Francisco Carlos Caldas

Acompanhando e sensibilizado com as agruras dos agricultores em relação a  estiagem de meses atrás e a chuvarada de janeiro/2021, algumas pragas,  reforçamos entendimento do quão é espinhosa  e de elevado risco a  atividade agrícola. E há ainda, vendavais, granizo, as oscilações de preço e inseguranças da política agrícola.

          As plantas, organismos e natureza têm todo  um sistema de absorções para o seu desenvolvimento e tudo ao seu tempo. Tem momentos e necessidades de nutrientes, fertilizantes, adubos,  água, sol, defensivos agrícolas.

            A agricultura orgânica é na teoria muita linda, mas na prática e para maiores produções só alguns se mantêm. É que nem gado, sem alimentação (pastagens, silagens), sal,  vacinas, água, defensivos,  cuidados diversos, entre os quais com combate a carrapatos, bernes, não há como desenvolver a atividade pecuária.

          No ano passado fizemos em Reserva do Iguaçu, uma lavoura em torno de um alqueire de milho para silagem e o dispêndio com o gasto de R$2.106,41 de calcário, foi em torno de R$7.000,00. É tudo muito caro, e ser pequeno ou médio produtor rural, não é nada fácil, e até porque tem que se valer de maquinários velhos, terceirização, e encontrar gente que goste e seja motivado de trabalhar, não é fácil de se encontrar, ainda que no meio rural um salário bruto  esteja em  R$1.383,80, um custo mensal   para o empregador de R$1.532,68,  e computado férias e 13º. salário – em torno de R$1.850,00, e ainda fornecimento de moradia e local para hortinha.

No meio rural com pequena horta, frutíferas e um espaço com mandiocal, com menos dinheiro se vive, mas para manter um empregado em certas áreas de matas e faxinais, e que não tenha área mecanizável para alguma lavoura, silagem, pastagens como brizantão, hermatria, capiaçu e outras,  no fazer as contas  e a luz das leis ambientais, a matemática  é bem desfavorável a atividade.

Em Reserva do Iguaçu, minha esposa e filhos tem uma área de  189,89 ha quase só de matas se não for aplicado recursos de outros fontes, não se mantêm e gado lá é retirado no inverno, e  ainda furtos de gado lá já ocorreram, e  vizinhos mais distantes continuam vítimas de abigeatos.

            Lavoura é uma espécie de indústria a céu aberto, e o agricultor fica sujeito aos efeitos das variações climáticas, ora falta de chuva (seca), hora chuva em excesso, e outros fenômenos de intempéries, como vento, granizo, pragas, e variações de preços, em que pequenos e médios por terem que pagar financiamentos com prazos pré-estabelecidos, não tem poder de escolher as melhores ocasiões de venda. E em termos de renda, e riquezas, os rios correm sempre para o  mar. E quem é forte nada de braçada e merecidamente fica mais forte e gera empregos e rendas.

          Na pecuária o pequeno e médio ainda você sobrevive, e tem possibilidade de se manter sem se quebrar, mas já a atividade agrícola, é muito complicada e cruel para pequenos e médios produtores, elevados custos; em regra tem que lidar com maquinários velhos, que é natural quebrarem e precisarem de manutenções com frequência, e no frigir  dos ovos, dá mais trabalho e preocupações do que lucro. A pecuária para quem tem terras quase só de matas, e que não pode fazer pastagens em área mesmo que não precise derrubar pinheiros, imbuias, cedros, enfim, árvores de maiores relevância, não estão autorizando desmates mesmo que em áreas adequadas a plantios e pastagens, e estejam asseguradas reserva legal em mais de 20% da área e as APPs., estejam todas preservadas.

E quando autorizações ocorriam, era muito demorado, burocrático, oneroso e se enfrentava uma quase espécie de via crucis/calvário. E sem autorização do IAP/IAT, nem uso de uma árvore para fazer um caixão para não ir para cova numa lona, mesmo que o falecido tenha sido preservacionista/ecologista.

E punições de multas e crimes, só falta ocorrem até em cima de quem esteja apenas fazendo limpezas de áreas entre meio a árvores, até para combate de caraguatás, catiuns, cipó de macaco, capim de cachorro, assa peixe e coisas do gênero. Há situações de crueldade e injustiças em algumas atuações, e que se pegam alguns como “bodes expiatórios”, para justificar operações e se  fazer promoções publicidade em cima de multas e desgraça dos outros.

    Francisco Carlos Caldas, advogado,  rurícola, municipalista e cidadão.

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