Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

LOROTA – O erro é uma assinatura humana quando ele é francamente reconhecido por aquele que errou. Não apenas isso. O sujeito, com esse ato almeja, acima de tudo, o acerto. É nesse sentido que errar é humano. Agora, errar e usar essa afirmação, de que todos humanamente erram, pra justificar o seu desacerto, com o perdão da palavra, não passa dum cinismo suíno, dum subterfúgio diabólico para nos distanciar da verdade, agrilhoando nossa alma junto às sombras da farsa e do autoengano.

PAIS E MÃES DE BARRO – É incrível como muitos pais – muitos mesmo – confundem bajulação cretina com educação zelosa.

Resumidamente, essas almas levianas assim procedem pra tentar disfarçar o seu desdém contínuo pela educação de seu filho; é uma estirpe de gente que, frequentemente, ao fim de cada ano, faz aquele cirquinho que, no frigir dos ovos, convence apenas a eles mesmos e a mais ninguém de sua suposta preocupação com o destino do seu pimpolho.

Ah! Se elas soubessem o quão ridículo é esse papelão que sazonalmente é encenado por elas; teatrinho fútil onde tentam, com aquela conversa mole, demonstrar um amor incondicional que, no correr dum ano inteiro não se fez presente através de atos concretos que refletissem realmente a postura duma pessoa que amorosamente zela pela formação de seu rebento.

Na verdade, esse tipo de teatrinho bufo, que tanto se repete em nosso país ao final de cada ano, apenas realça os traços deformados e deformantes dessas pútridas almas fantasiadas de pais que, por mais que tentem dissimular o contrário, pensam apenas nelas mesmas e, raramente – pra não dizer nunca – lembram-se de que educar seus filhos é, também e principalmente, um grave dever seu; não da sociedade que, por sua deixa, dificilmente poderá dar aos infantes o que lhes foi sonegado no lar por aqueles que dizem amá-los.

MEDALHÃO – Quando alguém diz, genericamente, naquele tom de imodéstia e ironia, que muitos livros versam sobre isso ou aquilo – sem ao menos citar um de alguma relevância – é porque a alma incauta foi surpreendida por um dado que ela até então ignorava.

Todo indivíduo cheio de cacoetes mentais advindos duma cultura de medalhão, quando é pego de surpresa se vê abalado em seu pedestal de sapiência postiça; pedestal esse fundado tão somente na repetição de um ou mais lugares comuns aceitos pelos tolos diplomados como legítimos devido a sua repetição incessante e hipnótica.

Enfim, o caboclo escuda-se com uma frase evasiva em misto com uma cara feia pra reforçar para si a banalidade que ele aceita como uma incontestável verdade.

A ÁGUA E O PEIXE – Uma das constantes mais profundas da sociedade brasileira é um desprezo soberbo pelo conhecimento em misto com um desejo irascível e histriônico de exibir-se como sendo portador duma sabedoria que nunca fora cultivada pelos caiporas e que não é, de modo algum, almejada por eles.

O ABISMO DA EDUCAÇÃO – Uma das coisas mais fascinantes nessa terra de desterrados é a frequente visão que temos de uns pares de punhado de analfabetos funcionais discutindo algo que ouviram falar, ou que lhes foi informado por outro analfabeto – esse, diplomado – a respeito da obra dum grande escritor, ou de algum filósofo, ou sobre algum acontecimento político e/ou histórico.

É coisa linda de se ver porque basta que os infelizes repitam várias vezes certas palavras que essas funcionam como uma espécie de conjuração.

Palavras como “opinião crítica”, “consciência crítica”, “diversidade”, etc., tem um efeito mágico nesses tipos de tontos. Dizendo-as todos os dias nas mais variadas situações eles realmente acabam se convencendo de sua “criticidade” – seja lá o que isso for.

E esse tido de impostura, junto com outras tantas, em grande medida, explica porque continuamos avançando para o abismo da estultice recorde a cada novo exame do PISA.

Enfim, aqui, nessa terra de tupinambás, sabe-se muito bem como se faz uma pose afetada de sabido, como julgar os outros através de rótulos politicamente corretos e, inclusive, sabe-se protestar e fazer uma assembleia, mas não se sabe ler, nem escrever uma frase minimamente coerente e, muito menos, calcular o tamanho da tragédia da educação nacional.

GENTE CRÍTICA DE DOER – Desconfio sempre dos ditos intelectuais engajados, comprometidos com essa ou aquela causa, que vivem repetindo aqueles surrados chavões que foram aprendidos em sua mocidade e que, sobre os quais, construíram todo a sua carreira de intelectual. Gente assim é uma farsa do princípio ao fim e, de um modo geral, são muito mais aluados engajados que intelectuais de fato; apesar de, no Brasil atual, intelectual ser praticamente um sinônimo dessa enfadonha realidade.

(*) professor, cronista e bebedor de café.

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