
Fotos: Naor Coelho/Fatos do Iguaçu
Redação Portal Fatos do Iguaçu
A reunião realizada na tarde do último sábado, 5 de abril de 2025, no salão da Igreja Católica da comunidade Santa Maria, que tinha como objetivo apresentar projetos de desenvolvimento para a região do Faxinal do Céu, terminou em frustração e desabafo por parte dos moradores. Convidados sob a promessa de ouvir sobre investimentos, geração de empregos e segurança, os presentes se depararam com discursos que, para muitos, soaram distantes da realidade vivida pelas comunidades.
Logo no início do encontro, representantes do poder público e da empresa ABTN — nova gestora do Faxinal do Céu — enalteceram os planos para transformar o local em um polo de turismo, com o retorno da antiga Universidade do Professor, criação de resort, parque temático e a promessa de até 500 empregos.
No entanto, o que se evidenciou foi que o verdadeiro tema da reunião era a onda de roubos que vem ocorrendo especificamente na antiga Vila Copel, hoje denominada Faxinal do Céu, espaço que foi adquirido pela empresa ABTN.
A comunidade reagiu com críticas à falta de medidas concretas de segurança em todo o distrito, e à ausência de um diálogo direto com quem vive fora da área adquirida pela empresa.
O prefeito Valdecir Biasebetti destacou o “orgulho” da administração municipal em receber os investimentos da empresa ABTN e reforçou a expectativa de que o Faxinal do Céu volte a ser um centro de referência regional. “Temos coisa boa para a região. É um grande investimento, vai gerar emprego e renda, e atrair turistas de outros estados”, declarou.
Pablo Lucas, diretor de segurança da ABTN, atribuiu os atrasos nas melhorias à onda de furtos e vandalismo no local. “Cada benfeitoria que fazemos é destruída. Levaram até as louças dos banheiros. Isso inviabiliza a abertura de espaços como o Jardim Botânico”, lamentou, pedindo ajuda da população para denunciar os responsáveis.
A fala de Pablo e das autoridades deu a entender que os empregos a serem gerados estariam diretamente condicionados ao compromisso da comunidade em ajudar a combater os roubos dentro da propriedade da empresa.
Ao tentar justificar a falta de segurança por limitações financeiras e logísticas do fundo de investimento que administra o local, muitos moradores entenderam a postura como um deslocamento de responsabilidade para a comunidade.
Desabafo da Comunidade: “Viemos Ouvir Promessas, Saímos com Mais Medo”
Um dos momentos mais marcantes da reunião foi o pronunciamento da professora Clarice Melo, moradora de longa data da região e docente no Colégio Júlio Moreira. Em tom emocionado, ela relatou a insegurança constante vivida em Santa Maria e comunidades vizinhas.
“Vivemos à mercê dos bandidos. Vidas estão sendo ceifadas. Há poucos meses, minha sobrinha foi assassinada dentro de casa. Nós temos medo. A empresa pede denúncias anônimas, mas até a polícia chegar aqui, já aconteceu o pior”, afirmou.
Clarice lembrou ainda que, durante a campanha eleitoral, o prefeito esteve em sua casa e ouviu o pedido por segurança — promessa que, segundo ela, nunca se concretizou. “Emprego é importante, mas segurança é essencial. Quem fica aqui precisa viver com dignidade.”
Reflexão Crítica: O Estado Falhou?
Outro destaque da reunião foi a fala do morador e ex-funcionário da Copel, Claudemir Gulak, que levantou a discussão sobre a responsabilidade do Estado. “Nós, que já fomos retirados para a construção da usina, arcamos até hoje com as consequências. O Estado ainda não pagou sua dívida socioambiental com nossa comunidade”, declarou, cobrando a presença mais efetiva da gestão estadual e a retomada de um posto de segurança pública no local.
Gulak também criticou o fato de as autoridades colocarem o ônus da vigilância sobre a população. “É importante denunciar, mas não podemos carregar tudo nas costas. Precisamos de efetivo policial e de uma política pública de segurança concreta para nossa região.”
O Retrato de uma Reunião que Aumentou o Sentimento de Abandono
Embora o discurso oficial fosse de otimismo e progresso, a reunião escancarou o abismo entre o planejamento institucional e a realidade das famílias de Santa Maria e arredores. A comunidade deixou o encontro com a sensação de ter sido chamada para ouvir promessas de um futuro próspero, mas sem respostas imediatas para os problemas urgentes do presente — especialmente a insegurança.