Dartagnan da Silva Zanela

Conta-se, à boca pequena, que após o golpe de 1930, Vargas tinha a barda de passar muitos dias na cidade de Petrópolis, governando o Brasil de lá. Nem nisso o bicho era bobo.

Após as refeições, conta-se, também, que o índio velho presidencial, costumava fazer uma caminhada pelas ruas para fazer a digestão e espantar os quatis do corpo.

Nessas andadas sempre carregava consigo alguns docinhos que entregava para a gurizada que aparecesse pelo meio do caminho.

Dia desses, encontrou-se com um grupinho que estava jogando bola. Cumprimentou-os, ofereceu-lhes umas balinhas e aí um deles interpelou-o: “Quem é o senhor?” “Eu sou o presidente da República menino”. O menino fechou um zóio, abriu bem o outro, mediu Vargas, dos pés à cabeça, e disse: “Não. Não é não”. “Como assim não sou. Claro que sou”. “Não. Não é”. “E por que não sou”? “O senhor é muito baixinho pra ser o presidente”. Ao dizer isso o garoto voltou a jogar futebol e Vargas deu uma expansiva risada, e seguiu sua caminhada para retornar o mais rápido possível para as lides presidenciais.

De certa forma, o garoto em sua meninice, estava correto. O nanico com o charuto na boca não era o presidente do nosso tristonho país. Ele era um ditador, que havia dado um golpe de Estado e que, à época, estava governando “provisoriamente” essa terra de Botocudos. Provisório que durou quatro anos, que foi prorrogado por mais ou menos quatro para, aí sim, como presidente governar. Depois disso, ficou por mais ou menos oito anos como ditador e, mais tarde, por mais um tanto como presidente, democraticamente eleito, até que resolveu sair dessa vida para entrar para história, como o mesmo disse ao se despedir do Catete.

Mas não é sobre o nanico do Getúlio que desejo falar não. É a respeito das palavras do menino cujo nome foi esquecido pelas brumas do tempo. Ele estava diante da autoridade máxima do país e não o reconheceu porque lhe pareceu que o homem que estava diante dele não tinha parecença de presidente. Pois é. Mas qual seria a cara de um político? Temos como reconhecer um quando vemos? Complicado isso.

Podemos dizer que tais figuras seriam similares aos vampiros, essas figuras literárias e míticas que tomam contam de páginas e páginas da literatura, rolos e mais rolos de filmes e que, tudo junto e devidamente misturado, habitam nossa imaginação.

Tal comparação pode parecer estranha à primeira vista, porém, matutemos um pouco sobre isso. Um vampiro, tal qual um político, para manter-se precisa sugar a essência da vida de outra pessoa. Essência essa que, no caso do primeiro, seria representada por sangue fresco das vítimas e, no segundo, pelo suor do povo, convertido em impostos que dá forma ao erário público.

Os herdeiros de Drácula têm em sua volta uma série de servos que, em troca de algum beneplácito, ajudam o ser de longas presas na obtenção de vítimas para poder continuar existindo e exercendo o seu reinado. Quanto aos segundos, bem, esses também são frequentemente rodeados por um punhado de correligionários “diferenciados” que o ajudam a conquistar novas vítimas que entregarão de bom grado seu precioso voto para assim poderem, por mais um tempo, continuar exercendo o seu mando.

Vampiros são criaturas que não apreciam, de jeito maneira, a luz do dia. Como todos sabemos, essas criaturas vivem ocultas sob o manto da noite, à espreita, procurando encontrar o melhor momento para poder agir.

Os políticos, por sua vez, e de um modo geral, são figuras que vivem à sombra de esquemas, conchavos, acordos e tramoias, bem longe da luz do sol da verdade, para que possam, desse modo, melhor cativar suas vítimas potenciais, digo, eleitores circunstanciais.

Tanto os primeiros, como os segundos, sabem como atrair, cativar e instrumentalizar as pessoas. Sim, eles sabem muito bem fazer isso.

Enfim, as analogias não são poucas e as reflexões que as mesmas podem fomentar são incontáveis, tantas quantas um vampiro seria capaz de contar.

Noves fora zero, a caçada ao voto foi deflagrada e não são poucos os candidatos que estão à espreita do voto dos cidadãos incautos e, nesse momento, como em todos os momentos de nossa vida, penso que devemos, como nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo (Mateus X, 16), ser astutos como as serpentes porque estamos no meio de lobos.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, apenas um bicho do mato que gosta muito de uma boa xícara de café.

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