Por Dartagnan da Silva Zanela

Diante de questões de ordem política, prudência nunca será demais, desde que, não nos esqueçamos de dosar esse angu com uma boa porção de ousadia. Prudência, sim, é a mãe de todas as virtudes, como nos ensina a tradição, porém, se ela ficar avulsa, solita, não poderá gerar frutos e, com o vagar do tempo, poderá se converter na mais abjeta pusilanimidade.

Aliás, reparem como todo covarde de carteirinha julga-se uma pessoa extremamente prudente. E, infelizmente, essa confusão é muito frequente. No que tange a ousadia, o destemor e a coragem, também não é bom que essa fique sozinha na vastidão da alma dum indivíduo.

Se essa danadinha ficar desprendida das demais virtudes, especialmente da prudência, ela acaba levando o sujeito a tornar-se alguém, no mínimo, temerário, imaginando que a insolência graciosa e a brutalidade politicamente orientada seriam sinônimas de coragem moral quando, na verdade, seriam apenas manifestações de covardia e impotência.

Se seguirmos por esses descaminhos imprudentes, com nossas covardes manifestações de impotência fantasiada de consciência criticamente crítica, é bem provável que acabaremos servindo de massa de manobra nas mãos daqueles que, ao seu modo, esmeram-se em manter um bom matrimônio entre as virtudes citadas.

Sem esse casamento, nossa visão da realidade acaba se reduzindo drasticamente porque abdicamos das ferramentas indispensáveis para medirmos e avaliarmos nossas ações e as situações que teremos de encarar. E se não conseguimos fazer isso, inevitavelmente, iremos acatar a mensuração e a avaliação que nos serão ofertadas por um terceiro, como se fosse nossa, é claro.

E, diga-se de passagem, como amamos essa doce ilusão. Por isso, se padecemos desse mal, muito mais interessante que ficarmos procurando orientação nas palavras de bajuladores politicamente corretos que fazem carreira – muitas vezes carreiras bem pagas com recursos do erário público – dizendo que somos vítimas da história, da sociedade, da mídia, do vizinho e do papagaio, seria procuramos conhecer a obra e a vida de figuras que procuram realizar algo de significativo, contrariando as piores circunstâncias e utilizando da melhor forma possível os meios que possuía em suas mãos.

Um bom exemplo disso, penso eu, é Júlio César. A leitura do livro “Comentários sobre a Guerra Gálica” é um primor, um conjunto de lições que nos é dada por um homem que ousou realizar o que nenhum general romano havia ousado fazer. Não haviam ousado fazer por cobardia, devidamente disfarçada de prudência, é claro. Lições realistas que, se devidamente meditadas, podem nos ensinar lições preciosíssimas para encararmos os dilemas do nosso dia a dia.

Mas, se somos daqueles que não tem um gosto muito acurado para a literatura latina, bem, a leitura de biografias sobre a referida personagem poderá, também, nos ser de grande proveito. Muito mesmo. Ora, conhecendo os dramas, problemas e dilemas enfrentados por um sujeito dessa envergadora pode nos auxiliar pra caramba para refletirmos, através de outras perspectivas, os problemas que nos assaltam.

Dramas, problemas e dilemas que, em muitos aspectos, são até parecidos com os nossos, mas que receberam, da parte de Júlio César, uma resposta bem distinta em termos de grandeza e magnanimidade. Afinal, nós não somos Júlio César e, por isso, podemos aprender com ele, se quisermos. Dum jeito ou doutro, ao conhecermos a vida dum figurão desses e se ousarmos nos apropriar de algumas de suas ideias, isso necessariamente não nos fará mal algum.

Muito pelo contrário. Tais leituras podem nos dar um ponto de referência bem mais elevado que os pontos que nos são apresentados pela contemporaneidade. Ou seja: no final das contas iremos enxergar mais longe e viver com mais profundidade e intensidade. Sim, mas se achamos que nos fazendo de vítima – de tudo, de todos e de nós mesmos – resolverá alguma coisa; se acreditamos, sinceramente, que nos irmanarmos com outras pessoas que fazem do vitimismo existencial a pedra fundamental de sua orientação nessa vida irá resolver algum problema, tudo bem.

O que é do gosto é regalo da vida. É regalo, mas tem um preço. E não é barato. Ponto. Hora do café.

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