Por Maurício Marques Canto Jr. (*)

Perceber o mundo é o maior milagre subjetivo da vida.

Desde criança eu ficava curioso como uma câmera conseguia fotografar as pessoas.

Quando descobri o que chamam de fótons, fiquei absolutamente maravilhado.

Sinceramente, ainda não entendi direito como o reflexo desses fótons consegue transmitir a informação daquilo que vejo (apesar dos estudos óticos de reflexão e refração serem extremamente simples), mas isso é um problema para amanhã.

Ontem à noite eu assisti o “Medal Of Honor”, no Netflix, um programa destinado a contar as histórias que levaram pessoas a receber a maior condecoração militar dos Estados Unidos.

A bravura, a força, a coragem. O modelo de conduta de seres humanos em entregar a própria vida para proteger tudo aquilo que deixaram em casa é acalentador.

Pessoas normais que, em situações difíceis, tornaram-se excepcionais.

Para eles, não havia desculpas, problemas, dodói ou reclamações. Não importava o mundo, só importava a sua postura perante esse mundo.

Histórias de amor em estado bruto.

Depois de tanta inspiração (e da vergonha de olhar para a minha própria vida, acho), comecei a navegar sem rumo no YouTube.

Parei num programa de shoplifting, em que uma empresa de vigilância identificava ladrões de supermercado.

Nesse caso, TODAS as pessoas negavam os fatos óbvios, inclusive quando se viam mas filmagens que provavam o delito, e usavam as desculpas mais esfarrapadas (quando assumiam), para justificar os próprios atos.

Sempre o problema era a fome, a necessidade, a vida, os outros, o mundo.

Os comportamento dos bandidos era agressivo e arrogante. Ameaçavam os seguranças, reclamavam os seus direitos, diziam que sentiam-se humilhados (mesmo depois de se verem nas filmagens!) e, óbvio, a culpa era sempre do outro.

Assim como eu não entendo o modo da transmissão da informação por meio de fótons, da imagem daquilo que vejo e está na minha frente (até porque compreender imagens da tv é intuitivamente mais fácil), eu não consigo mostrar que a diferença política entre entre o conservador e o revolucionário é a mesma entre o herói e o ladrãozinho.

Parece um exagero, claro, porque a imagem que o Brasil engole, desde pelo menos 1964, é que a esquerda luta por igualdade, por liberdade, pela democracia, por justiça.

Mas é só isso, é só imagem. É a confusão entre o cardápio e o jantar.

Toda esquerda é expert em mostrar a foto de um bife suculento (que você nunca irá comer), mas não contam o trabalho que dá para chegar na sua mesa.

Querem a mudança das inerentes condições deste vale de lágrimas por meio do engodo, do roubo, da chantagem.

Já o conservador compreende que, neste mundo, poucos terão muito e muitos terão pouco. Que somente por meio da liberdade econômica é que o pouco será o suficiente e, quiçá, por empresa ou sorte, poderá tornar-se muito.

E isso seria quase tudo nessa vida, se a vida fosse nascer, crescer, consumir e morrer.

Mas, afinal, para que viver?

Reduzir o homem à condição econômica é transformá-lo num bicho perdido, cego e infeliz. É fazer de um possível santo um capeta necessitado, sujo e atroz.

E tudo isso mostra que a vida é conhecer, produzir cultura, efetivamente conhecer (nosce te ipsum e modus in rebus), por meio desta matrix simbólica chamada mundo.

E nisso buscamos Deus, mesmo sem querer.

Todo o resto, inclusive a negação de si mesmo e das condições desse mundo, é mera e diametralmente o oposto.

(*) Bacharel e Mestre em Direito pela UFPR. Advogado, professor orientador em especialização pela UNITER e aluno do COF (Curso online de Filosofia).

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