Foto: Nara Coelho

A doutoranda estuda a questão da mulher agricultora

Por Nara Coelho

Renata Borges Kempf é nascida e criada no interior do município de Pinhão, filha de Nilceu Kempf, o Zeca e de Dirceli Oliveira Borges Kempf, agricultores da agricultura familiar, ela sempre estudou na escola pública e sempre conciliou os estudos com a vida do campo, pois como ela mesmo afirma, na família agricultora todos tem suas responsabilidades.

Hoje com 26 anos, é formada em Economia, é mestre em Desenvolvimento Regional, doutoranda em meio ambiente e desenvolvimento, sua pesquisa é na área da sociologia rural e estudos de gêneros, com enfoque em formas de resistência de mulheres camponesas na UFPR Universidade Federal do Paraná.

Buscando conhecer novas realidades, Renata, resolveu fazer um intercambio com um Centro de Estudo de Gênero em Kali, Irlanda, enviou um projeto para realizar um ano do seu doutorado em uma universidade e foi aceita.

No sábado, 7 de setembro, na Feira do Agricultor, Renata concedeu uma entrevista para o Fatos do Iguaçu.

FI: Por que o intercâmbio?

Renata: Vai me permitir ver de perto outras realidades, vou ter principalmente contato com os professores e a estrutura da Universidade, quero ver se faço também um trabalho de campo.

FI: Você, como filha de agricultores do interior do Paraná está fazendo toda uma trajetória acadêmica, você considera esse fato comum, possivel a todos os filhos de agricultores?

Renata: Não é comum, mas é possível, talvez neste atual contexto político seja um pouco menos possivel, eu peguei um contexto bom. Possivel é para mim mesma num contexto favorável, foi difícil e imagino que para essa nova geração será um pouco mais difícil do que foi para mim, pois os programas de pesquisa estão perdendo as bolsas. Mas é possivel.

FI: Você manteve e de forma forte o vínculo com a sua origem, o que a levou manter esse vínculo?

Renata: Mulheres agricultoras, mulheres da minha família, a forma que elas viviam, foi o motivo que escolhi essa profissão. Quando fui, decidi o tema do TCC na graduação, conversando com a minha mãe vi que era interessante falar das mulheres agricultoras e quando fui pesquisar descobri que não havia material, que ninguém falava sobre as mulheres agricultoras. È um grupo muito peculiar, a mulher agricultora é diferente do homem agricultor e da mulher urbana e precisa ter um olhar diferente, até para que se possa lutar por uma política pública para elas e ter incentivo.  Se eu, filha de agricultor que vivi e cresci junto a essas mulheres agricultoras e sabia o quanto elas trabalhavam  e sofriam não me propusesse trabalhar com elas não poderia esperar que alguém que vive na cidade se interessasse por elas.

FI: Quais as diferenças que você percebe entre a mulher e o homem agricultor?

Renata: Tem no meio rural a cultura que o trabalho da mulher é considerado ajuda ou leve, independentemente do nível de grau de dificuldade ou horas trabalhadas. O trabalho da mulher acaba ficando invisível. O homem é considerado o chefe da família, é ele que cuida do dinheiro da família. A mulher trabalha tanto quanto ele, mas precisa pedir dinheiro a ele. A mulher geralmente trabalha com a horta, que é um trabalho que exige esforço físico e horas, mas não rende economicamente como uma roça de feijão, mas contribui no lar, mas não é reconhecido. Na verdade, na ponta do lápis o rendimento é igual, mas na roça o dinheiro entra no volume. À mulher cabe culturalmente o trabalho leve, mas observe que esse leve é cultural também. Aqui no sul é serviço de homem, aí ele é considerado pesado, já no nordeste esse serviço é das mulheres por isso lá é considerado um serviço leve.

FI: A mulher agricultora se vê como uma trabalhadora?

Renata: Pelo exemplo do carpir a gente vê como é importante estudar a vivência das mulheres e discutir essa rotina que as tornam invisíveis. A mulher agricultora quando perguntada o que ela faz, elas respondem geralmente que são donas de casa e ela trabalha e muito em toda a propriedade, ela é agricultora. Estudamos e olhamos para esse sistema para rompê-lo e modifica-lo dando visibilidade ao trabalho da mulher e sua atuação na família agricultora.

FI: Agricultor tem tempo para o lazer?

Renata: A família agricultora tem muito pouco tempo para o lazer e a mulher agricultura tem menos ainda. As nossas pesquisas mostraram que os homens têm horario para ver a televisão e jogar futebol, já as mulheres quando estão vendo televisão estão passando roupa.

FI: Houve avanços em relação às mulheres agricultoras?

Renata: Se compararmos entre a minha avó, mãe e eu agente, ainda vive da mesma forma, o que não é ruim, nós conquistamos novos direitos, mas na agricultura conseguimos manter muito da cultura e da nossa maneira de olhar para o mundo, é um trabalho de tentar manter o que é bom, que é a nossa cultura, nosso modo de viver, de trabalhar, mulher e homem sempre trabalhando junto e na mesma intensidade, mas você acrescentar o que é de bom, que valorizar o trabalho da mulher, até porque todos tem valor e merecem  cuidar do dinheiro que produzem. Na verdade, independente se a pessoa vive no interior ou na cidade, o que é importante é que as pessoas tem que ter o direito de escolher e por isso é tão importante que a informação seja de acesso a todos para que possam realizar suas escolhas.

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