A luta é da região, mas pinhãoense tem que liderar
Fatos do Iguaçu entrevistou o ex-secretário de Turismo de Guarapuava, Jeferson Luis Rezende sobre Faxinal do Céu.
Por que entrevistamos o Jeferson Luis Rezende? Porque há mais de uma década ele luta por essa região e tenta mostrar ao governo do Paraná o viés do negócio turístico que há em Faxinal de Céu que possibilitaria alavancar a região. Porque ele esteve no começo do mês de março em Faxinal do Céu e se assustou com o que viu. Se indignou, já tomou algumas atitudes.
“O que vi me deixou muito triste”
“Eu estive lá outro dia, andando por Faxinal do Céu, fiquei chateado e triste, a perda está a olhos vistos, a manutenção é inexistente, o mato está comendo solto, o que não era visto lá até bem pouco tempo atrás. As pontes já estão com danos, se percebe que não está ocorrendo manutenção, parece que é uma operação de desmonte de Faxinal, inviabilização de exploração do local”.
Dinheiro público virando mato
Faxinal do Céu é um distrito do municipio de Pinhão/PR, nele está a Vila Residencial da Copel, o Jardim Botânico, uma estrutura para eventos que inclui dois anfiteatros que comportam cada um em torno de seiscentas pessoas.
Toda uma estrutura de chalés e um restaurante, um clube com piscina e tudo. Sem contar que em seu entorno está o alagado, que é em boa parte navegável.
Que foi todo construído com dinheiro público, inclusive em 2015 foi investido mais de R$ 6 milhões para melhorar a sua estrutura, entre 2019 e 2020 foi feito novo investimento, sendo realizadas melhorias e calçamentos para atender as necessidades de acessibilidade de todos que visitam ou moram na Vila Residencial. “Não explorar turisticamente é rasgar dinheiro, o espaço está preparado para eventos de vários tipos e estilos, as calçadas estão com paver, com os detalhes para inclusão inclusive interligando o Caminho das Azaléias”.
Pano Preto sob Faxinal
“A pergunta que sempre fica, é por que a Copel insiste em colocar um pano preto em cima de Faxinal do Céu e ignora seu potencial turístico.
A Copel nunca quiz explorar aquele espaço como turismo, nunca disse não, mas nunca fez nada também para que acontecesse. Ela ficou, fica sempre em cima do muro.
Não entendendo esse pano preto que se coloca sobre Faxinal a Copel, não explora e não deixa outros explorarem, oficialmente não diz que impede, mas, no oficioso, é o que acontece”.
Jeferson lembra que a Copel tem uma dívida social com a região, “Como fica a responsabilidade dela em relação aos danos ambientais e sociais que a implantação da usina gerou, ela precisa compensar isso.
Ela não pode simplesmente se livrar daquilo é preciso que ela dê a concessão para a iniciativa privada, mas em forma de licitação e que acompanhe, auxilie, incentive, apoie enfim dê o suporte necessário até a engrenagem caminhar por si.
Polo Náutico
Em 2013, Fatos do Iguaçu, visando mostrar o potencial turístico de Pinhão, fez a edição especial de aniversário do municipio com o tema: “ Pelos caminhos de Pinhão você encontra…” Nela há uma reportagem com o Jeferson Luis Rezende sobre o projeto de transformar o alagado do municipio de Pinhão em um Polo Náutico, que levaria a utilizar toda a estrutura de Faxinal do Céu para a exploração turística e alavancaria a geração de renda e emprego no municipio e região.
“A gente vem desde 2010, quando estivemos na secretaria municipal de Turismo de Guarapuava, tentando fazer o setor da economia ligado ao turismo girar nessa região, pois potencial há e muito.
Na época encontrei na caminhada Faisal Saleh, que era o secretário estadual do Turismo, com o Pedro Guerra, que era presidente da Ecoparaná e mais algumas pessoas do IAP, que viam o quanto era viável a proposta e importante para alavancar a economia da região”.
Copel nunca se fez presente
“A Copel nunca participava das reuniões que discutia o projeto, não se manifestava, em apenas uma reunião tivemos um representante da empresa que não era nem diretor”.
Contudo, todos os órgãos diziam que tudo dependia da Copel, “Toda vez que a gente discutia com a secretaria de Turismo e com a Ecoparaná e mesmo com o IAP, se parava a discussão com a frase, “não pode, se a Copel não quiser que aconteça, não pode ser feito”, isso deixa claro que a empresa nunca quis e não quer a exploração do turismo lá, mas também nunca explicou por que”.
Fundação foi mais um disfarce
Quando a Copel autorizou a criação da Fundação Fundere, a esperança de que finalmente o negócio do turismo ganharia corpo, mais uma vez foi ilusão, “A nítida sensação que fica é que a Fundação foi criada para, de uma certa forma, dar um cala boca nas pessoas que sempre lutaram pela exploração turística da região, contudo, mais uma vez foi só para inglês ver, na hora H eles recolheram o trem de pouso e arremeteram o avião, simplesmente agora estão desativando a Fundação”.
Governo do Estado
O que se observa em todos os projetos da área de turismo e mesmo da fala do secretário do Desenvolvimento Sustentável e Turismo do Paraná Márcio Nunes, é que não existe nada pensado para a região que inclua o Faxinal do Céu. “Está muito claro e não é de hoje que o governo do Paraná não tem compromisso com o negócio turismo, mais ainda da nossa região e de Faxinal do Céu”.
Precisa ter transparência
“Nós, paranaenses, precisamos cobrar que as ações e decisões da Copel sejam mais transparentes, pois ela é uma empresa pública e tudo deve acontecer de forma muito transparente, o que infelizmente não é”.
