E ontem foi dia de tomar café com as amigas.

Com as amigas, seus filhos, maridos.

Nós nos reunimos todas.

Assim, quase todas.

Uma, que mora em um bairro mais longe, não conseguiu vir.

Mandou um vídeo para o grupo, participou rapidinho.

Outra estava viajando.

Ficou um tempão em uma chamada telefônica, estava em um local sem internet.

Outra ainda, a que mora longe de verdade, na Inglaterra, ficou o tempo todo com a gente por uma chamada de vídeo.

Cheguei atrasada e os grupos já estavam divididos: homens, mulheres, crianças.

Todos conversando, comendo, divertindo-se, cada qual a seu próprio modo.

Foi quando começamos a cumprir o propósito pelo qual essa reunião foi feita.

Esse grupo é formado por mulheres que se conheceram ainda meninas.

A faixa etária varia um monte e eu tenho o privilégio de ser a mais velha.

Engraçado como fomos nos unindo, nos juntando, misturando.

Hoje, enquanto cumpríamos o propósito pelo qual nos juntamos, ouvi mais de uma vez:

“Conheci essa menina quando ainda era criança.”

Sinal claro de que lá se vão décadas.

Mais de uma, muitas vezes.

Uma delas que ali estava é filha da minha professora da segunda série. Ela estava “muito grávida” quando me deu aula.

Outra foi aluna da minha mãe no ano em que minha avó morreu e, por isso, eu acabei dando aula pra ela por uns dias.

Fomos todas aos casamentos uma das outras.

A não ser de uma delas, que ficou durinha nas pernas e casou logo, antes que nós chegássemos a sua vida.

Ao menos a maioria de nós.

Outras estudaram juntas desde a infância, começo da adolescência.

Meu marido deu aula para muitas delas e hoje meu príncipe é o melhor amigo do filho de uma.

As filhas de duas foram minhas daminhas.

Fui madrinha de uma delas.

Duas foram minhas madrinhas.

Ou seja: nossas histórias foram se entrelaçando ao longo do tempo de uma maneira tão fantástica e indescritível que não dá para dizer assim:

“Foi aqui que nos encontramos, juntamos, misturamos.”

Foi a vida que nos trouxe uma para perto das outras, nos ajuntou, misturou e nos fez um grupo, o Grupo das Meninas.

E eu acho encantador como ele funciona.

Não pode ninguém expressar uma necessidade que a solução surge de maneira espontânea.

Dia desses, pedi a indicação de um pediatra.

Uma amiga minha, de  outro grupo, estava precisando de um.

Recebi a indicação de uns 10 em poucos minutos.

Em outra ocasião, uma amiga precisava de alguém para fazer uma palestra em sua escola sobre prevenção ao suicídio. Falei com a psicóloga do grupo. Perguntei se podia passar seu telefone para a moça, ela disse que sim.

Passei e esqueci, nem fiquei sabendo se tinha dado certo.

O tempo voou e, num belo dia, ela manda no grupo uma mensagem de voz toda emocionada:

Tinha atravessado a cidade, ido a uma região bem carente e distante para dar a palestra e tinha sido maravilhoso.

E assim é com tudo.

Qualquer tipo de consultoria, aconselhamento, lugar pra chorar, gargalhar é só chegar e falar.

Sempre tem um colo amigo, um conselho, alguma delas, quando não todas, disposta a ouvir, auxiliar.

É um porto seguro em meio a tantos grupos cheios de bom dia, boa tarde, boa noite vazios.

Hoje, nós nos encontramos para revelar nossa amiga de oração.

Não sei o que você pensa sobre isso, mas nós oramos e isso nos faz bem.

Por isso, oramos umas pelas outras.

Há alguns meses, a mentora no grupo nos propôs que fizéssemos um “amigo oculto de oração” e assim o fizemos.

Quanto à mentora eu esclareço: é aquela que se lembra do aniversário de todo mundo, que marca os encontros e que responde a todas as besteiras que qualquer uma de nós fale. É quem mantém a liga do negócio.

E, assim, proposta aceita, fizemos o sorteio virtual com os pedidos e começamos a orar.

A data da revelação parecia distante…

Até porque a data é justo uma semana antes de uma delas mudar-se de mala, cuia, filhos e maridos para o Canadá.

E, hoje enquanto nos despedíamos, dessa que foi nossa última reunião por agora, com quase todo mundo junto, ouvi a seguinte frase:

“Agora, nós, que já tínhamos uma casa na Inglaterra para visitar, vamos ter uma também no Canadá.”

Não gosto dessa frase.

Eu não tenho o costume de visitar os amigos.

Não vou à casa dos que moram no meu bairro, aqui na cidade, os que moram do outro lado do mundo podem ficar tranquilos: certamente eu jamais vou aparecer.

Mas a data que parecia distante chegou rapidinho e foi emocionante, deliciosamente emocionante ouvir as declarações de amor e amizade do nosso grupo.

São reais, inspiradoras, sinceras.

A tecnologia nos dá a alegria de nos mantermos sempre unidas.

Porque, mesmo todas morando no cerrado, se não fosse a tecnologia, sabemos com tranquilidade que não estaríamos assim tão próximas.

E, mesmo que agora seja cada dia mais difícil nos reunirmos de fato, as agendas sejam cada dia mais lotadas, é confortante saber que, não importa onde cada uma de nós esteja, quando o grilinho do Whatsapp gritar, haverá uma rede de apoio, um Grupo de Meninas para um socorro mútuo e eficiente!

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

 

 

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