Mais uma crônica de Francisco Carlos Caldas

 Na época da minha infância e até a década de 1960, entre outras coisas, muita gente andava descalços, se pedia bençãos para pais, padrinhos, tios; se respeitava bem os mais velhos, as traquinagens  eram por pura diversão e por não se ter muitas alternativas do ócio; a gente tinha poucas roupas e os mais novos usavam as roupas dos irmãos mais velhos; não havia transporte, merenda e uniforme escolar, a não ser guarda-pós que cada um adquiria o seu, andava-se muito de carroça,  equinos e muares, de “carona”, deslocamentos e comunicações  difíceis e demoradas. Bicicleta era um artigo de luxo, que só empregados e alguns filhos privilegiados tinham; o mesmo se diga, de bolas couro (capotões) que só alguns poucos tinham, e os mais carentes, brincavam com bolas de plásticos ou feitas com meias estragadas.

        Na Escola primária, carteiras eram duplas, em 1963-1967, lembro de canetas com tinteiros, e guarda-pós rebocadas; recreio era o ponto alto, e ser privado dele era um grande castigo; predomina materiais em pacotes plásticos, raro alguém ter alguma bolsa, pasta ou sacola, e havia uso da régua, sermões impactantes, e muito respeito a professores e autoridades.

       Na saúde, na minha infância só uma vez que um médico me examinou. Dr. Eloy Pimentel, e eu deitado num banco de ripinhas na área da casa de minha avó materna Querobina Rocha Dellê; e remédios, quase sem e só uso de  chás caseiros, que nem o músico gaúcho Teixeirinha, que dizia numa canção que havia se criado sem conhecer remédio. E ninguém tinha consultas médicas e remédios de graça. E a maioria dos partos, eram por parteiras. A Dellezada, pelas mãos de Coralina de Oliveira, que chamavam de madrinha Corá, e os nascidos na década de 1950, com ajuda de Dona Tereza Ressai.

         Sem saudosismos e um tanto de nostalgia por causas de entes queridos que se foram e alguns valores e princípios deixados de lado, estamos fazendo essa retrospectiva e mergulho no tempo, para chamar reflexões da geração dos tempos hodiernos, que têm um montão de aparatos, facilidades e brinquedos, inclusive os mais pobres, e que a regra não valorizarem os benefícios que hoje têm, onde o próprio atendimento da saúde, foi universalizado pelo Sistema Único de Saúde-SUS, independentemente de contribuições para o INSS, e SUS que apesar da deficiências, é uma grande conquista, que precisa ser melhor usada e valorizado.

        Há um ditado que diz que quem não valoriza e zela do que tem, não pode reclamar o que não tem. E em função dessa cultura consumista que nos corrói, sofremos hoje, com as correrias para dar conta e pagar um montão de bobagens, desperdícios, supérfluos. E no trabalho, muitos no devagar quase parando, e até com enrolações. Mas em relação aos outros, o querer e reclamações de que atendimentos todos sejam rápidos, eficazes e eficientes.

       E mais um grande paradoxo, com todos aparatos tecnológicos, deveríamos ter mais tempo, para bate-papo, passeio, recreações simples e usufruindo as belezas e riquezas de nossa Natureza, ócio criativo;  e o que está a ocorrer na prática: não tempos tempo para essas coisas boas da vida, e como água, saúde, terras, habitação, amigos e parentes que queremos bem, muitos só valorizam mesmo depois que perdem, e aí, muitas vezes é tarde.

(Francisco Carlos Caldas, advogado,  municipalista e cidadão. E-mail “[email protected]”.

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