De tempos em tempos, borbotões de pessoas que nunca se preocuparam minimamente com a tal da cultura, escandalizam-se ao ponto de rasgar suas vestes e os seus memes quando veem que uma pessoa, considerada por muitos como sendo uma inconteste nulidade, ascende a uma posição de excelência, principalmente quando uma pessoa desse naipe toma posse de uma cadeira junto à Academia Brasileira de Letras.

Acho engraçado isso porque, se fôssemos perguntar para os escandalizados os nomes dos membros do referido clubinho, que se reúnem na casa fundada por Machado de Assis para tomar chazinho, provavelmente, eles não saberiam dizer. Nem mesmo saberiam os nomes dos patronos de cada uma das quarenta cadeiras da sala dos imortais.

Quanto a presença de figuras de brilho duvidoso vestindo o vistoso fardão não é uma novidade nessa casa. Não mesmo. Se os escandalizados conhecessem um cadinho do babado, saberiam disso.

Falando-se nisso, lembro-me que, certa feita, minha filhota havia me perguntado se o Monteiro Lobato ocupou um lugarzinho entre os imortais da ABL e, a história do nosso amado taturana com a Academia é deveras interessante e ilustrativa.

Ele fez duas tentiadas. A primeira foi em 1922. Detalhe: ele já era um escritor consagrado por conta da obra Urupês e, com sua editora, uma das principais do país, já havia revolucionado o mercado editorial brasileiro. Ou seja: ele já era uma figura notável. Todavia, ele não mandou cartas, nem visitou os acadêmicos, nem pediu votos para os mesmos. Resumindo: ele não fez politicagem alguma, como era e é o costume, achava que a coisa era séria e, por isso, não foi eleito.

No seu lugar entrou um senador e jurista chamado Eduardo Ramos, autor de dois livretos de crônicas e alguns poemas publicados em jornais. Sabe quem ele é? Pois é, muito menos eu.

A segunda tentativa foi em 1926, porém, o taturana dessa vez mandou uns bilhetinhos, bem ao estilo Lobato, para os acadêmicos e, mais uma vez, perdeu. No seu lugar entrou um tal desembargador Adelmar Tavares, autor de um punhado de versos insossos.

Tanto um quanto o outro continuaram sendo na fila do pão aquilo que são, mesmo estando com o famigerado fardão. Já o nosso amado taturana, para ser Monteiro Lobato, nunca precisou da investidura da referida casa. Seu nome e sua obra estão imortalizados em nossos corações.

Resumindo o entrevero: seja no tempo presente ou na aurora da Academia Brasileira de Letras, as nulidades sempre marcaram e continuarão marcando presença nessa casa que deveria, pela vontade de seus fundadores e idealizadores, abrigar apenas a excelência.

Quanto a nós, que não somos literatos, e nem mesmo amamos tanto assim as letras, ao invés de ficarmos escandalizados com aquilo que não compreendemos e nem mesmo nos importamos, poderíamos tentar almejar a excelência naquilo que nos cabe que, sejamos francos, não é muito e, mesmo assim, por razões insondáveis, fazemos pouco caso.

Tal atitude de nossa parte não mudaria, de jeito maneira, a politicagem dos ilustrados fardados, mas seria de grande valia para aparar as arestas que maculam e deformam a nossa personalidade e, em alguns casos, corrigiria a falta dela.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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