No dia 08 de maio é comemorado o dia da vitória, dia em que foi assinada a rendição incondicional da Alemanha Nacional-Socialista em 1945. De fato, esse foi um grande dia.
Poderíamos falar muitas coisas a respeito da Segunda Guerra Mundial, muitíssimas; entretanto, procuraremos nessas mal lavradas linhas, nos ater a um ponto que, a meu ver, apesar de ser tremendamente sutil, é de grande relevância para refletirmos sobre uma das muitas mudanças que ocorreram no mundo desde a queda do Terceiro Reich.
Quando voltamos nossos olhos para as tropas dos Aliados, que se digladiaram no teatro de guerra contra as forças do Eixo, com os olhos marejados em lágrimas vemos demonstrações de coragem, ousadia e intrepidez sem par e, frequentemente, nos esquecemos de que esses guerreiros que lutaram, colocando em risco suas vidas, eram em sua grandessíssima maioria jovens.
Jovens que arriscaram suas vidas, jovens que sacrificaram os melhores dias de sua mocidade, jovens que morreram para frear o avanço totalitário que ameaçava o mundo naqueles idos.
Quando leio algo sobre qualquer guerra que já foi travada – em particular a respeito da Segunda Grande Guerra – lembro-me sempre das palavras de C. S. Lewis que diz-nos que um verdadeiro soldado não luta uma batalha por ódio ao seu inimigo que está na sua frente, mas sim, por amor àqueles que estão atrás dele, em sua pátria.
Pois é, mas agora os tempos são outros. Se nos anos quarenta, jovens estavam dispostos a arriscar suas vidas para defender pessoas que os desconheciam, lutando contra um inimigo titânico, hoje, jovens e adultos, ficam facilmente magoados, e até mesmo deprimem, se alguém usar contra suas pessoas palavras ríspidas e, Deus nos livre e guarde, façam um gracejo politicamente incorreto sobre algo.
Em comparação a esses jovens soldados anônimos que pelejaram nos anos quarenta, nós realmente caímos a um nível tão vil que, francamente, fica difícil encontrar uma palavra apropriada para descrever.
Chegamos ao cúmulo de considerar uma crítica, ou uma chacota, publicada numa rede social, um ato de agressão, um problema de segurança nacional.
O que será que os rapazes de antanho diriam a respeito disso? Melhor nem especular.
E muito dessa perda do senso de sacrifício, de amor ao próximo, se deve ao desregramento hedonista que passou a imperar em nossa sociedade; desregramento esse que praticamente é quisto na conta duma qualidade (depre)cívica, fazendo os indivíduos crerem que a satisfação de seus desejos, e o desfrute dos prazeres, devidamente fantasiados de direitos, seria o patamar mais elevado a ser conquistado numa vida por uma pessoa.
Não se estima mais na sociedade contemporânea nada que sinalize um sacrifício abnegado. Na verdade, isso se tornou algo tão incompreensível quanto inimaginável.
E isso, por si só, já é algo lamentável, pra dizer o mínimo; mas consegue ser pior, pois, além de termos tido essa decomposição geral do cultivo das virtudes cardinais, vemos inúmeras pessoas, boazinhas até o tutano, desmerecendo e fazendo pouco caso daqueles que caminharam pelo vale da sombra da morte.
Um soldado, por definição, é alguém que de bom grado entrega a sua vida para defender pessoas desconhecidas; pessoas que, bem provavelmente, irão desprezá-lo, e até mesmo enxovalha-lo, por terem arriscado o seu pescoço para protegê-las fazendo muitas vezes coisas que irão pesar sobre seus corações para o resto de suas vidas.
Sim, sei que há inúmeras pessoas [boazinhas] que dirão que um militar é apenas um sujeito que foi treinado pra matar. Pois é. Porém, tais palavras dizem muito mais a respeito delas mesmas do que elas são capazes de imaginar.
Sim, sei que há muitas pessoas que ficam aqui e acolá gritando palavras de ordem contra o que elas rotulam como sendo coisas de fascistas e nazistas e, fazem isso, com seus olhinhos cheinhos de ódio do bem. Porém, essas almas apenas agem assim porque, no fundo dos seus corações, elas sabem muito bem que tudo isso é apenas uma encenação porque se, de fato, tivessem que enfrentar fileiras de camisas negras e pardas, tremeriam e deprimiriam num estalar de dedos.
Na real, penso que todos nós – inclusive esse que vos escreve – ficaríamos silentes em nosso canto, regurgitando nossa raiva impotente, porque não somos como aqueles jovens soldados anônimos, que entraram pra história sem aparecer nominalmente nela.
Não somos mesmo, haja vista o pouco valor que damos a liberdade e o grande amor que temos pelo nosso umbigo.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, em 12 de maio de 2020, dia de Santo Nereu e Santo Aquiles.