Um dos estratagemas mais utilizados por incontáveis figuras politicamente corretas é a aplicação de um rótulo odioso sobre seus adversários. Normalmente, a aplicação desse estratagema vem juntinho, de mãos dadas, com uma manipulação semântica pra lá de capirótica, para demolir de vez com a reputação da vítima desse tipo de sortilégio.

Um bom exemplo disso é o uso histriônico da expressão “discurso de ódio”. É uma e duas e lá está ela, sendo usada aqui e acolá por figurinhas que não se cansam de rotular tudo e todos como sendo um propagador desse trem fuçado e, todos aqueles, que acabam sendo marcados com esse estigma, mais do que depressa,  se colocam na defensiva, pelo simples fato de que, na maioria absoluta das vezes, eles não são pessoas odiosas, nem caboclos odientos, ou algo desse naipe e, por estarem na defensiva, as almas sebosas bem rapidinho montam a cavalo sobre os pobres coitados, cancelando-os da existência social e digital.

Infelizmente, não foram poucas as pessoas que tiveram suas vidas devassadas por esse tipo de histeria coletiva.

Agora, se começarmos a olhar esse trem mais de perto, com calma e sem afobação, perceberemos o tamanho da encrenca. Para começo de prosa, a expressão “discurso de ódio” parece ter sido extraída de uma sala do jardim da infância. Isso mesmo. Entremos no túnel do tempo: quando éramos pequerruchos e, de repente, havia um enrosco, do nada, um dizia para o outro, fazendo aquela careta: “Você é um feio”! E o outro, virado no Jiraya, dizia com os olhinhos chispando fogo: “Você é que é feio! Feio e bobo”!

Aliás, tal cena lembra muito as brigas das duas irmãs da animação “Lilo e Stitch”.

Se formos parar pra rememorar as caras e bocas que essa turma faz quando diz que Fulano ou Beltrano estão propagando supostos e hipotéticos “discursos de ódio”, veremos que elas não são muito diferentes das caras e bocas dos pequeninos enervados de antanho.

Não apenas isso. Pensemos no efeito maquiavélico que o uso abusivo dessa expressão [não significativa] tem sob o coração daqueles que a empregam. Ora, se Beltrano diz que Cicrano está supostamente propagando um “discurso de ódio”, é porque ele, Beltrano, seria um hipotético propagador de “discursos de amor”, não é mesmo? Ou, como dizem os doutores em memes, é puro “ódio do bem” destilado três vezes e batizado com funcho.

Agora, se nós procurarmos nos livrar dessa arapuca retórica e pararmos para matutar um pouco sobre o conteúdo que é vilmente rotulado como sendo a manifestação desse tipo discursivo, iremos perceber que na maioria absoluta das vezes, o único ato odioso presente é o fato de que o que está sendo afirmado por Outrano apenas contraria os fanáticos humores ideológicos daqueles que estão utilizando-se, de forma leviana, deste rótulo infame para calar todos aqueles que não estão em sua “listinha de pessoas do bem”.

Dito noutros termos: não gosto de você, nem do que você diz; logo, você será considerado um propagador de tudo o que não presta na face da terra.

É importante lembrarmos que o fato de não concordarmos com algo que é defendido por alguém que não gostamos, necessariamente não significa que isso torna essa pessoa um monstro disforme de outro planeta, que deve ser calado, cancelado e expurgado. Significa apenas que há pessoas que não gostamos e, das quais, por uma fatalidade do destino, não concordamos. Só isso.

Porém, as mesmíssimas pessoas que amam de paixão carimbar a testa dos outros com o selo Tabajara de “propagador de discurso odiento”, leem, veem e ouvem tudo como se fosse uma mensagem dirigida especificamente para elas, de forma similar aos infantes de uma turminha das séries iniciais o que, de certa forma, nos lembra muito a chamada síndrome de Peter Pan.

E tem outra: o fato de um doido questionar o que poucos questionam não significa, em absoluto, que esse desvairado está falando a respeito da sua pessoa em particular. Significa apenas que o lesado está apontando para uma incongruência que se faz presente na sociedade e que, talvez, pode estar presente em nossa pessoa.

Aliás, como diziam os antigos, se a carapuça servir, usemos. Caso contrário, bola pra frente.

Porém, todavia e, entretanto, “sacumé” que são as coisas: enquanto nós não deixarmos para trás o velho egocentrismo pueril que nos habita, este continuará nos levando a achar que o mundo gira em torno dos nossos umbigos críticos e engajados.

Por fim, podemos perguntar, sem medo de sermos cancelados: é errado odiar? Tudo depende do que está sendo odiado e com qual intento. Ora, devemos, como nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo, odiar o pecado, não o pecador. Devemos odiar a farsa socialmente aceita, não as pessoas que vivem socialmente uma farsa.

Enfim, é impossível amarmos a verdade, e dedicarmo-nos à sua procura, se nós não odiamos a mentira para, desse modo, e se a Graça divina nos ajudar, podermos resgatar um e outro mentiroso, e a nós mesmos junto com eles, das cadeias farsescas que nos deixam agrilhoados a uma vida oca e desprovida de sentido.

É isso. Fim de causo.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva

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