Um sábio é capaz de mudar de opinião e não morre por isso; o boca-aberta não, esse é capaz de acabar com o mundo, mas não muda de jeito nenhum. Dizem por aí que quem falou isso foi o mané do Kant. Bobagem. Até onde sei quem disse isso foi seu Tibúrcio ao Nhô Juvêncio.
Independente de quem seja o pai da sentença, temos aí uma puta verdade que revela algumas inconveniências que, frequentemente, preferimos varrer para debaixo do tapete da vida.
Uma delas: nós estimamos demais nossas opiniões, ao mesmo tempo em que fazemos pouco caso da procura sincera pela verdade.
Uma opinião é, por definição, uma impressão imprecisa sobre algo; impressão essa que deveria [e deve] ser devidamente trabalhada, lapidada por nós através da obtenção de mais informações, da confrontação com outros pontos de vista e, é claro, com o auxílio de uma reflexão bem bandida sobre tudo isso com o intento abnegado de obter uma compreensão mais clara sobre a verdade que se faz latente nos fatos.
Devemos fazer isso não para, necessariamente, obtermos a confirmação de nossa opinião, pois, gostemos ou não, ela pode estar errada, redondamente errada.
Por isso, o sábio é capaz de mudar de opinião, porque ele está à procura da verdade, não da confirmação de suas impressões; ele não está muito preocupado com a pose de sabido. Já o tonto não, para ele suas opiniões são quistas como “verdades” incontestes e, por isso, elas são parte fundamental de sua fantasia de sabichão.
Tem outra: em nossa sociedade há, desde longa data, um culto bem bobinho que é feito aos símbolos de status social e, nesse sentido, o diploma, a educação formal e seus salamaleques, ganham uma importância sem par; isso se deve, em muito, ao fato de que muitas pessoas não tem o menor amor ao conhecimento, restando apenas a ostentação tola de símbolos que, como direi, não tem substância alguma.
Parêntese: toda ostentação é boba, mas essa é campeã. Fecha parêntese.
E reparem numa coisa, que aprendi com seu Tibúrcio e com o Nhô Juvêncio: todo caboclo que valoriza demais os símbolos de status social, geralmente não tem nada de significativo pra dizer sobre coisa alguma, porque seu coração não estava e não está voltado para a direção da procura sincera pelo conhecimento da verdade.
Qualquer um que valore demais tais símbolos quer apenas algum reconhecimento, alguma distinção para adornar sua opinião, pouco importando se ela está ou não apontando para a direção da verdade.
É. Por isso que a imagem de um sábio está mais próxima do perfil de um homem comum do que da figura dum douto diplomado. Desde os tempos de Sócrates – que antes de qualquer coisa era somente um homem comum – a humanidade sabe disso.
Sabemos, mas varremos isso para debaixo do tapete da história.
O sujeito comum, que ganha a sua vida com o trabalho de suas mãos, sabe que sua opinião é apenas o que é: uma impressão vaga e confusa sobre algo, por isso muda-a, corrige-a e, se preciso for, joga-a fora sem o menor pudor.
O diplomado não. Esse constrói sua vida, seu precioso currículo, sobre opiniões vagas e ideologias confusas, ganhando sua vida com isso e, por essa razão, quando se depara com a verdade, fica bambo das pernas; mas não renuncia a elas em favor da simplicidade da verdade; se as renegar estará admitindo que sua vida até ali foi um tremendo autoengano.
É. Eu sei: isso é triste pra caramba, mas é assim mesmo que a banda toca.
Para ser franco, por mais que doa, penso que isso é necessário, que confessemos no tribunal de nossa consciência essas vergonhas existenciais. Sim, fazer isso é algo humilhante, mas necessário para nos emendarmos e, quem sabe, possamos nos tornar gente de verdade.
Sócrates, Santo Agostinho e tantos outros sabiam disso, seu Tibúrcio e Nhô Juvêncio também e, ao que parece, apenas nós não estávamos por dentro desse barato de que uma opinião se muda, a verdade se procura e a vida se confessa diante do altar da consciência.
Ponto. É isso. Fim de causo.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela e-mail: dartagnanzanela@gmail.com blog: arquimedico.blogspot.com