Uma história de superação e conquista

Se tem um dia especial para a equipe que está à frente da APLEPI, Associação de Produtores Leiteiros do Pinhão e do laticínio da Vila,   é o dia 20 de dezembro de 2020, nesse dia, o leite da Vila chegou pela primeira vez nos comércios locais, indo para a mesa do consumidor.

Hoje, 20 de dezembro de 2021,  a equipe que realiza todo o trabalho de produção do leite da Vila, a diretoria e associados da APLEPI estão em festa, pois o leite da Vila está comemorando 1 ano.

Para contar um pouco do caminho percorrido para que hoje pudesse comemorar essa conquista, conversamos com o presidente da Aplepi, Luiz Albeto Rickli e com o gerente administrativo da associação, Luiz Antônio Fonseca.

Era só um fiapo da dívida

A história do leite da Vila é bem anterior a 2020, ela se inicia na Coomaper Cooperativa Agrícola Mista de Micro, Pequenos e Médios Produtores Rurais, há 7 anos a situação da Coomaper era dramática.

Luiz Albeto Rickli | Foto: Naor Coelho/Fatos do Iguaçu

Em 2014, a Cooperativa tinha em torno de 125 associados e na assembleia, na qual Luiz Alberto Rickli saiu como o novo presidente,  foi apresentado um relatório que a Coomaper tinha  uma dívida de 64 mil reais. “Eu fui na assembleia, fiz um cálculo que uma dívida de 64 mil para uma associação que tem 125 sócios é tranquilo, mas, no dia seguinte, eu ouvi um grupo de associados dizendo: o que foi apresentado na assembleia não é nem um fiapo da dívida, comecei a ir na Cooperativa e só ficava observando”, conta Luiz Alberto.

Alguns dias depois, a verdade

Passada uma semana da assembleia, os que faziam a parte administrativa comunicaram ao novo presidente que a Coomaper tinha falido e a princípio a dívida era de 640 mil reais. “Eles me chamaram, junto com o Antônio, o Edson Vitel e avisaram que a comparativa não tinha como rodar porque não tinha dinheiro para abastecer o caminhão. Como eu tinha uma parte da família entregando leite, acreditamos que dava para recuperar a cooperativa. Nesse mês, eu, o meu pai e o Lolito Farp, não recebemos nosso pagamento para que a cooperativa pudesse girar”.

Nova diretoria e equipe de administração

A administração da cooperativa vai para as mãos da Zootecnista Suzana da Cruz Pires e a Kátia Amorim, “Coloquei as mulheres para comandar e foi bom, quebrou um circulo vicioso. A cooperativa quebrada tinha 9 funcionários, enxugamos a estrutura, ficaram elas e os dois motoristas”.

Auditoria

Para ver bem a situação, o novo presidente chamou para uma reunião a antiga diretoria e o conselho fiscal e decidiram realizar uma auditoria sem fazer o repasse dos gastos para os cooperados que, de início era uma despesa de R$ 6.000,00. “Após levantado tudo, achados os furos e erros, inclusive de contabilidade, fizemos nova assembleia, apresentamos a situação, eu falei que todos tinham responsabilidade, inclusive eu, por ter sido omisso como cooperado e vamos ter que pagar, a dívida chegava a aproximadamente 2 milhões e meio’.

A negociação

Luiz Alberto e a equipe de administração foram em busca da negociação das dívidas, “Nosso trabalho foi sempre negociar a dívida para evitar que o produtor tivesse que pagar uma dívida por má administração. Nosso problema eram dois contratos com os bancos. Fomos à negociação, enfrentamos os processos judiciais, e conseguimos deixar a dívida em R$ 160 mil”.

