Vovó Tibúcia é fera. Pense numa velhinha fogo na roupa. Não mede as palavras quando abre a boca, mas sempre pondera muito bem o que diz.
Toda vez que visito a figura saio com uma penca de trocadilhos e novos fraseados que guardo bem guardadinho na algibeira da minha memória.
Deem um zóio nos brocardos que seguem abaixo e vejam o que a senhorinha carrancuda sempre me diz.
[1] Filho do Céu! Não tenha medo de armas de fogo. Tenha medo de gente ruim, estejam essas tranqueiras armadas ou não.
[2] Esse negócio de protestar ficando pelado e escrevendo um monte de bobagem no coro não é manifestação democrática não meu filho. É apenas o clamor escandaloso dum corpo com muito fogo recolhido.
[3] Intolerante, meu filho, é quem não consegue rir de si mesmo com seu desafeto.
[4] Esses caboclos que ficam prometendo por aí que vão fazer um tal de mundo “mais miô de bão” desde que o povo lhes entregue todo o poder em suas mãos, meu filho do céu, é migué do bravo. O caipora tem que ser muito tongo pra cair nessa conversa fiada. É. E já tem tongo nesse mundo meu filho. Como tem.
[5] Se o caboclo se acha insubstituível é porque ele não ser pra nada. Quer dizer, só serve pra azucrinar a vida dos outros e achar sarna pra se coçar.
[6] Meu filho: o voto é teu, só teu. Vote em quem você quiser. Quem paga suas contas é você e não esses tongos que acham que você deveria se guiar pelos chiliques ideológicos deles.
E tem mais uma coisa piá! Lembre-se: não confunda a urna eleitoral com a patente da sua casa. Deposite, sempre, cada merda no seu devido lugar.
[7] Votar, meu filho, é igualzinho arrumar os armários da cozinha. De tempos em tempos temos que dar aquela geral pra se livrar daqueles enlatados vencidos, das caçarolas furadas e tirar aquelas cracas acumuladas. E lembre-se: faxina a gente faz sem dó. Nada de apelo com lixo meu filho! Isso é doença.
[8] Quando alguém diz ser uma pessoa autêntica, coerente e blábláblá, pode ter certeza, meu filho, que esse carniça não presta. Qualquer um que fique afirmando aos quatro ventos que é uma pessoa boazinha não passa de uma farsa do princípio ao fim. Todo aquele que se diz um poço de coerência simplesmente é um baita picareta que tem muita, mas muita coisa pra esconder.
[9] Qualquer um que já branqueou as melenas, sabe muito bem que há vitórias que são amargas e derrotas que são uma verdadeira delícia.
[10] Envelhecer não é mérito. Isso simplesmente acontece. Agora, amadurecer, meu filho, são outros quinhentos. Nem sempre ocorre com quem envelhece.
[11] Uma das coisas mais tristes que existe, meu filho, é um idiota que quer melhorar como pessoa. O coitado capricha, se esforça, se rala e até começa a mudar e a se tornar uma pessoinha melhorzinha; aí, de repente, começam a elogiá-lo e, de elogio em elogio, ele volta a ser o que era. Um idiota.
[12] Entenda uma coisa bem simples meu filho: há certos artistas que não serão jamais reconhecidos como estrelas, mas sempre serão artistas de primeira grandeza, como há inúmeras estrelas midiáticas que são ovacionadas por muitos, mas nunca serão artistas de grandeza alguma, pouco importando quanto ele seja incensado pela mídia e pela massa ignara.
[13] O idiota sempre pensa que todos os ditos, comentários e observações são pra ele. Sempre pra ele. Tadinhos. Esses tipos de coitados acreditam que são o sempre de tudo, ao mesmo tempo em que são incapazes de reconhecer que não são o centro de praticamente nada. Mas, enfim, meu filho, se as carapuças lhes servem, se elas são do seu número, use-as e puxe-as até o garrão. E se quiser reinar, reine, isso faz parte da alucinante idiotia.
[14] Qual foi o último livro que você leu? Por que você decidiu lê-lo? Hum. Entendo.
[15] É importantíssimo termos coragem para matutarmos contra as nossas mais queridas convicções, sejam elas, políticas, religiosas, filosóficas ou futebolísticas. Se nos recusamos a fazer isso, se temos medinho de que nossas amadas ideias possam estar redondamente erradas, não adianta nada encher a boca pra dizer que é uma pessoa crítica porque, essas palavras, infelizmente, não serão capazes de disfarçar a sua irremediável, e nada original, tonguice que habita em nós.
[16] Se nós não temos fibra o bastante para pensarmos contra nossas convicções é porque, no fundo, não passamos dum mero repetidor de frases feitas sem personalidade alguma.
[17] Quanto maior é a sensibilidade politicamente correta do camarada, maior será a agressividade que ele manifestará quando se sentir ofendido. E como esse tipo de cabra se ofende. É um sarro vê-los todinhos “fevosos”. Ah! Meu filho. Se é.
[18] Dizer que a dita cuja da educação é um trem importante é fácil. Qualquer sujeito desprovido dela é capaz de fazê-lo. O que, de fato, é o bicho da goiaba é ensinar alguma coisa para alguém.
[19] Já pensou se Machado de Assis tivesse sido educado na base da pedagogia do oprimido do senhor Paulo Freire? “Deusolivre”! É melhor nem pensar.
[20] Quando alguém fala pra mim que está deixando de comer carne em nome da construção do tal de mundo “mais miô de bão”, não penso duas vezes: vou, quietinho, até o açougue mais próximo, compro uma costela bem gorda e faço um baita churrasco.
Obs.: Você já leu o livro “Nossa Cultura ou o que restou dela” de Theodore Dalrymple? Não? Então acesse nosso site e leia-o gratuitamente (http://zanela.blogspot.com/)