Partilha que teve benção dos alimentos e presença de autoridades, faz parte da agenda nacional do MST contra a fome.

Por Rita Hilachuk    |  Fotos: Valmir Fernandes

Batata-doce, feijão, arroz, mandioca, frutas e verduras – estes eram alguns dos alimentos que compuseram as cestas de alimentos doadas pela união de famílias camponesas em várias cidades da região centro-sul do Paraná, na sexta-feira (17). A ação faz parte da campanha “Natal Sem Fome: Cultivando Solidariedade para Alimentar o Povo”, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Dona Ivone Aparecida Ribas é moradora do Invernadinha, um dos bairros por onde a caravana de doações passou. Há 16 anos residindo no bairro, ela destaca que os moradores passam por muitas necessidades, como falta de água, de luz e de saneamento básico. “O povo é bem carente aqui, nós precisamos de bastante ajuda também. Não só pra mim, como para todo o povo que mora aqui que precisa. […] Graças a Deus tem bastante ajuda, como a de vocês hoje. Doando essas cestas, vocês ajudam bastante”, ressalta Ivone.

As preparações para a ação solidária começaram já em junho deste ano. Os alimentos foram produzidos em hortas coletivas e espaços de produção agroecológica.
“É muito gratificante poder compartilhar aquilo que a gente tem de sobra na mesa da gente. Tem muitas pessoas que às vezes não tem o alimento. Então é uma satisfação muito grande poder colaborar e repartir”, falou Valdivino José Nunes, do acampamento Nova Aliança.

Esta é a quarta campanha de doação de alimentos feita na cidade pelo MST, em um momento que marca os quatro anos do despejo violento sofrido pela comunidade de posseiros Alecrim, localizada em Pinhão. No dia 1º de dezembro de 2017, foram destruídas diversas estruturas coletivas e particulares da comunidade, construídas ao longo de 20 anos, como igreja, posto de saúde, padaria comunitária e espaços de lazer. O despejo ocorreu em favor das Indústrias João José Zattar S.A., madeireira que está entre as maiores devedoras da União.

“Ontem nós fizemos a cesta e era um orgulho imenso. Faz 25 anos que eu moro aqui e conheço todos os meus companheiros aqui, nunca nós precisamos ir na prefeitura ou em algum outro órgão pedir uma cesta. Sempre nós temos para dar. Até que eles vieram aqui e tiraram nós da terra. E a gente passou aqui por uns momentos complicados, por estar fora da propriedade. Mas desde que nós retornamos, até hoje nunca pedimos uma cesta. Nós fizemos doação daquilo que a gente consome na casa. O que nós temos dentro da geladeira, nós doamos para as famílias carentes”, destacou o agricultor Alduino Grando, da comunidade Alecrim.

Desembargador do TJ-PR realiza visita técnica às comunidades
A programação teve início com a benção dos alimentos, feita pelo padre Claudemir da Silveira Didek, da Paróquia Divino Espírito Santo, de Pinhão, e do Padre Valdecir Badzinski, Secretário-Executivo do Regional Sul 2 da CNBB.

A ação foi acompanhada por integrantes do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) Fundiário e da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). O órgão realizou visita técnica às famílias das comunidades da Reforma Agrária e comunidades de posseiros de Guarapuava e Pinhão, entre os dias 16 e 17 de dezembro.

Entre as autoridades presentes estava Fernando Antônio Prazeres, desembargador, presidente da Comissão de Conflitos Fundiários do TJPR e Membro do CEJUSC Fundiário. Representantes da Defensoria Pública Estadual; do Ministério Público do Paraná, da Casa Civil do governo estadual, da Superintendência Geral de Diálogo e Interação Social (SUDIS) e da organização de Direitos Humanos Terra de Direitos.

Nelson Preto, integrante da coordenação do MST e morador do assentamento Nova Geração, de Guarapuava, avalia de forma positiva a visita das autoridades: “Como saldo dessas visitas, temos mais aliados na luta pela terra. Viram a realidade, o que foi o despejo do Alecrim. Viram como vivem e sobrevivem tanto as famílias acampadas da Reforma Agrária popular, como os posseiros aqui da região”.

“A luta pela terra é tudo. Quando você tem a terra você consegue produzir alimentos saudáveis, autossustentação. Estamos na nossa quarta campanha e ela vem demonstrando tanto pra fora do MST– parou aquela ideia que nós, famílias do MST somos um bando de bandidos, baderneiros, etc – e para dentro veio a satisfação de que a terra tudo produz e de poder doar para o próximo”, finalizou.

“Natal Sem Fome” por todo o Brasil
As partilhas do “Natal Sem Fome” que ocorrem nacionalmente, iniciaram-se em 10 de dezembro e vão até 6 de janeiro. A expectativa é distribuir 5 mil toneladas de alimentos saudáveis (o equivalente a 1.000 caminhões cheios) e 1 milhão de marmitas solidárias
A campanha tem como objetivo levar alimentos para as famílias urbanas que passam por insegurança alimentar (situação que se agravou com a pandemia de Covid-19) e também dialogar com essa população sobre como o desmonte das políticas de subsistência vem sendo promovidos pelo governo Bolsonaro e os desafios de superá-los enquanto força popular.

As ações fazem parte da campanha de solidariedade que começou no início da pandemia da Covid-19. Ao todo, somente no Paraná, mais de 830 toneladas de alimentos foram partilhadas por famílias do MST de abril de 2020 a novembro de 2021.

Nesta ação de Natal, a expectativa é atingir 95 toneladas de alimentos frescos e industrializados e 3 mil marmitas, em 30 cidades do estado. As primeiras doações começaram no dia 13 de dezembro em São Miguel do Iguaçu, no oeste, e seguem até o dia 23.

Participam do “Natal Sem Fome” em conjunto com o MST, diversos movimentos, organizações e entidades que praticam o enfrentamento contra a fome e a insegurança alimentar.

As ações contam com o apoio do conjunto da sociedade. Para aqueles que querem contribuir com qualquer valor para doação de alimentos e para a realização de ceias populares, os dados bancários estão abaixo.
Caixa Econômica
AG 1231
CC 2260-1 OP 003
CNPJ 11.586.301/0001-65
PIX [email protected]

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