Humberto Silva Pinho

Por Humberto Pinho da Silva

Certa ocasião fui convidado por casal amigo, para almoçar. Ele, ocupava cargo de relevo numa empresa pública; ela, era professora.

Durante o repasto a conversa descambou para a política, e como lhes dissesse que não era apolítico, e nunca militara num partido, nem movimento, ela me disse:

-“Tudo que se escreve ou se diz, é política. Atitude ou opinião que se exprime, mesmo que se pense que nada tem com política, já o é.”

Como a prosa continuasse abordando as características do bom político a mulher acrescentou:

-” Muitos que se filiam num partido têm pouca ideologia a fim; mas desejam ocupar cargo importante – o que é humano, – se não se milita num, nunca será chamado para nada…”

Nisso foi interrompida pelo marido:

– ” Não basta ser militante, é preciso ter talento. Ser bom profissional… Mas é verdade que só são escolhidos os que se conhece. Ilustre desconhecido, que permanece no remanso de sua casa, por mais competente que seja, nunca será chamado para nada, porque ninguém o conhece.

Lembrei-me, então, de meu pai, que se carteava com nomes sonantes da literatura lisboeta. Estes, várias vezes diziam-lhe; ” desça à Capital, escrevendo em matutino do Norte, será sempre um provinciano.”

Resolveu bater à porta de velho amigo de infância, pessoa de peso na vida política.

Este respondeu-lhe que era amigo de editores e jornalistas da Capital, e com gosto o apresentaria a alguns.

Porém esclareceu:” Prometes-me que não vais escrever artigos que cheirem a sacristia, nem crónicas piegas e moralistas; trata temas sociais de combate: Tens um estilo peculiar, que ronda a poesia, não o alter, porque é muito apreciado.”

Meu pai – segundo me disse, – agradeceu a gentileza, mas preferia ser provinciano, do que ” descer” à Capital. Como católico não escreveria artigos, que a consciência reprovasse.

Era homem que preferia defender seus princípios, do que a glória da Capital.

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