 Aplepi

Para que os produtores de leite pudessem receber benefícios do Estado, havia uma exigência que houve uma associação que os representassem, e mais as  questões judiciais das dívidas da Coomaper levaram os associados a irem para a Aplepi “Em 2001, o produtor Ezídio e mais alguns  criaram a Aplepi, que estava parada, nós fomos lá conversamos com ele e fomos reativando a Associação, para poder realizar o trabalho com mais tranquilidade, pois os credores da Coomaper entraram via judicial e corríamos o  risco de ter o pagamento do leite aos cooperados confiscado, um credor levou num mês R$ 40 mil. Fizemos uma assembleia e os cooperados migraram para a Aplepi, assim vamos pagando as dívidas, mas sem embargo judicial, no momento Coomaper e Aplepi caminham junto”.

Com a Associação em dia e bem regulamentada, eles conseguiram a doação pelo Estado de dois caminhões para o transporte do leite, “Eles vieram via projeto, veio primeiro um e como o projeto estava bem feito e nós trabalhamos bem redondinho em cima do projeto, veio o segundo, e isso é mérito do Luiz Fonseca. Para comprar só falta nesse momento o dinheiro cair na conta, e que deverá acontecer por esses dias”.

Sobraram 54 associados

No momento em que toda a situação da Coomaper estourou, eram 125 associados, mas apenas 54 se mantiveram, “Infelizmente uma dívida que foi criada por 125 sócios, pois todos tem sua parcela de culpa, hoje é paga por 54 associados”. Lembraram o presidente e o gerente.

Meta

Nós estamos num patamar que está na hora dos nossos cooperados terem retorno, o pagamento do leite está em dia, mas, ainda, devido todo o contexto da cooperativa, os cooperados ainda não viram sobras, pelo contrario os cooperados a anos vem investido na cooperativa, está na hora de inverter essa situação e essa é a nossa meta”.

O inviável de hoje é o viável de amanhã

Aplepi conta hoje com 64 associados desses, 57 entregam o leite para a Associação, que dá um volume de 140 mil litros de leite coletados ao mês.

Em Pinhão/PR, além da Aplepi, existe mais 4 empresas e cooperativas que compram o leite dos produtores, mas quem trabalha com o produtor que está iniciando, que tem uma pequena produção, é a Associação.

“A associação só existe porque nós só pegamos os leites que os outros não querem, que está em propriedades longes e de difícil acesso, que a produção é pouca’. O presidente Luiz destacou que a função da Aplepi é social, “Nós trabalhamos com os produtores que todos dizem que são inviáveis, os inviáveis de 7, 10 anos atrás, são viáveis hoje. Nós criamos outros inviáveis, que estão lá no fundo, com a sua pequena produção, mas nós queremos que eles cresçam e vamos até eles não só buscar sua pouca produção, mas orientamos, auxiliando no aprimoramento e melhora de sua produção”.

Muitos se vão 

“Temos no Pinhão outras empresas que compram leite, mas, esse atendimento de perto e valorizando, orientando o pequeno produtor, só nós fazemos. Quando o produtor começa a ter uma produção grande, aí os outros vão atrás deles, me lembrei do seu Gerson Ferreira: “A Coamig veio atrás de mim para pegar a minha produção, mas eu disse; quando eu entregava só um galão, quem veio buscar foi a Aplepi, agora que a produção está boa, vocês vêm, não, vou continuar com eles”.

Contudo, o presidente contou que o posicionamento do senhor Gerson não é comum, o rotineiro é a saída do produtor, “Quando o produtor está bem estruturado e com boa produção, é procurado pelos outros compradores. Infelizmente, um bom número deixa a Associação, mas, tudo bem, nós começamos de novo, com outro produtor, (muitos risos)”. E complementou, “Hoje em Pinhão todos os produtores de leite passaram pela Aplepi, mesmo os maiores”.

Leite da Vila

Tudo começou com uma proposta da montagem de uma plataforma que receberia todo o leite produzido no Pinhão, faria a análise e a venda, no entanto, as normativas que regularizam a produção e venda do leite mudaram e o transbordo, ou seja, a passagem do leite de um caminhão para outro, ficou proibido.

