Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

NÃO HÁ NADA PARA COMEMORAR – A república no Brasil é uma ficção e, bem provavelmente, sempre será, porque desde o seu princípio ela foi uma farsa proclamada por picaretas revolucionários que se diziam ser as mais impolutas, abnegadas e bem intencionadas almas de toda a galáxia. De mais a mais, tudo o que se repetiu depois dessa cívica dissimulação chinfrim foi apenas mais um tanto do mesmo angu inicial, requentado com um e outro tempero ideológico diferente, pra disfarçar o gosto adstringente do golpe republicado que, em misto com a cobardia monarquista, até hoje amargam a desventura da história de nossa triste nação e o destino.

PARLAR – Uma nota distintiva entre os seres humanos e qualquer representante das demais espécies animais é que somente o tal do bicho homem é capaz de usar símbolos de maneira significativa.

Ou seja: somente nós somos dotados da capacidade de utilizar essa ferramenta extraordinária que é a linguagem. Ninguém mais. Nem mesmo aquele seu cachorro com quem você fica, ébrio ou lúcido, proseando por horas a fio.

Pois é. Porém, todavia e entretanto, a forma miserável que muitas pessoas utilizam essa ferramenta extraordinária, que é tão nossa, demonstra por A mais B, e de modo triste, que não são poucos os seres humanos que estão abandonando a sua espécie originária, colocando-se num patamar inferior a de qualquer cão vira-latas.

Sim, essas desorientadas almas falam, falam até demais, mas isso tudo que é dito nada quer dizer, pois, nem mesmo eles entendem o que estão querendo contar, haja vista que as palavras proferidas por seus lábios são tão desprovidas de significado e sentido quando a forma como eles vivem as suas sorumbáticas e insonsas vidas.

PIADA PRONTA E SEM GRAÇA – Diziam as más-línguas que a tigrada politiqueira, toda poderosa que é, estava querendo criminalizar todos os cidadãos que ousassem falar qualquer obviedade sinistra sobre eles; digo, queriam eles criminalizar qualquer um que ofendesse a honra dos mui dignos políticos brasileiros. Pois olha, sou franco em dizer: a turminha que vive agarradinha nas úberes estatais não precisava dar tamanha demonstração de molecagem e cobardia, haja vista que, a atual condição da trupe estamental brasileira já é, em si, uma baita piada de mal gosto, sem graça e desprovida de qualquer originalidade.

RESPOSTA CRETINA PARA ENQUETE IMBECIL – Sabe aquele programinha sem sal, aquele programa de auditório boboca que foi colocado no lugar dos nossos desenhos animados preferidos? Pois é, recentemente essa tranqueira televisiva propôs uma enquete cretina mais ou menos nestes termos aos seus convidados: entre um policial e um criminoso ferido – um traficante baleado – quem você iria socorrer primeiro? Quem?

Bem, a resposta claudicante dada pelos convidados foram tão ridículas que não merecem nem mesmo um insulto injuriado. Todavia, a enquete canalha merece uma resposta caipiramente simples, a qual, seria a seguinte: socorreria primeiro aquele que se feriu no exercício de sua profissão.

Não ficou claro? Bem, então, tento outra vez: procuraria salvar primeiro aquele que está tentando ganhar a vida honestamente.

Não deu pra entender ainda? Bem, então tento de novo: socorreria aquele que está procurando, dentro dos limites do possível, cumprir com o seu dever.

Já sei, já sei, não deu pra entender ainda. Então vou desenhar com giz de cera: eu socorreria aquele que qualquer pessoa – inclusive os cretinos que elaboraram essa enquete idiota – chamaria se estivesse sendo assaltado, agredido ou qualquer coisa do gênero.

Isso mesmo! Socorreria o policial que, com suas imperfeições e limitações, tenta cumprir com as suas obrigações como cidadão e trabalhador frente a uma sociedade que, muitíssimas vezes, o despreza. Ponto. E tenho dito.

UMA PALHAÇADA SEM FIM – O caipora é incapaz de entender um punhado de versos de Camões; o mesmo berne nem consegue cogitar que é possível, através desse entendimento, compreender a sua porca vida e, por essa incapacidade orgulhosamente adquirida, o sarnento imagina que é capaz para mudar a mundo só porque um doutrinador fantasiado de professor disse que ele é portador da dita cuja consciência crítica que, no contexto atual, não passa de um modo elegantemente fingido de dizer que você está plenamente apto para ser usado como massa de manobra num jogo sórdido de poder. Só isso e nada mais.

(*) professor, cronista e bebedor de café.

Compartilhe

Veja mais