Ouça a crônica:
Cada um se serve de um tanto de presunção. Alguns mais, outros menos, mas não tem que escape dessa triste inclinação que habita o nosso coração pra lá de peludo.
De todas as crises de arrogância que, vez por outra, nós caímos, provavelmente a mais feroz é aquela onde nós dizemos para nós mesmos – e depois repetimos para quem estiver por perto – que as pessoas precisam aprender a pensar.
É doído isso porque, quando afirmamos que os outros precisam aprender a usar suas moringas pensantes, estamos partindo do pressuposto de que nós sabemos fazê-lo melhor do que todos.
E o pior de tudo é que se partimos desse pressuposto, bem provavelmente, nunca paramos para refletir de forma arguta a respeito da maneira como procedemos com nossas matutações cerebrinas.
Por essa razão, e por muitas outras, tenho pavor dessa conversa mole de querer ensinar os outros a pensar. Qualquer um que diga isso, nunca parou para considerar que o ato de pensar é tão espontâneo em nós quanto o são os atos de respirar, comer e evacuar.
O que podemos fazer, com sinceridade, é sugerir, para os nossos semelhantes e para nós mesmos, novas questões, novos temas para serem refletidos, diferentes maneiras de abordar um problema, outros conceitos para nos ajudar a compreender certas situações e assim por diante, mas não se ensina a pensar.
E lembremos sempre que pensar é um ato solitário. Por isso, ao estar diante dessas indicações, uma pessoa pode acatá-las e, com esforço abnegado, poderá burilar, refinar a forma como trata determinados assuntos, mas, tal mudança de postura depende da adesão voluntária do sujeito a essas sugestões.
E é por isso que toda pessoa que diz que é preciso ensinar os outros a pensar, no fundo, quer apenas que algumas alminhas concordem com ela para que a danadinha não mais se sinta insegura e, deste modo, não precise mais ter que realmente pensar a respeito de um monte de assuntos.
E, assim o é, porque como todos nós sabemos, a insegurança diante de uma dúvida não é sinal de criticidade, mas sim, de uma mentalidade presunçosa, pueril e preguiçosa.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
https://sites.google.com/view/zanela
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