Foi conversa fiada?
No dia 19/06/2019, publicamos a reportagem: “Jardim Botânico agora tem espaço de acolhimento ao visitante”, na qual o Secretário Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Turismo do Paraná, Márcio Nunes, que esteve presente para a inauguração, declarou que estaria incentivando o turismo na região, disse ele na época, “É muito bom estar aqui, ver essa obra que foi toda realizada com materiais reciclados em um espaço que, com certeza, já promove o turismo, mais ainda, vai ser muito mais impulsionado, contribuindo para o desenvolvimento de toda a região”.
Pelas ações da Secretaria fica a nítida impressão que era tudo conversa fiada, já que não há projeto para essa área e a bem pouco tempo a secretaria lançou um projeto para alavancar o turismo da cidade vizinha e ignorou por completo o potencial turístico de Pinhão e Reserva do Iguaçu, como se o museu do Iguaçu e o Jardim Botânico e toda as belezas em volta não fossem “produtos possíveis de serem vendidos como turísticos”.
“É produto turístico sim”
“Essa região aqui é uma das regiões com IDH mais baixo do Paraná. Como se reverte isso? Com geração de emprego e renda e o investimento no turismo em Faxinal você viabiliza muito emprego para os filhos da terra, moradores da região”.
Jeferson que conhece bem a área de turismo, tanto por ter sido secretário, como apaixonado pela questão e um turista por vocação afirma, “Faxinal do Céu e toda sua estrutura é um potencial turístico, absoluto, que Faxinal tem a exuberância da natureza, cada estação é um novo lugar, sem falar no turismo de eventos que toda a estrutura permite explorar, um Jardim Botânico estupendo, um alagado que pode ser explorado tanto para pesca como para esportes náuticos. O que precisa ser feito é decidir vender e glamourizar o produto, o que Itaipu fez na região da usina e Gramado fez no Rio Grande do Sul e Santa Catarina fez com o Cemitério do Contestado”.
Ele complementa, “É um crime com a população da região o governo não propor a exploração turística desse espaço”.
O governo do Paraná é quem decide
Jeferson lembra que na realidade a decisão sobre o destino das estruturas do Faxinal do Céu, em Segredo, no municipio de Reserva do Iguaçu é do governador do Paraná, Ratinho Júnior, “Eu já dizia e continuo afirmando, posto que a Copel é uma empresa mista, mas quem detém o controle acionário é o governo do Paraná, tanto é que diretoria é toda escolhida pelo governador. Fica evidente que o governador tem um amplo poder de comando na Copel, inclusive para interferir e determinar os destinos do Faxinal do Céu e demais estruturas”.
Pinhão precisa liderar
O ex-secretário acredita que toda a região deve abraçar essa luta, pois promover o negócio turismo a partir do Faxinal do Céu e seu alagado é promover esse viés econômico em toda a região.
Contudo, ele lembra que Faxinal do Céu pertence a Pinhão, são os pinhãoenses que devem liderar essa luta, a chamada tem que vir daqui, “É preciso que haja uma união muito forte das lideranças de Pinhão, de todos os partidos políticos, dos empresários, do executivo, associação comercial, sindicato rural, imprensa, ou vamos perder Faxinal e uma grande oportunidade de ter um novo ciclo de geração de emprego e renda, um ciclo forte”.
Não ao desmanche
“De fato é preciso que a Prefeitura e Câmara de Vereadores, sociedade organizada exija do governo do Estado que toda essa exploração aconteça, como sempre foi prometido, é preciso dar as mãos e dizer não ao desmanche”.
Completa Jeferson, “Se o governo do Paraná não comprar essa ideia, não resolve nada, porque a decisão mesmo está na mão do governador”.
Tem até aeroporto
“Para facilitar inclusive a organização de voos organizados, fechados para pacotes de turismos em Faxinal do Céu, tem um ótimo Aeroporto pavimentado, que passou a pouco por reformas com 1500 m de comprimento por 30 m de largura e a 1.128 m de altitude, isso quer dizer que um voo com 70 pessoas aterriza tranquilamente, como um jato também aterriza”.
Guarapuava é ali
Além de ter um excelente aeroporto em Guarapuava, que de lá para Pinhão é um pulo e já se pode explorar uma rota turística nesse trajeto”.
Iniciativas
Não se conformando com o que viu e lutando para que o que parece estar para acontecer, que é o abandono de todas as estruturas que poderia gerar renda e empregos, Jeferson Luis Rezende enviou aos deputados Artagão Junior, Alexandre Curi, Hussein Bakri, que é o líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná, um documento solicitando que eles buscassem junto ao governo uma posição e solução para a situação.
Entrou em contato com o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolfo Botelho, que se mostrou disposto a entrar nessa luta.
Será que Itaipu está tão errada?
A usina de Itaipu em Foz do Iguaçu, percebendo o alto índice de pobreza na região em seu entorno, criou uma fundação, passou a explorar o turismo e transformou a realidade da região, “Finalizo perguntando, Itaipu está tão errada assim de explorar o turismo, investir no turismo e com isso impactar toda a costa oeste de Foz do Iguaçu a Guaíra, todas as cidades lindeiras do alagado de Itaipu de algum modo são beneficiadas pelo investimento de turismo feito pela Itaipu que, como a Copel, é pública. Será que é a Copel que está certa em fazer esse caminho inverso de desmanche e ignorar um exemplo de como o turismo transformou aquela região? Não podemos adotar modelo parecido? Penso que é preciso chamar a Secretaria de Turismo para a ação, para ser responsável para comandar a exploração do Faxinal do Céu e demais áreas e ela precisa fazer a coisa acontecer, para isso, o governo de estado precisa se posicionar e autorizar”.