Certa feita, o filósofo iraniano Seyyed Hossein Nasr, em uma de suas aulas magistrais ministrada na Universidade George Washington, havia levado um texto para seus alunos estudarem. Obra essa cujo autor eles não sabiam quem era e, até onde sei, não perguntaram.
A rapaziada leu, discutiu cada um dos pontos da mesma e, respeitosamente, apresentaram alguns contrapontos. Tudo muito polido e acadêmico.
Ao final, o professor Nasr perguntou aos seus alunos quem acreditavam que era o autor daquelas linhas que eles haviam tão efusivamente dedicado sua atenção. Quem? Quem? Quem?
Após a pergunta o silêncio se fez presente.
Uns disseram que era de Platão e apresentaram as suas razões para tal dedução; outros afirmaram que era de Sêneca, e disseram porque eles julgavam que o filósofo romano era pai daquelas linhas; e por esse caminho seguiu o andor.
Ao final, o professor revelou aos estudantes que aquelas palavras que eles haviam deitado suas vistas, e regado o jardim de suas mentes, era da autoria de Hehaka Sapa, o xamã Alce Negro, da tribo dos Sioux.
O texto em questão foi extraído do livro “Alce Negro fala – a história da vida de um homem-santo dos Sioux Oglala”, fruto do encontro do xamã com John Neihardt.
Em resumidas contas, os alunos não imaginavam que aquelas palavras de profunda sabedoria poderiam ter sido paridas pela mente de um xamã sioux e, por isso, ficaram estupefatos. Gratos, mas estupefatos.
De forma similar, um velho conhecido, numa certa ocasião, disse-me que apresentou para um jovem amigo dele alguns trechos do “Livro dos Provérbios”. Após terminar de lê-los, perguntou ao jovem, todo cheio com seus “dipromas”, quem era o autor daquelas linhas. O rapaz, todo pachola, disse que poderia ser de Lao Tsé ou de Confúcio. Bem, o senhor lhe revelou a fonte: a Sagrada Escritura Judaico-Cristã.
O rapaz ficou pau da vida e o senhor, como todo bom tiozão, se partiu de rir ao me contar o ocorrido, tendo em vista que o garoto sempre se referia com um profundo desdém à Bíblia Sagrada.
Bem provavelmente, nos dois casos, tanto na aula magistral do filósofo islâmico Seyyed Hossein Nasr, bem como no causo do tiozão, se as fontes tivessem sito reveladas desde o início aos seus interlocutores, bem provavelmente eles não procurariam, com honestidade intelectual, compreender o que eles estavam lendo para, deste modo, apender e crescer em espírito e verdade com aquelas palavras escritas.
Possivelmente eles iriam projetar os seus preconceitos – pessoais, ideológicos e acadêmicos – sobre cada uma daquelas palavras e iriam se fechar em copas para a luz que poderia iluminar suas almas.
Dito de outra forma: os casos citados nos revelam um problema muito simples que, admitamos ou não, habita o nosso coração. No caso a encrenca seria o descrédito que atribuímos a determinadas obras, ou informações, devido à baixa credibilidade que atribuímos à fonte das palavras que estamos lendo, pouco importando a veracidade ou não daquilo que estamos lambendo com nossos olhos.
E o contrário também é tão verdadeiro quanto problemático. A credulidade cega que muitas vezes atribuímos a certas obras e informações, simplesmente porque foram ditas por Fulano ou Sicrano que, por isso mesmo, tornam-se arapucas armadas contra nosso entendimento. Armadas com nosso consentimento, diga-se de passagem, por cultivarmos uma credulidade cegueta com relação à fonte das palavras que acabam nos levando a não nos preocuparmos, nem um pouco, em saber se elas correspondem ou não, mesmo que palidamente, à verdade.
O que importa, nesses casos, é que nos permitimos, como toda boa presa, nos envolver ideológica e afetivamente com o cenário desenhado pela armadilha. E se nos comprometemos com o dito, nos tornamos, sem querer querendo, reféns do midiático engodo.
Infelizmente, muitas vezes acabamos processando com o fígado tudo o que lemos, ouvimos e vemos e, todas as vezes que procedemos dessa forma, nada de bom obtemos. Pior. Corremos o risco de ficarmos doídos da cabeça, babando na gravata, com pose de criticidade ferida, tamanha é a degradação que se processa em nossa alma.
Enfim, percebe-se claramente que um caboclo está com seu bom senso em decomposição, sofrendo dum profundo e irrevogável processo de degradação moral e cognitivo, quando uma suposta matéria, “isenta”, sobre a compra de uma determinada quantia de leite condensado, choca profundamente o seu coraçãozinho limpinho, só porque se refere hipoteticamente a seu desafeto mor; porém, todavia e entretanto, não encena nenhum chilique de indignação criticamente crítica diante das infindáveis denúncias sobre os desvios de verbas – em compras superfaturadas de respiradores, medicamentos e papel higiênico – realizadas por governadores e prefeitos, do Oiapoque ao Chuí, em meio ao cenário distópico que nos encontramos.
E é claro que jamais admitiremos isso porque, como todos dizem, somos todos muito críticos, muito mais do que críticos, para cairmos nesse tipo de cilada midiática.
Fim do causo.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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