A plataforma que foi construída com o investimento de meio milhão de reais, não pode ser usada. “Para a construção dessa estrutura que hoje está instalada a indústria do leite da Vila, devemos as bombas, os equipamentos que tínhamos para trabalhar a  produção do leite ficava no Centro de Produção do município e as bombas invadiram o local e se não tirássemos de lá, íamos perder os equipamentos e aí nos obrigamos a nos agilizar”, contou entre risos o presidente.,

Para o pleno funcionamento do laticínio hoje, a plataforma faz a diferença, “É tudo feito dentro de uma estrutura que segue as normas com a rampa para recebimento do leite e tudo que é necessário, a plataforma hoje tem um papel essencial”.

Os equipamentos

Nada foi simples para estar comemorando um ano da produção do leite da Vila, “Dentro do projeto que foi feito, nós esperávamos, vamos dizer que, em relação aos seguimentos viria uma BMW e veio uma carroça. Tivemos dificuldade com os equipamentos, mas aprendemos a lidar com eles e hoje damos conta de fazer uma ótima produção”.

Para a realização do processo todo houve uma aprendizagem, “O primeiro dia da entrega do leite foi uma aventura, pois estávamos aprendendo, eu e toda a equipe passamos por uma aprendizagem, afinal, nós nunca tínhamos feito, não foi fácil até chegar ao teor certo de gordura, o Rafael se bateu, mas aprendemos”. Ele complementou, “A máquina de empacotamento nos judiou, mas hoje está redondinha, a visita do técnico custa 4 mil reais, mas o senhor é muito bom”.

A Produção Hoje

Da decisão de montar um laticínio e início do projeto para viabilizar capital em 2017, as dificuldades foram imensas, em 2020 o Laticínio da Vila começou sua produção, fez sua primeira entrega no comércio no dia 20 de dezembro de 300 pacotes do leite da Vila.

Em 2021, um ano após a primeira entrega, chegam toda semana aos consumidores 2.000 litros de leite.

O leite da Vila se multiplicou

Após um ano da primeira entrega do leite da Vila no comércio pinhãoense, o laticínio da Vila está produzindo mais quatro derivados do leite, o iogurte, o queijo, a manteiga e a nata, “Foi um ano  trabalhoso, tivemos problema até com raio, que derrubou um eucalipto e quase caiu em cima de nós, mas tem valido a pena, estamos aí com o leite e mais 4 produtos”.

Dos 5 produtos produzidos, o iogurte começou a ser entregue na primeira semana de dezembro e foram entregues 285 pacotes. Aqui é preciso destacar, um iogurte delicioso, pois tivemos a satisfação de prová-lo.

A produção do queijo gira em torno de 15 quilos por semana. A manteiga e a nata, a produção é em torno de 10 quilos por semana. A nata, por enquanto, é entregue só para o setor de panificação do município.  “Estamos começando, e devagar, pois tudo exige muito cuidado e zelo, a proposta é crescer à medida que vamos acompanhando a movimentação dos produtos no comércio, também temos muita preocupação com a qualidade do produto”, explicou o gerente.

Achar o produto da Vila é fácil

O pinhãoense encontra para degustar o leite, iogurte, manteiga e queijo da Vila em 54 estabelecimentos comerciais. São produtos que além de oportunizar uma saborosa experiência, promove o desenvolvimento local, pois da produção à industrialização acontece no município.

Valeu a pena

Se todo o trabalho que o presidente tem enfrentado valeu a pena para chegar ao laticínio da Vila, Luiz respondeu,

“Após um ano estamos entregando o leite num bom padrão. Depois de 8 meses de testes, estamos com o iogurte disponível ao consumidor com excelente qualidade e prazo de validade e mais o queijo e a manteiga, nos orgulhamos disso.

Tenho uma equipe muito boa, todos são dedicados, produzir o leite da Vila não é complicado, mas todos os dias têm umas coisinhas aqui, outras ali para ajustar, aqui a gente é meio bombril, faz tudo, a produção na verdade é trabalhosa.

Com certeza vale extremamente a pena, estamos plantando uma história que vai perpetuar e só vai crescer”.

Confira o vídeo da produção ao consumidor do laticínio da Vila

https://www.youtube.com/watch?v=l-ELv5shi3E

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