: ele não quer aprender a direcionar a sua força para proteger quem ama dos perigos do mundo.

Se um ladrão pular o muro ele se esconde embaixo da cama e chama a polícia: hoje em dia o homem não precisa mais temer a opinião pública quando ele agir como um frouxo, pois o feminismo o libertou dessa responsabilidade.

Se o filho ou a ex-mulher conseguirem um benefício social ao invés de reclamarem pensão, ele sai na vantagem também. Sob a bandeira esquerdista do Estado como centro da sociedade, hoje marcham feministas e machistas. “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado” era o lema de Mussolini, o ditador fascista. Mas bem podia ser o lema feminista também. Machistas curtiriam mil vezes.

Para encerrar, devo deixar claro: longe de mim afirmar que as mulheres não sofrem machismo ou que este seria um problema pequeno a não merecer muita importância. O problema é que a revisão cultural proposta pelo feminismo não combate o machismo. Pelo contrário, reforça os valores sexistas de base, inerentes a uma visão de mundo machista e imoral.

Ao defenderem o senso comum moderno em que o dinheiro e o trabalho são superiores à família, em que os filhos são um fardo ou uma dura responsabilidade (e não uma benção), em que o Estado deve ditar todas as regras na educação e na segurança pública, em que o papel da religião deve ser mitigado e sufocado, machistas e feministas estão lutando do mesmo lado. Ambos lutam pela causa da egolatria.

E do outro lado está tudo aquilo que é apenas, natural e simplesmente, humano.

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