Vanessa com as filhas Talita e Emely | Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

Por Nara Coelho

Pode-se discutir se ele é nato ou socialmente construído, mas é indiscutível que o amor de mãe é único, intenso, pleno, eterno e meigo, doçura, força, garra, energia,capaz de enfrentar qualquer situação por seus filhos.

Não importa se é mãe biológica ou do coração, pois o amor é sempre imenso. Fatos do Iguaçu decidiu contar a história de uma mãe reservense que abriu mão de seus sonhos para garantir que as filhas pudessem crescer e sonhar, até porque desistir, abrir mão, amar sem limite, suportar a dor para ver um sorriso do filho é coisa de todas as mães.

DE REPENTE, MÃE

Vanessa hoje tem 32 anos, aos 17 morava com seus pais, Adolfo e Iracema Blém no interior de Reserva do Iguaçu e decidiu vir morar com um irmão na sede para poder trabalhar.

Aos 19 anos conheceu um rapaz, desse relacionamento nasceu a pequena Talita, e com um roteiro muito conhecido das mulheres, o genitor não assumiu. “Criei ela sozinha praticamente, foi complicado, pois eu tentava deixar ela na creche e ela chorava muito”.

Vanessa fala sempre bem calma e tranquila, sorri pouco, mas quando sorri, seu sorriso é largo, expansivo e quando fala das filhas seus olhos brilham. “Quando a Talita estava com um ano, seus olhos inchavam muito, vi na televisão a campanha da pintinha no olho fiz a foto dela e notei que ela tinha o esbranquiçado, eu levava ela no médico e eles diziam que ela era saudável, que era coisa da minha cabeça”.

Mãe é assim, atenta, observa detalhes e foi observando a filha caminhar, com um ano e meio Vanessa notou que ela batia nos objetos e paredes. Como toda mãe, ela insistiu com o médico e esse encaminhou para Guarapuava, que também não descobriram nada, mas mãe tem sexto- sentido e Vanessa sabia que tinha algo errado. “Deus colocou um anjo bom no meu caminho, na época a Suzana trabalhava na saúde e ela foi meu apoio, fosse de madrugada, final de semana estava lá, sempre pronta a me ajudar”.

A Notícia

Foi a Suzana Andria, que hoje é a secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do município de Reserva do Iguaçu-PR , que conseguiu um encaminhamento para Curitiba e lá Vanessa recebeu o diagnóstico, Talita tinha um tumor ocular e precisava ser tirado seus dois olhos, sua pequena de dois aninhos ficaria cega. “A noticia tirou meu chão, eu só imaginava a dor dela, como seria a vida dela, foi muito, muito doido, eu chorava muito, mas sabia que precisava ser forte, por ela, o meu amor por ela me deu forças para enfrentar toda aquela situação”.

No primeiro momento Vanessa não queria aceitar a ideia da filha perder a visão, não queria autorizar a cirurgia, mas, diante da possibilidade de perde-la e dela sofrer mais ainda encontrou forças e autorizou a retirada do tumor e do globo ocular.

ALÉM DA CIRURGIA QUIMIO E RADIOTERAPIA

Após a cirurgia, Talita teria que passar por um ano de quimioterapia e radioterapia e o médico foi bem realista.

“Se ela não tirar os olhos, o tumor vai invadir o cérebro e matá-la, mas é preciso que você tenha consciência que dificilmente ela vai suportar a quimioterapia e a radioterapia”.

Com sua calma, contou que não foi nada fácil ouvir essas palavras. “Foi terrível, mas eu decidi que ia dar tudo de mim e ia estar ali com ela e que meu amor daria forças a nós duas”.

Vanessa passou mais de um ano em Curitiba, sozinha com Talita, numa pensão enfrentando juntas o tratamento. ”Ela me ensinou a ser mãe, ela me ajudou a amadurecer, crescer, melhorar”.

A SUPERAÇÃO

Talita superou tudo e hoje é uma bela jovem de 12 anos, estudante do sétimo ano, uma aluna exemplar, uma menina independente que ajuda a mãe nos afazeres domésticos, que adora ler, que cuida de suas coisas e tem como amiga inseparável a pequena Emely. “Ela é muito inteligente, tenho muito orgulho dela”, faz questão de contar Vanessa com os olhos brilhando e um sorriso.

Vanessa com as filhas Talita e Emely | Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

Vanessa com as filhas Talita e Emely | Foto: Nara Coelho/Fatos do Iguaçu

UM NOVO AMOR

Diante do problema o pai de Talita ajudou um pouco, mas faleceu. Nessa difícil jornada ela conheceu outra pessoa e tentou um novo relacionamento, e desse relacionamento veio a Emely, menina meiga e super carinhosa, que tem seis anos. “Eu estava grávida e ia para Curitiba levar a Talita fazer as quimios, acho que isso aproximou elas, pois hoje estão sempre juntas”.

Vanessa contou que na época ela sabe que muita gente achou que ela ficar gravida foi loucura, “Ter a Emily foi muito bom, pois ela é a companheira da Talita e as duas são minha razão de existir”.

UMA NOVA DIFICULDADE

Hoje a vida está um pouco mais tranquila, com a ajuda de muita gente, Vanessa conseguiu fazer uma casa, mas, como mãe sempre tem que estar pronta para a luta, hoje Vanessa tem que usar aparelho auditivo nos dois ouvidos, pois está perdendo completamente a audição.

MINHA RAZÃO DE VIVER

Quando pergunto se ela não tem raiva, não ficou brava com Deus por tudo que já enfrentou ela responde: “Minhas filhas são tudo para mim, são presentes, agradeço por elas serem minhas, tudo vale a pena por elas”.

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