Elis Carraro – jornalista do Fatos do Iguaçu
Conheça a história de duas mulheres pinhãoenses que complementam a renda familiar com seu trabalho artesanal
Economistas afirmam que mais de 50% das empresas abertas nos últimos três anos no Brasil, são chefiadas por mulheres, e não é novidade que as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço em setores onde a presença masculina predominava.
No entanto, recentemente, pesquisas apontam que além de funcionárias, elas também ocupam cargos de liderança e gestão. De acordo com o Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas elaborado pelo Sebrae em 2014, na última década, o número de mulheres empreendedoras aumentou 18%, enquanto que o de homens cresceu 8%.
Ainda, de acordo com o Anuário, se forem analisado os negócios abertos há menos de três anos e meio, a taxa de empresas gerenciadas por mulheres chega a 50%. Do número total de micro e pequenas empresas, elas estão à frente em 35%. A situação econômica complicada vivida pelo país pode não apenas despertar o empreendedorismo como também revelar novos nichos de mercado.
Esse foi o caso da estudante de pedagogia e dona de casa, Dayane Silvério Machado, de 24 anos, que pratica crochê para auxiliar na renda de casa. Dayane conta que aprendeu a arte do crochê desde pequena com a mãe, mas acerca de uns dois ela comercializa o trabalho artesanal.
“Sempre gostei de fazer crochê e fazia as peças para mim, para familiares, amigos. Um dia resolvi postar uma foto no meu Facebook, e as pessoas começaram a comentar e a elogiar as peças, por isso percebi que poderia investir nisso como fonte de renda”, diz.
Atualmente, por ser época de frio, Dayane recebe mais encomendas de toquinhas de lã para crianças, mas ela produz objetos decorativos para cozinha, banheiro entre outras peças.
“Eu recebo encomendas de todos os tipos e por isso tenho que sempre pesquisar, me informar, e aprender, às vezes eu não sei como fazer aquela peça que o cliente deseja, mas vou lá, compro o fio e começo a trabalhar na peça até que fique o desejado”, argumenta.
Mas no sentido de valorização do trabalho manual, Dayane afirma que não sente uma valorização das pessoas por arte do trabalho por ela realizado.
“É um pouco complicado isso, porque eu deixo de sair, fazer outras coisas, dedico meu tempo nisso, e preciso me dividir entre as tarefas de casa, a faculdade, e as encomendas, mas já houve casos em que o cliente solicitou um produto, eu dediquei tempo, investi dinheiro no material e depois o cliente não pagou”, relata.
Quem também desde sempre ajudou a sustentar a casa e os filhos com o trabalho manual é a artesã Juraci Martins Lisboa, de 63 anos. Juraci aprendeu aos 13 anos com a irmã o ponto cruz, e aos poucos foi desenvolvendo outras técnicas.
“Eu mesma produzi todo o meu enxoval do casamento, e também fiz todo o jogo de bebê dos meus filhos e dos netos. Teve um tempo em que eu trabalhava fora e ainda assim eu fazia meus crochês e cuidava da casa. Eu recebia encomenda de tudo que é coisa, e na época não tinha revista, internet como agora, às vezes eu desenhava em uma folha como teria que ficar e depois fazia a peça”, conta Juraci.
Juraci desenvolveu técnicas próprias no trabalho que realiza, pois no início o acesso a materiais para aprender era mais difícil, hoje ela faz corte costura, tapetes, bordados, crochê, tricô, dentre outras peças.
“Eu vejo isso como uma terapia, eu sou muito feliz fazendo isso, já pensei muitas vezes em parar porque é cansativo, mas eu amo o que faço. A primeira coisa que comprei com o dinheiro das vendas que eu faço foi um liquidificador, eu nunca esqueço. Sempre tive meu dinheirinho e ajudei em casa, e faço isso por amor, sou artesã, e sou feliz”, finaliza.
Não são as grandes empresas que movimentam a economia. São os pequenos negócios que sustentam o nosso país, são as pequenas ações como a de Dayane e Juraci, o trabalho de artesão, faz com que estes artistas, que assim podem ser chamados, estejam muito bem distribuídos e consigam se manter em momentos de crise. É interessante o que a crise fez com as pessoas, elas não estão empreendendo por hobby, mas por necessidade, e acaba dando certo. Então, um negócio que surgiu pela necessidade acaba se expandindo e se tornando lucrativo, e às vezes até milenar, porque um ofício aprendido passa de geração em geração, é memória, história, é nome, é gente, é o que se faz.