Há certas verdades que estão diante de nossas ventas e, mesmo assim, sabe-se lá por que cargas d’água, nos recusamos a enxergá-las.

Algumas delas são de interesse meramente pessoal e, por isso mesmo, cada um sabe onde o seu sapato aperta ou, ao menos, deveríamos saber e, por teimosia, preferimos fingir que não há nenhum calo existencial nos incomodando no garrão de Aquiles da nossa vida.

Agora, existem algumas verdades que dizem respeito a todos nós. Verdades essas que se forem ignoradas não apenas tornarão a nossa vida uma grande meleca, mas melecará a vida de muitos.

Uma delas é a seguinte, tome nota: é impossível ensinar algo para alguém que não quer nos ouvir. Podemos pintar o sete, nos virar nos trinta, recitar mil e um encantamentos, utilizar toda ordem de traquitanas tecnológicas, não importa, se o indivíduo não quiser nos ouvir ele simplesmente fará aquela cara de paisagem para disfarçar a sua total indiferença, ou então, como ocorre em muitos casos, agirá de forma marota para divertir-se com nossa cara de pessoa desprezada.

Todos nós sabemos disso e, possivelmente, nós mesmos já tomamos uma dessas duas posturas diante de situações onde alguém se apresentava a nós para obter um cadinho da nossa atenção para nos ensinar algo que nós nos recusamos aprender.

Detalhe importante, importantíssimo: como nos recusamos a aprender. Meu Pai do céu! Somos legítimas taipas de pedra. Se fôssemos listar todos os assuntos que realmente, em algum momento, dedicamo-nos com integral atenção e confrontarmos com aqueles assuntos que desprezamos com todas as forças de nosso ser, iríamos ver, com vergonha e tristeza, que nosso impulso para ignorância presunçosa é imensamente maior que nossa inclinação para a procura abnegada e humilde pelo conhecimento sincero a respeito de qualquer coisa, seja ela de grande vulto ou de pequeno espectro.

Infelizmente, essa é a grande e terrível verdade: o desprezo pelo conhecimento, em nosso coração, é muito maior que nosso amor à ele, pouco importa a idade que tenhamos. Aliás, quanto mais velhos nos tornamos, maior é o nosso desamor ao saber, não é mesmo?

Por essa razão os antigos afirmavam que aquilo que não é aprendido por meio do amor, deveria ser assimilado através da dor.

O fato de nós ignorarmos a importância do aprendizado de algo não significa que esse algo não tenha importância alguma. Muito pelo contrário, na maioria das vezes são saberes imprescindíveis e, por isso, acabavam sendo ensinados através de outros caminhos não muito ortodoxos.

Dito de outro modo: quando, em tenra idade, nos recusávamos a enxergar certas verdades elementares, nossos pais – ou alguém que nos amava e queria o nosso bem – acabavam esfregando as abençoadas verdades em nossa cara para que as aprendêssemos de uma vez, porque é assim que se deve proceder quando a ignorância presunçosa coloca-se acima da verdade e no lugar da sã consciência.

Se rememorarmos nossos dias vividos, e realizarmos um modesto exercício de anamnese, iremos verificar com profunda gratidão que muitas das verdades fundamentais que hoje integram nossa personalidade, e dão alguma solidez ao nosso caráter, foram assimiladas por nós dessa maneira, por meio de pessoas que não temeram nos dar um sacolejo para nos despertar de nosso arrogante torpor.

Sim, sei que não são poucas as pessoas que adoram ficar falando da importância do diálogo na realização dessa tal de educação, porém, para que um diálogo possa existir, os participantes devem estar necessariamente despertos, não dispersos. Por isso, muitas e muitas vezes, uns sacolejos ríspidos são imprescindíveis, uma legítima demonstração de amor sincero, indispensável para que um diálogo não acabe sendo apenas um sorumbático círculo vicioso e inconsequente que apenas degrada os seus interlocutores.

Por essa razão, o psiquiatra Paulo Gaudencio nos lembra que o sentimento que mais nos instrui, que mais nos educa, é o medo. O medo, não o pânico, nem o pavor. O medo de errar, o medo de não acertar, o medo de se perder e assim por diante.

Mas, como atualmente, a mentalidade contemporânea vê-se tomada pelos cacoetes politicamente corretos, muitas pessoas bem intencionadas acabam se preocupando muito mais com a imagem superficial que uma palavra bonitinha evoca em sua imaginação do que com a realidade concreta que ela nos revela, quando passamos a nos esforçar para ver as coisas como elas são e não como as línguas maliciosas dizem ser.

Infelizmente, quando o assunto é o ato de educar, o conselho de Santo Agostinho, que nos lembra que é preferível alguém nos repreende, porque nos corrige, do que alguém que nos bajula e paparica, porque nos corrompe, foi sumamente esquecido e varrido para debaixo do tapete da história como sendo mais uma “prática retrógrada” aos olhos daqueles que creem que se faz uma boa educação com estatísticas estranhas e badulaques pedagógicos esquisitos.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela

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