Por Marcos Serpa
Quando vi, ele estava parado,
Olhando firme, a cabeça meneou,
Estrela branca no testado
Sutilmente o chão escarvou,
Pelos arreios era argentino,
Enroscadas, as chilenas de prata.
Irrequieto, vistoso, pelo fino,
A cola lembrava uma cascata.
O tempo parou, e eu extasiado,
Admirando e ele esperando,
A passito foi saindo meio de lado,
Logo adiante, saiu galopando,
Eu guri, de dentro do açude,
Com a água pelo peito
Nas pontas dos pés, me ergui como pude,
Olhando ele saindo com garbo e jeito.
Tinha nítida impressão
Que me convidava a montá-lo,
Mas que diabo! Pensei de supetão,
Como sair pelado e montar o cavalo?
E o dono? Já moço havia me certificado,
Pra enamorar ele teria de olhar,
Um milhão de vezes espichado,
Pra quem sabe um dia cortejar.
“Certos desafios não aceito,
Nem passo cerca de campo alheio,
Sou assim e não tem jeito,
Malsinado, “aporreado e sem costeio.”.
Outro apareceu a trote pela campina,
Eu tava solito, desatolando um boi,
Devagar e amassando maçanilhas,
Pateou um cupim e também se foi,
A prata do basto ao sol brilhando,
Oiga-le queixo negro, interesseiro,
Com olhar esguio me convidando,
A bolear perna no seu baixeiro.
Deixei ir sem largar a lida
Entendo – sou gaudério complicado,
Só monto quando quero nesta vida,
Seja por arisco e desconfiado,
Recusei até proposta do patrão,
Para assumir como capataz
Apesar da insistência, disse não,
Deixando ali somente meu bom cartaz.
Botei no ombro minha mala
Fui embora a pé, mundo afora,
Na cinta, o justiceiro das falas,
Nos peçuelos, um par de esporas,
Rodei o mundo, pelas estancias,
Sem saber o que procurava
Sobrevivi com muita constância
Estradeando a sina que me dominava.
Agora num rancho de chão batido
Mateando remoo a vida gaviona,
Ao longe, um zebu e seu mugido,
Relinchos ao fundo, da égua lazona,
O tempo veio com ele melenas de prata,
Tranço a vida, mas não embuçalo,
Ainda procuro um baio cola em cascata,
Porém, sendo iguais: não poderei domá-lo…
Lua Crescente – Junho-2018