Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

  • É O QUE TEMOS PRA HOJE §

Dar a cada um o que lhes é devido e a nós, na mesmíssima medida, eis aí a tal da justiça em toda a sua grandeza e secura. Talvez, por essa razão, Nosso Senhor exortou a todos nós para cingirmos nosso coração não por esse caminho, mas sim, pela senda da misericórdia, pois, da mesma forma que tudo será medido e pesado na conta de nossos inimigos e desafetos com a balança que escolhemos para julgar tudo em suas vidas, o mesmo ocorrerá com nossos débitos, na mesma dose que clamamos pela referida virtude para todos os demais. Enfim, seja como for, o Verbo divino sabe o quão fraco somos, por isso, o Seu fardo é suave se assim o quisermos, se aceitarmos a misericórdia como par da clava da justiça.

  • BASTA UM ZOINHO §

Se somos daqueles caboclos que acreditam ser uma pessoa honrada, digna do último fio de cabelo até a raspa do calcanhar, perguntemo-nos: tudo aquilo que fazemos, distante dos olhares públicos, faríamos sem corar na frende de nossos filhos? Pois é, essa é toda a dignidade que nos resta do papel honorífico que encenamos diariamente nos palcos da hipocrisia brasileira. É tanta honra que basta um inocente nos encarar de frente para nos desmascarar.

  • A VOZ SUFOCADA §

É na solidão, no silêncio interior, que nos encontramos conosco mesmo. A aversão a primeira e a repulsa pela segunda, manifesta pelo homem contemporâneo, são claros sintomas de nosso desfibramento. De nossa degeneração.

  • AS SÓLIDAS BASES DA DEGRADAÇÃO NACIONAL §

Lendo as páginas do livro RETRATO DO BRASIL, da autoria de Paulo Prado, são-nos apontados pelo autor do referido dois traços que seriam determinantes na formação do ethos nacional, os quais seriam: a luxúria e a cobiça.

Podemos discordar em muitos pontos em relação às conclusões apresentadas pelo autor, entretanto, para todo aquele que já tem algumas primaveras sobre as paletas, sabe muito bem que, seja entre os desafortunados dessa terra, ou entre os abastados desses rincões que gostam de serem vistos e tratados como “otoridades”, de fato, uma constante em nossa sociedade é a presença acachapante de inúmeros indivíduos – organizados em facções ou isolados feito lobos desgarrados – que são movidos pelo desejo desregrado por qualquer forma de lascívia e, consequentemente, atraídos pelo dinheiro fácil, títulos e qualquer coisa do gênero que lhes renda alguma forma de status para que, através desses meios, possam saciar a loucura de sua carne e os delírios febris de sua alma.

Em resumidas contas, tudo bem pesado e ponderado a partir da balança que nos é apresentada pelo livro de indispensável leitura e que fora acima citado, é praticamente impossível não constatar que o infantilismo manifesto pelos cidadãos, pelos adultos dessa terra de desterrados, e a consequente promoção da adultização dos infantes através do caminho da libidinagem e da cupidez é um dos maiores males, se não o maior, de que padece a sociedade brasileira. Mal esse que têm profundas e raízes calcadas na alma nacional.

  • CADA TRANQUEIRA EM SEU DEVIDO LUGAR §

Um dos mais claros sinais da degeneração nacional é a tosca imagem de “povo alegre” vestida na brasilidade e que é idolatrada por grande parcela de nossa sociedade.

Sim, somos um povo barulhento e muito apegado a toda e qualquer galhofa, mas isso não é um sinal indicativo e incontestável de “alegria”. Não mesmo.

De mais a mais, ser taciturno não é sinônimo de tristeza, da mesma forma que ser galhofeiro não equivale a contentamento.

Na verdade, bem na verdade, aquele que ri de tudo está procurando de todo jeito disfarçar o seu desespero.

Todos sabem disso. Só não vê quem não quer e, por essas e outras, afirmar que somos um “povo alegre” só por causa de nosso gracioso e contínuo farfalhar à toa é apenas a manifestação de nossa recusa em reconhecermos a tristeza que habita na alma nacional.

  • SEM MAIS PARA O MOMENTO §

Não digo que todo povo tem o governo (executivo e legislativo) que merece porque, tal encrenca não é uma questão de mérito não. Na verdade, penso que todo o governo, dum modo geral, nada mais é que uma expressão do espírito público que anima a sociedade. Trocando por miúdos: cada povo tem o governo que pode ter, merecendo ou não a tranqueira que o (des)governa.

  • O ÓBVIO ULULANTE §

René Girard, em sua obra A CONVERSÃO DA ARTE, aponta para algo que, qualquer pessoa com um mínimo de razoabilidade já constatou: de que apenas é possível haver uma convivência minimamente equilibrada entre indivíduos de distintas culturas se esses estiverem diante dum cenário mais amplo formado e fundado pela presença do Cristianismo.

Isso mesmo! Ampute o fundo Cristão – por mais opaco que ele seja – e teremos a degradação das bases da tal sociedade democrática moderna, inclusive e principalmente do tal Estado laico que, diga-se de passagem, apenas floresceu nos países que tem como cenário de fundo uma sociedade alicerçada sobre princípios cristãos.

E, por fim, vale lembrar que o uso do dito Estado Laico como cavalo de batalha na guerra cultural que tem como intento destruir o cristianismo terá ao final como consequência a derrocada do próprio troiano equino e o inevitável regresso a barbárie.

(*) professor, cronista e bebedor de café.

Compartilhe

Veja mais